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Anália Franco

Anália Franco

Seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após consorciar- se em
matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália Franco
Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco.

Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e logrou
aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente
de sua própria mãe durante algum tempo. Anteriormente a 1875 diplomou- se
Normalista, em S. Paulo.

Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou: a
vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e
poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas
estavam previamente destinados à “Roda” da Santa Casa de Misericórdia. Já
perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os negrinhos expulsos
das fazendas por impróprios para o trabalho. Não eram, como até então
“negociáveis”, com seus pais e os adquirentes de cativos davam preferência às
escravas que não tinham filhos no ventre. Anália escreveu, apelando para as
mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo na Capital de São Paulo por outro no
Interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas.

Num bairro duma cidade
do norte do Estado de S. Paulo conseguiu uma casa para instalar uma escola
primária. Uma fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com uma condição, que foi
frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças
brancas e negras. Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do
uso da casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à
altivez da professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua primeira e
original “Casa Maternal”. Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à
porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos. A
fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa,
embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar com
aquele “escândalo” em sua fazenda. Promoveu diligências junto ao coronel e este
conseguiu facilmente a remoção da professora.

Anália foi para a cidade e alugou
uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu
ordenado. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não
trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de manhã, à
pé, levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus escritos, de
“meus alunos sem mães”. Numa folha local anunciou que, ao lado da escola
pública, havia um pequeno “abrigo” para as crianças desamparadas. A fama, nem
sempre favorável da novel professora, encheu a cidade.

A curiosidade popular
tomou- se de espanto, num domingo de festa religiosa. Ela apareceu nas ruas com
seus “alunos sem mães”, em bando precatório. Moça e magra, modesta e altiva,
aquela impressionante figura de mulher, que mendigava para filhos de escravas,
tornou- se o escândalo do dia. Era uma mulher perigosa, na opinião de muitos.
Seu afastamento da cidade principiou a ser objeto de consideração em rodas
políticas, nas farmácias. Mas rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e
republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas.

Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no Interior, veio
para S. Paulo. Aqui entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e
republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua preocupação maior era com
as crianças desamparadas, o que a levou a fundar uma revista própria, intitulada
“Álbum das Meninas”, cujo primeiro número veio a lume a 30 de abril de 1898. O
artigo de fundo tinha o título “Às mães e educadoras”. Seu prestígio no seio do
professorado já era grande quando surgiram a abolição da escravatura e a
República. O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios
gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram, ela,
secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que se
denominou “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva”, no dia 17 de novembro
de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo.

Em seguida criou várias “Escolas Maternais” e “Escolas Elementares”,
instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o “Liceu Feminino”,
que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a direção daquelas
escolas, com o curso de dois anos para as professoras de “Escolas Maternais” e
de três anos para as “Escolas Elementares”.

Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos
ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos quais as
professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das
crianças, instruindo- as ao mesmo tempo. O seu opúsculo “O Novo Manual
Educativo”, era dividido em três partes: Infância, Adolescência e Juventude.

Em 1o. de dezembro de 1903, passou a publicar “A Voz Maternal”, revista
mensal com a apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas
próprias.

A Associação Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário n.o. 18, em S.
Paulo, para a venda dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal desse
estabelecimento na Ladeira do Piques n.o. 23.

Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no
Interior, Escolas Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado,
Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso de
Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas (francês,
italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura,
Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições.

Era romancista, escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade de
livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos de
serem adotados nas Escolas públicas.

Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas
atinentes à Doutrina Espírita.

Produziu a sua vasta cultura três ótimos romances: “A Égide Materna”, “A
Filha do Artista”, e “A Filha Adotiva”. Foi autora de numerosas peças teatrais,
de diálogos e de várias estrofes, destacando- se “Hino a Deus”, “Hino a Ana
Nery”, “Minha Terra”, “Hino a Jesus” e outros.

Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a “Chácara
Paraíso”. Eram 75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o restante
ocupado com benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, ocupado
durante longos anos por uma das mais notáveis figuras da História do Brasil:
Diogo Antônio Feijó.

Nessa chácara fundou Anália Franco a “Colônia Regeneradora D. Romualdo”,
aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob
direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura, a horticultura e outras
atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim
regenerar centenas de mulheres.

A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em 71 Escolas, 2 albergues, 1
colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda
Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para
manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do Interior e da
Capital.

Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de
ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, idéia essa concretizada
posteriormente pelo seu esposo, que ali fundou o “Asilo Anália Franco”.

A obra de Anália Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e
meritórias da História do Espiritismo.