Viana de Carvalho
Numa época quando a divulgação da Doutrina Espírita ensaiava os seus
primeiros passos e encontrava pela frente a mais obstinada oposição, o Major Dr.
Manuel Viana de Carvalho, com pulso firme e animado do mais vivo idealismo,
desbravava o terreno para nele lançar a semente generosa da propaganda.
Como espírita foi dos mau animosos. 0 seu nome representou verdadeira
bandeira no campo da disseminação do Espiritismo. 0 que ele fez, em vários anos
de luta e de atividades intensíssimas, é algo que ainda não se pode colocar em
dados estatísticos, tal o gigantismo da tarefa por ele desenvolvida em todo o
país.
A sua palavra era atraente e arrebatadora, conseguindo, entre os espíritas
uma penetração inusitada e inconfundível. Como conferencista era dos mais
requisitados; como polemista, um dos mais salientes. Seu verbo inspirado, sua
voz harmoniosa, sua animação, assumiam, às vezes, tonalidades e aspectos
impressionantes. Foi na realidade um mágico da palavra, esteta do sentimento.
Viana de Carvalho fez os primeiros estudos de Humanidades no Liceu de
Fortaleza. Posteriormente, em 1891, matriculou- se na extinta Escola Militar do
Ceará, onde mereceu classificação de destaque pelo seu comportamento e
merecimentos intelectuais.
Embora desde 1891 tivesse dado início à sua gigantesca tarefa de divulgação
do Espiritismo, ela somente tomou vulto após ter- se matriculado no curso
superior da antiga Escola Militar da Praia Vermelha, em 11 de fevereiro de 1895.
Nessa época funcionava no Rio de Janeiro o “Centro da União Espírita de
Propaganda no Brasil”. Integrando- se nesse grupo, Viana de Carvalho passou a
proferir conferências que conseguiam atrair compactos auditórios de mais de 500
pessoas. No ano de 1896 foi transferido para Porto Alegre, como aluno da Escola
Militar que ali funcionava.
Naquela capital sulina o Espiritismo já era difundido por alguns pioneiros,
dentre eles Joaquim Xavier Carneiro, dirigente do Grupo Espírita Allan Kardec,
que dada a sua austeridade de costumes e práticas humanitárias exercia enorme
influência. De posse de uma lista com nome e endereço de simpatizantes do
Espiritismo, Viana de Carvalho conseguiu reunir todos numa casa abandonada,
desprovida de mesas e cadeiras. De pé, os freqüentadores das reuniões ouviam,
com verdadeiro enlevo, o seu verbo inflamado. Posteriormente conseguiu formar um
núcleo de estudos que passou a funcionar no andar térreo de uma casa no centro
da cidade.
Em 1898 publicou a sua primeira produção literária “Facetas”, contos e
fantasias. Em seguida publicou “Coloridos e Modulações”. Nesse mesmo ano foi
transferido para o Rio de Janeiro, onde recomeçou as preleções no Centro da
União Espírita e em outros grupos, participando de um congresso e encetando
numerosas viagens ao interior do Estado do Rio de Janeiro.
Transferido para Cuiabá, Mato Grosso, ali fundou o Centro Espírita Cuiabano.
Em 1907, regressou ao Rio de Janeiro a fim de matricular- se no curso de
engenharia da Escola do Realengo, tornando- se o orador oficial da Federação
Espírita Brasileira, realizando ainda viagens aos Estados do Rio de Janeiro, São
Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Foi ainda colaborador assíduo da revista
“Reformador”.
