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Pedro de Camargo Vinícius

Pedro de Camargo Vinícius

Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, na
primeira metade do presente século, sem levar em consideração a personalidade
inconfundível de Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius.

Os seus primeiros anos de escolaridade foram feitos no Colégio Piracicabano,
educandário de orientação metodista, de fundação norte- americana. A diretora do
estabelecimento era então a missionária Martha H. Watts, de quem Pedro de
Camargo guardou sempre as mais caras recordações e grande admiração. São dele as
seguintes palavras extraídas de um artigo que escreveu por ocasião da
desencarnação daquela missionária, ocorrida nos Estados Unidos: “Sempre que se
oferecia ensejo de inocular princípios de virtude e regras de moral, era quando
se mostrava admirável, comprovando a rara e excepcional competência de que fora
dotada para exercer tão sublime missão.

Eu bem me lembro que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir
ou dissimular; as traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram-
lhe fielmente narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós sabia
exercer, sem jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem e o
devotamento com que praticava seu sagrado sacerdócio.

Muito lhe deve a sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex- alunos;
muito lhe devo eu.

Os princípios salutares de moral que me ministrou, assim como os conselhos
elevados que me dispensou com tanto carinho e solicitude durante minha infância,
repercutem- me ainda na alma como uma voz amiga que me dirige os passos, e por
isso, ao saber que ela já não mais vive na Terra, rendo- lhe este preito de
homenagem, simples e singelo, porém sincero e verdadeiro, como que desfolhando
sobre a campa da querida mestra umas pétalas humildes que em seguida o vento
arrebatará, mas cujo tênue perfume chegará até ela, levando- lhe o penhor de
minha gratidão pelo muito que de suas benfazejas mãos recebi.”

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Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura
Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de levar para lá famosos
artistas.

Jamais teve tendência para a política. Chegou a assumir uma cadeira de
Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do extinto
Partido Republicano. Como não quisesse “seguir outra disciplina que não fosse a
do dever, e ouvir outra voz que não a da razão e da consciência”, dizia ele mais
tarde — esse critério não serviu ao Partido, por isso não o quiseram mais.

Os estudos blíblicos eram metódicos no Colégio Piracicabano, de maneira que
Pedro de Camargo se tornou um dos maiores entusiastas dessa matéria, tornando-
se mais tarde uma das maiores autoridades no trato da exegese evangélica.

No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da
cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação.
Dentre os seus fundadores salientava- se a figura veneranda de João Leão Pitta.
O funcionamento dessa tradicional instituição acarretou a esse pioneiro uma
série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades religiosas,
chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, tão necessário para o
amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na eminência de completo
desamparo.

Um ano mais tarde, em 1905, Pedro de Camargo interessou- se pelo Espiritismo,
uma vez que nele encontrou a solução para tudo aquilo que constituía incógnitas
em seu Espírito. Tomando conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente
o empregou em sua loja de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de
armas de fogo que representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento
comercial.

Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade
natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação das verdades evangélicas à luz
da Doutrina Espírita. Nessa época passou a adotar o pseudônimo de Vinícius; suas
preleções eram estenografadas e logo em seguida largamente difundidas, fazendo
com que sua fama se propagasse por toda a circunvizinhança.

No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali
substituiu o confrade Moreira Machado na presidência da União Federativa
Espírita Paulista e, juntamente com Thietre Diniz Cintra, fundou uma escola para
evangelização da infância e juventude, tendo para tanto elaborado normas e
diretrizes para esse gênero de educação.

Em 1939 tornou- se um dos diretores do Programa Radiofônico Espírita
Evangélico do Brasil, levado ao ar, diariamente, através da Rádio Educadora de
S. Paulo. Em 31 de março de 1940, quando a União Federativa Espírita Paulista
fundou a Rádio Piratininga, emissora de cunho nitidamente espírita, Vinícius foi
eleito seu diretor- superintendente e, em companhia de outros valores do
Espiritismo paulista, orientou aquela emissora e seu programa espírita diário
até o ano de 1942.

Nessa época Vinícius já havia se integrado na Federação Espírita do Estado de
S. Paulo, tornando- se um dos seus conselheiros e ali introduzindo as suas
“Tertúlias Evangélicas”, realizadas todos os domingos de manhã, com apreciável
assistência que invariavelmente superlotava o seu salão.

Durante muitos anos, foi delegado da Federação Espírita Brasileira, em S.
Paulo, representando- a em todas as solenidades onde a sua presença se fazia
necessária.

Quando a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, em março de 1944, lançou o
seu órgão “O Semeador”, Vinícius foi designado seu diretor- gerente, cargo que
desempenhou durante mais de uma década, emprestando àquele jornal a sua
costumada cooperação.

Em outubro de 1949, em companhia de Carlos Jordão da Silva, integrou a
representação do Estado de S. Paulo junto ao II Congresso Espírita Pan-
americano, conclave de grande repercussão que se realizou no Rio de Janeiro. No
ensejo desse acontecimento, reuniram- se na antiga Capital Federal várias
representações de entidades espíritas de âmbito estadual, as quais, numa feliz
gestão, conseguiram materializar o sonho de muitos seareiros espíritas, criando
o Conselho Federativo Nacional e assinando o célebre Pacto Áureo de Unificação.
Pedro de Camargo foi um dos signatários desse importante instrumento de
pacificação espírita nacional, no dia 5 de outubro de 1949.

Vinícius foi assíduo colaborador de numerosos órgãos espíritas. De sua
bibliografia destacamos os livros: “Em torno do Mestre”, “Na Seara do Mestre”,
“Nas Pegadas do Mestre”, “Na Escola do Mestre, “O Mestre na Educação”, e “Em
Busca do Mestre”, obras de marcante relevância no campo da divulgação
evangélico- doutrinária.

A sua ação se fez sentir vigorosamente quando se cogitou da fundação de uma
instituição educacional espírita. Lutou durante muitos anos por esse ideal.
Exultou- se com a fundação do Educandário Pestalozzi, na cidade de França,
entretanto, o seu sonho concretizou- se quando da fundação do “Instituto
Espírita de Educação”, do qual foi presidente. No âmbito desse instituto foi
fundado o “Externato Hilário Ribeiro”, em cuja direção permaneceu até o ano de
1962.

A par de todas essas atividades, Pedro de Camargo ocupava assiduamente as
tribunas das instituições espíritas, principalmente as da Capital do Estado,
tornando- se um dos oradores mais requisitados e o que sempre conseguia atrair
maior assistência. Homem dotado de ilibado caráter, comedido em suas atitudes e
de moral inatacável, tornou- se, de direito e de fato, verdadeira bandeira do
movimento espírita. Quando seu nome figurava à testa de qualquer realização,
esta infundia confiança e respeito, dada a indiscutível projeção do seu nome e a
sua qualidade de paladino das causas boas e nobres.

Vinícius também teve notória atuação no campo da assistência social espírita,
situando, entretanto, em primeiro plano o trabalho em prol do esclarecimento
evangélico- doutrinário, imprescindível à iluminação interior dos homens.