Enredamentos Perigosos
Toda obra do Bem, no delineamento de propósitos,
é nobre e transcendente, esmaecendo porém, quando se corporifica mediante a
ação humana.
Sensibilizado pelos ideais de engrandecimento espiritual, o indivíduo
emociona-se e procura entregar-se completamente, sonhando em tornar-se o
instrumento da inspiração superior e, à vezes, consegue-o.
No entanto, porque é Espírito em rudes provas, embora os sentimentos que
o animam, imprime as dificuldades pessoais, colocando sombra e empeços no
labor a que se entrega.
Assim sendo, é compreensível que defrontemos no trigal dourado o
escalracho infeliz, e na claridade do dia triunfante a nuvem carregada de
sombras a impedir-lhe a irradiação da luz.
A Terra ainda não é o habitat, mas o educandário de homens e mulheres em
lutas interiores, tentando arrancar a ganga externa para que brilhe a gema
pura que lhe jaz no interior aguardando o momento de desvelar-se.
Valiosos e digno de encômios esse esforço hercúleo pela auto-superação,
quando se constata o expressivo número daqueles que se escravizam aos
comprometimentos torpes quão criminosos, que lhes exigirão oportuna
reparação penosa.
O Senhor da Vinha não aguarda que venham cooperar com Ele os
trabalhadores destituídos de mazelas ou imperfeições, pois que esses são
raros, por isso aceita todos quantos despertam para a sua mensagem e se
dispões a servi-lO.
Jesus conhecia a fraqueza moral de Pedro, todavia, convidou-o para o
banquete da Boa Nova.
Francisco Bernardone vivia uma existência frívola e atormentada; apesar
disto, doou-se, e, superando-se, tornou-se Sol medieval a clarear o futuro
da humanidade.
Maria de Magdala, mesmo depois de O seguir, não ficou livre da suspeita
nem da crítica severa do grupo no qual se movimenta.
Jesus aceitou-os a todos e transformou-os com o tempo em pilares da sua
doutrina.
Descobrir o lírio no pantanal e a estrela além da tormenta constitui
desafio para quem se candidata ao crescimento interior.
Nesse mister, surgem enredamentos perigosos, que complicam a marcha e
dificultam a ascensão dos obreiros.
Dentre outros, a censura mórbida, constante, e a intriga perversa,
intoxicam as melhores intenções e asfixiam muitos ideais em desenvolvimento.
São responsáveis pela crueldade da destruição de obras abençoadas e de
esforços relevantes que são vencidos.
O cupim perseverante vence a madeira que sucumbe ao seu trabalho
insensível.
Assim é a ação da maledicência impiedosa e insistente.
Para romper-se essa rede constritora, é necessário que o amor se
compadeça do vigia dos atos alheios sempre pronto e a zurzir o látego, como
se fosse inatacável.
Não te deixes contaminar pelo pessimismo nem pela censura contumaz que te
tragam ao coração.
Tem paciência e dá-te conta que o acusador gratuito não ama, não coopera,
apenas cria embaraços.
Ajuda em silêncio e confia em Deus, fazendo a tua parte da melhor forma
ao teu alcance.
É mais valioso que teu próximo esteja tentando agir bem e auxiliar,
apesar dos erros que comete, do que se estivesse no outro lado, entre os
desequilibrados que aguardam a tua ajuda.
Viver em harmonia em um meio social – seja qual for, já que em todos eles
existem dificuldades a vencer – constitui desafio para a evolução.
Ampara, portanto, o teu irmão que pensa em ser útil e ainda não o
consegue, ao invés de hostilizá-lo, combatê-lo, semeares espinhos por onde
ele segue ao levá-lo a julgamento público arbitrário pelos contumazes
desocupados que se contentam em demolir.