Após concluir o curso de engenharia militar, rumou para Fortaleza, Estado do
Ceará, em abril de 1910. Ali iniciou uma série de conferências espíritas na Loja
Maçônica e, no dia 10 de junho, fundou o Centro Espírita Cearense. Não
satisfeito com as atividades desenvolvidas, criou ainda os jornais “Combate” e
“Lábaro”, o primeiro destinado a contestar os argumentos do clero católico, que
nessa época desencadeava uma campanha difamatória contra o Espiritismo, através
do órgão “Cruzeiro do Sul”; a segunda publicação destinada a difundir o
Espiritismo. Através dos jornais “O Unitário”, “A República” e “Jornal do
Ceará”, manteve vivas polêmicas, refutando argumentos infundados sobre o
Espiritismo. Suas atividades em Fortaleza perduraram até novembro de 1911,
quando, por imposição do serviço militar foi transferido para Curitiba, no
Paraná, onde sustentou o mesmo nível de atividades, publicando artigos diários
no “Diário da Manhã”.
De volta ao Rio de Janeiro, em 1912, deu início a um persistente trabalho de
unificação dos grupos espíritas, do qual resultou a fundação posterior da “União
Espírita Suburbana”, sob a presidência de Manuel Fernandes Figueira. Em
princípios de 1913, foi servir em Maceió, onde proferiu numerosas conferências e
encetou verdadeira jornada no sentido de reorganizar os grupos espíritas
dispersos ou com falta de orientação.
Pouco depois era transferido para Recife, Pernambuco, onde deu prosseguimento
à sua tarefa de divulgação, publicando numerosos trabalhos, fazendo conferências
e mantendo polêmicas que abalaram os meios religiosos da cidade. Regressando ao
Rio de Janeiro, Viana de Carvalho retomou a pregação da Doutrina Espírita nos
subúrbios, o que fez de 1914 a 1916, quando foi transferido para Santa Maria da
Boca do Monte, no Estado do Rio Grande do Su1. Ali também teve a oportunidade de
reorganizar e fundar vários grupos espíritas e de realizar conferências que
foram publicadas no “Diário do Interior”, e posteriormente em outros órgãos da
imprensa gaúcha.
Em 1917, de novo no Rio de Janeiro, ali desenvolveu intensa campanha contra
as fraudes e trapaças dos pseudos- espíritas. No ano seguinte voltou para Santa
Maria da Boca do Monte, em comissão do Governo Federal, junto à 9a. Brigada de
Infantaria, desenvolvendo durante quinze meses intensa difusão do Espiritismo.
Em 1919, novamente em Maceió, foi surpreendido com as atividades dos
detratores do Espiritismo, os quais tentaram proibir- lhe as palestras e até
mesmo expulsá- lo. Sem esmorecimentos travou intensos debates pela imprensa e
pela tribuna, sustentando acirradas polêmicas, tendo, nessa altura, os seus
opositores pleiteado, no Rio de Janeiro, a sua transferência, tendo ele sido
removido para o Estado do Paraná, em meados desse mesmo ano.
Em Curitiba realizou conferências no Teatro Alemão, na sede da Federação
Espírita do Paraná e em outras instituições. Através do “Diário da Tarde”
publicou uma série de artigos doutrinários que tiveram muita penetração.
Da capital paranaense veio para S. Paulo, onde proferiu várias palestras,
muitas delas com o comparecimento de mais de mil pessoas. Em 1920 voltou
novamente ao Rio de Janeiro, de onde partia para proferir conferências em
cidades vizinhas.
Em 1923, seguiu para Recife, reorganizando os Centros Espíritas ali
existentes, mantendo novas polêmicas com detratores do Espiritismo.
Posteriormente rumou para o Ceará e daí para Sergipe, onde fora designado para o
comando do 28.o. B.C., em 1924. Nesse Estado as suas atividades também foram
amplas.
Em 1926, adoeceu gravemente, ficando decidido o seu recolhimento ao Hospital
de S. Sebastião, em Salvador. Suas forças estavam periclitantes. Conduzido ao
navio “Íris”, por colegas oficiais e soldados, não conseguiu entretanto chegar
ao destino, pois, na altura de Amaralina, desencarnou a bordo, sendo seu corpo
dado à sepultura na Bahia.