Dr. Augusto Militão Pacheco
Muito deve o Espiritismo ao Dr. Augusto Militão Pacheco, pelo testemunho que
deu da Doutrina dos Espíritos. Animado de uma fé imorredoura na vida espiritual
conseguiu prelibar, através da existência transitória do corpo, a vida imortal
do Espírito imperecível.
Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no ano de 1904, Militão
Pacheco foi nesse mesmo ano convidado a ir ao Estado do Maranhão a fim de ajudar
a debelar um surto de peste bubônica que grassava naquela região do norte do
Brasil. Apesar de não contar com qualquer espécie de hospital de isolamento nem
com condições adequadas para o combate àquela enfermidade contagiosa, dirigiu-
se para lá em companhia do diretor do Hospital de Isolamento de S. Paulo, dois
médicos mineiros e mais um outro, conseguindo marcante sucesso na tarefa. Nessa
altura foi convidado para ser diretor do Serviço Sanitário do Estado do Maranhão
pelo período de dois anos. Para lá transferiu- se com sua esposa e três filhos,
porém, renunciou após oito meses de atividades intensas, por não ver atendidas
as suas reivindicações, imprescindíveis para o bom andamento dos serviços.
Nos primeiros anos do presente século (não nos foi possível comprovar se em
1901 ou 1902), comparecendo a uma sessão espírita, ali lembrou- se de sua
filhinha desencarnada com apenas 52 dias de vida e formulou ardente solicitação
mental para que ela viesse beijá-lo. Sem que tivesse qualquer conhecimento do
desejo que alimentava, os médiuns videntes que ali estavam presentes, decorridos
alguns minutos descreveram que o Espírito da menina havia se dirigido ao pai e
ali estava cobrindo- o de beijos. Esse testemunho foi o suficiente para que
Militão Pacheco se convertesse ao Espiritismo.
Um outro fato veio mudar o rumo de sua vida, Sua esposa sofria, há alguns
anos, de pertinaz enfermidade e, para curá-la havia ele esgotado todos os
recursos que a medicina alopática lhe havia proporcionado. Visitando a família
do Juiz de Direito, de Campinas, ela teve ali uma das suas crises. A esposa do
juiz pediu permissão para recomendar- lhe um remédio homeopático. O remédio foi
comprado e o tratamento iniciado. Após essa ocorrência ela teve apenas duas
ameaças de crise e o mal desapareceu por completo. O Dr. Pacheco, que vinha
exercendo a medicina alopática há cinco anos, procurou o único médico homeopata
existente em Campinas, iniciando assim um estudo profundo sobre a homeopatia,
para o que conseguiu alguns livros a título de empréstimo. Dali por diante
deixou por completo de praticar a medicina alopática.
No dia 23 de julho de 1896, através de decreto assinado pelo então presidente
do Estado de S. Paulo, Jorge Tibiriçá e por Gustavo de Oliveira Godoy, Militão
Pacheco foi nomeado, em comissão, para exercer o cargo de inspetor sanitário do
Estado, cargo no qual foi efetivado a 26 de setembro do mesmo ano, exercendo- o
até 1920, quando se aposentou.
Durante mais de meio século, o Dr. Pacheco exerceu na capital paulista o
apostolado da Medicina. E dlizemos apostolado porque foi notável médico no
sentido cordial, humanitário, prestativo, dedicando- se inteiramente à tarefa de
auxiliar o seu próximo, conseguindo desta forma realizar gigantesco trabalho de
assistência individual e coletiva como poucos conseguiram realizar na Terra. O
prestigioso jornal “Diário de S. Paulo”, em sua edição de 27 de junho de 1944,
publicou extensa reportagem sobre as festividades comemorativas do
cinqüentenário de formatura e de exercício de profissão do Dr. Augusto Militão
Pacheco. Através de numerosos discursos proferidos na oportunidade, pudemos
conhecer verdadeiros rasgos de generosidade e de amor, partidos da figura
inconfundível daquele que tinha em alta conta a dignidade humana e o sacerdócio
da Medicina.
Foi sempre de incomparável bondade no tratamento de todos os seus incontáveis
clientes, retornando ao mundo espiritual abençoado por milhares de corações,
legando aos homens uma vida que se constituiu em verdadeiro modelo de virtude,
um exemplo incomparável de beleza moral, emanada de um caráter reto e de uma
decisão inquebrantável. Muitas pessoas que não podiam pagar consultas, eram
atendidas com igual dedicação e não raras voltavam com o auxílio financeiro para
a aquisição dos remédios prescritos por aquelas mãos abençoadas. No terreno
filosófico, conquanto fosse grande admirador de geniais pensadores de várias
escolas, pois era um cidadão independente e portador de invejável cultura
intelectual e científica, nunca negou a sua incondicional dedicação à Doutrina
Espírita, tornando- se um dos espíritas mais respeitáveis e dignos em nosso
Estado e mesmo no Brasil. Médico essencialmente homeopata, honrou e dignificou a
medicina hahnemaniana, tendo consagrado ao Espiritismo o melhor de sua
nobilitante e proveitosa existência. Era na realidade autêntica fonte
inexgotável destinada a suavizar as dores do corpo e minorar os sofrimentos da
alma.
Em julho de 1936, quando se cogitou da fundação da Federação Espírita do
Estado de S. Paulo, foi um dos elementos que mais propugnaram para essa
realização. A reunião convocada para apreciar a redação final dos estatutos
sociais e proceder à eleição da primeira diretoria, foi por ele presidida,
passando a figurar como um dos seus sócios fundadores e sido eleito vice-
presidente da primeira diretoria constituída. Durante muitos anos foi presidente
da Associação Espírita São Pedro e São Paulo, uma das mais prestigiosas
instituições espíritas de seu tempo, a qual posteriormente veio a se integrar na
Federação.