A Serpente e o Sábio
Contam as tradições populares da Índia que
existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar
por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus,
buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo. A serpente o
atacou, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:
– Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.
A víbora recolheu-se, envergonhada. Continuou o sábio o seu caminho e a
serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo
homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente
pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela. Quando lhe
identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe
pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa,
desanimada. Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou
visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe,
então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as
criaturas peseguiam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouví-la:
– Mas, minha irmã, ouve um engano de tua parte. Aconselhei-te a não
morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te
disse que evitasses de assustar os maus. Não ataques as criaturas de Deus,
nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra
do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso à
distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos.