Amor: essência divina
A busca constante do conhecimento faz parte da existência humana. Estamos
sempre procurando aprender mais e mais. Por muitas vezes, esse processo faz-se
mais fácil, por termos hoje instituições de ensino bastante avançadas em muitas
áreas.
Há no entanto, outras áreas onde o conhecimento é obtido apenas através de
extensas pesquisas, observações e deduções, uma vez que
podemos não dispor de todas as condições necessárias para o aprendizado
imediato.
Como exemplo, citamos o conhecimento sobre nossa pré-história, que obviamente
não pode ser feito sob observação direta, mas através da análise das pistas
deixadas por nossos ancestrais. Dessa forma, sem mesmo termos visto um deles,
aprendemos muito sobre sua forma de vida e subsistência, o período em que por
aqui estiveram, apenas observando os fragmentos de ferramentas e utensílios
deixados por eles.
Transportemos agora essa analogia, para o nosso Criador Maior: estamos ainda
muito distantes de possuir as condições necessárias para que possamos olhar para
Ele , e compreendê-Lo diretamente. Entretanto estamos em um estágio que nos
permite ao menos observar ao nosso redor e termos uma idéia (ainda que bastante
simples) de quem é Deus, através das “pistas” que coloca diante de nossos
caminhos. Kardec nos aponta n’A Gênese, que “Deus não se mostra, mas se
revela pelas suas obras”.
Num período em que a Terra está passando por complexas transformações,
objetivando um período de renovação (e bem sabemos que todo processo de
transformação traz necessariamente extensos conflitos), é natural que se torne
bastante complicado para um observador mais desatento, a compreensão da
afirmativa tão popular de que Deus é Amor.
Propomos então aos amigos, que nos acompanhem nos próximos minutos neste
modesto exercício de raciocínio, onde procuraremos observar como esse amor
divino tem nos acompanhado: nosso tema da noite é “Amor, Essência Divina”.
A Gênese
O aparecimento do homem, descrito de forma bastante poética na Gênese
Bíblica, mostra que Deus preocupou-se em nos oferecer um mundo que contivesse as
condições adequadas para nossa subsistência, pois tomamos a Terra como morada
apenas depois dela ter sido convenientemente preparada para a nossa vinda.
E continua a Gênese, que ao “criar-nos” disse Deus: -“Façamos o homem à Nossa
imagem e semelhança”.
É certo que não somos perfeitos à semelhança do Pai, mas o Seu amor
infinito por nós permitiu-nos ser perfectíveis. Somos então semelhantes a
Ele, por possuirmos dentro de nós, as sementes de todas as qualidades e
virtudes que O compõe, em particular, Seu amor. Cabe a nosso esforço próprio,
levar estas sementes a produzir muitos e muitos frutos (o pai que ama
verdadeiramente, não faz as lições de casa para o filho, mas orienta-o e o apóia
para que ele consiga tirar sua nota dez através de seu próprio esforço).
Moisés
Seguindo-se ao grande gesto de amor de Deus para conosco, o Pai começou a
passar-nos as primeiras “lições” de humanidade. Vamos nos deparar mais uma vez
com esse amor “atravessando nosso caminho”, com o advento da primeira revelação,
feita a Moisés. A importância do cultivo do amor por todos os homens é bastante
clara, e por isto mesmo ele aparece em primeiro lugar, na tábua dos 10
mandamentos, que hoje conhecemos como:
“Amar a Deus sobre todas as coisas”.
Pelas contingências do momento, a Lei de Moisés era bastante severa. Só assim
ele teria algum sucesso em conseguir controlar um povo ainda bastante turbulento
e indisciplinado, recém saído de um austero regime de escravidão.
Embora a mensagem fosse de amor, o deus apresentado era ainda tirânico. O
amor e o respeito a Ele ainda eram obtidos através da imposição pela força. Por
isso mesmo as Leis mosaicas tinham um caráter transitório. A postura de Moisés
era de autoridade, mas a mensagem divina começava a abrir nossas mentes para a
importância desse amor.
Jesus
As coisas continuaram assim ainda por muito tempo, permitindo ao ser humano
que ao menos se acostumasse com a idéia. No momento oportuno, Deus nos enviou
então a segunda revelação, através de nosso Mestre Maior, Jesus.
Desde o princípio Ele posicionou-se como um continuador das Leis Divinas,
conforme encontramos em Mateus, V: 17:
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim para
destruí-los, mas para dar-lhes cumprimento.”
Dessa forma, sem nada destruir, Ele veste com uma roupagem mais moderna e
adequada para os homens de Seu tempo, as duras leis pregadas por Moisés. Os dez
mandamentos, ficam a partir de então, limitados a apenas dois, que abrangem
todos os outros. Em Suas próprias palavras, nos afirma serem os mandamentos
(Mateus XXII, 34-40):
“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, e
de todo o teu entendimento, este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo,
semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Estes dois
mandamentos contêm toda a lei e os profetas.”
De princípio, Jesus ratifica a importância da presença do amor em nossas
vidas, conservando esse mandamento que já havia sido colocado por Deus há vários
milênios atrás. Afirma que só há um imperativo moral realmente
fundamental – amar – do qual todos os outros princípios derivam.
A seguir, amplia o conceito deste amor: se antes era suficiente apenas o amor
ao criador supremo, agora começa a brotar a necessidade de se estender esse amor
também ao próximo. Nada mais claro, pois o mesmo amor devido ao Criador, por
extensão também deve ser aplicado a todos aqueles que foram feitos segundo à
imagem e semelhança deste mesmo criador! Acrescenta ainda, que esses mandamentos
compreendem tudo o que foi ensinado antes.
Por fim, Jesus tira esses conceitos da “folha de papel” e mostra que é
perfeitamente possível colocá-los em prática. Enquanto a doutrina de Moisés é
despótica, não admite discussão e é imposta pela força, a doutrina de Jesus é
essencialmente conselheira: é livremente aceita e só se impõe pela
persuasão.
Se o Cristo foi o maior dos missionários e dos profetas, foi porque trazia em
si um reflexo mais poderoso do Amor Divino. Em Sua postura de total dedicação ao
próximo, atendeu a todos; até mesmo à mulher adúltera e ao criminoso, sem temer
prejudicar a Sua própria reputação.
Jesus passou pouco tempo na Terra. Foram suficientes três anos de
evangelização para que o Seu domínio se estendesse a todos os cantos do planeta.
Não foi pela ciência, nem pela oratória que Ele seduziu e cativou as multidões:
foi pelo amor! Mesmo depois de sua morte, Seu amor ficou no mundo, como um
foco sempre vivo. Por isso, apesar dos muitos erros e faltas cometidos em
Seu nome, por aqueles que se diziam Seus justos representantes, o Cristianismo
atravessou os séculos e continua presente ainda hoje, moldando a alma humana.
Espiritismo
Ao chegarmos aos dias atuais, deparamo-nos com a terceira revelação, que nos
foi trazida não mais por apenas um representante divino como havia sido nas duas
vezes anteriores, mas por uma grande quantidade de espíritos. Estamos falando da
doutrina espírita.
Ela surge num período de emancipação e madureza intelectual do ser humano,
que nada mais aceita às cegas, mas quer ver aonde o conduzem, que saber o porquê
e o como de cada coisa.
Coube a Kardec coletar e compilar todas as informações passadas pelos
espíritos, em diversos pontos do mundo, dando origem à codificação da doutrina
espírita.
Assim como Jesus, o Espiritismo não vem contrariar as leis divinas: seu
objetivo é aproveitar da melhor forma possível os recursos intelectuais
do homem para através de mais este canal, facilitar a compreensão dos
desígnios de Deus. E o caminho escolhido pelos espíritos, foi novamente nos
esclarecer através do amor divino.
Diga-se de passagem, que o próprio trabalho de Kardec durante a preparação
das obras da codificação, foi um belo exemplo de amor ao próximo, por ter
suportado as duras críticas e incompreensões pelas quais passou.
Em tratando das Leis Divinas, o espiritismo nos traz em uma mesma lei, a
justiça, o amor e a caridade.
Os raios de ação do amor, ampliam-se ainda mais: por vezes, confundimos amor
com utilitarismo ao entendermos o amor aos semelhantes como sinônimo de promover
o bem deles. O amor é mais do que simplesmente desejar beneficiar os outros; é
possuir um sentimento que se manifesta em todas as atitudes exteriores,
das quais o relacionamento com o próximo é apenas uma delas! E quando falamos em
mudar todas as nossas atitudes, “temperando-as” ou “moldando-as” com o amor,
estamos falando sobre um dos pontos mais importantes para nosso progresso,
pregado pela doutrina espírita: a reforma íntima.
Aprendemos ainda que o amor é o princípio fundamental, a partir do qual
derivam tantos outros.
Ele inclui a igualdade, na medida em que devemos amar ao próximo como
a nós mesmos (não nos colocando em posição inferior, nem superior perante
aqueles que nos são semelhantes).
O Evangelho traz ainda um segundo princípio, complementar do primeiro – o de
justiça – ao nos ensinar que devemos fazer aos outros somente aquilo que
desejamos que os outros nos façam.
No sentido evangélico, o amor costuma ser identificado com a caridade,
que por sua vez geralmente entende-se como “dar esmolas”. É muito mais do que
isso. Caridade, na língua latina, significava alta dos preços, estima; praticar
a caridade com o semelhante é portanto, todo o gesto que fazemos e que
valoriza este semelhante. Assim, bem distante do gesto de dar esmolas, a
caridade é o amor a Deus e ao próximo, baseado na fraternidade que nos une a
todos, como filhos de Deus.
Finalmente, podemos observar as uniões sinceras como um sagrado ponto de
referência dessa lei única que dirige o Universo. A presença do amor que motiva
a criação da família e que vem a ser a mais abençoada escola de evolução que
Deus poderia ter nos dado, com todas as oportunidades de amparo, resgate,
entendimento e crescimento que ela proporciona.
Conclusão
Retomando nossa linha de pensamento original, percebemos que dentro de todo o
longo período de existência do ser humano, contamos sempre a orientação divina
através de Seus mensageiros: Moisés, Jesus, Kardec: todos procurando esclarecer
sobre quem é o nosso Criador Supremo, sendo que todos seguiram pelo mesmo
caminho: mostrar o Pai através de sua essência: o amor. Assim como o Pai, o amor
– que é a Sua essência – tem sido uma presença constante em toda a nossa
existência como seres humanos.
Encerrando, gostaria de deixar a todos uma frase de nosso querido Chico
Xavier, que mostra de forma tão sublime como ele aprendeu a cultivar o amor mais
puro e sincero pelo semelhante, e de como ele hoje o distribui incansavelmente.
Mesmo cansado e abatido, ele jamais deixa de atender aos que buscam por seu
auxílio. Certa vez, ao ser questionado sobre como ele conseguia ter tanta
disposição para atender a todos, sempre sorridente, apesar da sobrecarga de
trabalho, ele respondeu com muito carinho ao interpelante:
“- O corpo é meu, ele pode sofrer; o semblante é do próximo, ele deve
sorrir!…”