Causas e Justiças das Aflições
Palestra Virtual
Promovida pelo Canal #Espiritismo
http://www.irc-espiritismo.org.br
Palestrante: Pedro Vieira
Rio de Janeiro
01/10/1999
Organizadores da palestra:
Moderador: “lflavio” (nick: ||Moderador||) “Médium digitador”: “Brab” (nick: Pedro_Vieira)
Oração Inicial:
<volia> Deus, nosso pai de infinita bondade e misericórdia, Jesus, nosso Mestre e arquiteto do nosso planeta , pedimos a vossa ajuda e inspiração para os estudos que iniciaremos agora de tua santa Doutrina. Ajuda-nos, Pai, para que os ensinamentos da noite sejam para nós como luz de um farol na noite caliginosa, orienta-nos com a tua palavra doce e verdadeira para que possamos ser teus tarefeiros na nova era da regeneração . Assim seja!
Apresentação do Palestrante:
<Pedro_Vieira> Muito boa noite a todos. Meu nome é Pedro Vieira, sou colaborador da Casa dos Cristófilos, em Botafogo, no Rio de Janeiro e também, pelo IRC-Espiritismo, do Centro Espírita Léon Denis. (t)
Considerações Iniciais do Palestrante:
<Pedro_Vieira> “Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o reino dos céus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Ditosos sois, vós que agora chorais, porque rireis.” (S. LUCAS, cap. VI, vv. 20 e 21.) As palavras de Jesus são demasiadamente claras para nossos corações. Quando Jesus nos falava das consolações futuras, nos criava no espírito ainda atormentado a idéia de Justiça de Deus, ao mesmo tempo que nos falava sobre a continuidade da vida, das alegrias e também das tristezas. Por “pobres” entendamos não a condição financeira ou econômica de um cidadão, ou mesmo de um povo, porque, sendo assim, fácil seria ganhar o “reino dos céus”. Os pobres a que Jesus se referia são aqueles que passam a humilhação do mundo, resignadamente. São aqueles denotados, muitas vezes, como sonhadores, utópicos ou mesmo sub-raça da humanidade. Aqueles que, pela sua perseverança silenciosa, são colocados à margem do processo social, educacional e mesmo humano. Não é difícil entender por que as aflições aparecem em nosso planeta. A respeito dessa questão citamos em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Capítulo III, item 07: “Num hospital, ninguém vê senão doentes e estropiados; numa penitenciária, vêem-se reunidas todas as torpezas, todos os vícios; nas regiões insalubres, os habitantes, em sua maioria são pálidos, franzinos e enfermiços. Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciária, um sítio malsão, e ela é, simultaneamente, tudo isso, e compreender-se-á por que as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se podem ter por lugares de deleite.” Quando Allan Kardec nos coloca esse comentário, orientado pelos espíritos superiores, nos fala sobre a “necessidade do escândalo”, em concordância com Jesus. “Casas de correção” aplicam, por vezes, remédios dolorosos para o bem e para a educação do espírito. É muito difícil, meus amigos, em meio a uma aflição pensarmos e agirmos como estudantes e aproveitarmos dela todos os ensinamentos. Ao contrário, a combinação orgulhosa e egoísta de nosso coração nos impulsiona à “concha psíquica”, nos isolando de tudo aquilo que nos poderia melhorar. A mensagem que o Espiritismo nos traz é demasiadamente clara. Deus é soberanamente justo e bom, e tudo o que provém Dele é cheio de razão e de justiça. Nossas aflições são processo que devemos aprender a superar. Porque nosso destino é a perfeição. (t)
Perguntas/Respostas:
<||Moderador||> [1] <heroiiii> Há um item de “O Livro dos Espíritos” que diz que o clima de uma região influe nos aspectos morais do povo que lá vive isso. Não é determinista demais, apesar de achar que para a época e local onde foi informado era adequado?
<Pedro_Vieira> Vamos à análise meticulosa da questão. Na questão de número 52 de “O Livro dos Espíritos” lê-se: “Dá-se o mesmo com duas crianças, filhos da mesma mãe que, criados longe um do outro e de modo diferente, em nada se assemelham quanto ao moral”. Não acreditamos esteja colocado aí nenhum determinismo moral. Pelo contrário, é dito que, pelo afastamento que os filhos (ou as raças, no assunto tratado) é possível que elas não guardem as semelhanças que seriam de se esperar entre dois irmãos criados juntos. Os espíritos nos ensinam que a formação na infância é fundamental à orientação do espírito reencarnante. Raças que comungam dos mesmos hábitos têm as mesmas POTENCIALIDADES de desenvolvimento. Essas POTENCIALIDADES de certa forma traçam limites à manifestação espiritual do indivíduo. Desde que o indivíduo não tem um aparelho ou uma condição de costume social para manifestar-se em sua totalidade, fica tolido por conta disso. Daí se observarem as diferenças, por conta do afastamento, uma diferenciação, mais uma vez, da liberdade vinda das condições que cercam esses espíritos, e não do estado espiritual deles em si. (t)
<||Moderador||> [2] <Rosa_Azul> Só podemos resgatar nossos erros através da dor?
<Pedro_Vieira> Só uma correção vocabular importante, para sermos fiéis à Codificação. “Dor” é uma sensação física. “Sofrimento” é uma sensação que pode ser moral. O espírito desencarnado nunca sente “dor”, por não possuir veículo físico para o transmitir os impulsos nervosos da dor, mas pode “sofrer”, desde que sua consciência vive após a desencarnação.
Agora vamos à resposta: É importante compreendermos uma coisa: o espírito não “sofre” ou se “alegra”, antes disso e englobando tudo isso ele APRENDE. O processo evolutivo é, antes de tudo um processo educativo. E a evolução é urgente, ela precisa se fazer. A forma como a educação vai penetrar a psique do espírito é uma escolha que esse espírito – nós – tem que fazer. Se o espírito OPTA por se fechar ao processo educativo, tentando negar as leis de Deus, está escolhendo para si mesmo o processo educativo mais coerente com a sua postura mental, que convencionou-se chamar de “sofrimento”. Se o espírito, no entanto, posta-se adequadamente na postura de aluno e, como isso, facilita o processo de aprendizado que bate incessantemente à porta de sua consciência, então diz-se que ele aprendeu “pelo amor”. Mas o sofrimento nada mais é que um chamado ao despertar do aprendizado. Sendo assim, pode-se ter o sofrimento GUIANDO de volta ao aprendizado, mas só se aprende efetivamente – SEMPRE – pela opção pelo amor. O sofrimento não ensina, ele guia. Quem ensina é o amor. Se o amor vem precedido de sofrimento, no entanto, escolhemos nós. (t)
<||Moderador||> [3] <heroiiii> Muitos espíritas vêem o mendigo na rua e dizem : “Olha, ele é assim por que na outra vida anterior ele não sabia usar bem o dinheiro, fez mal com ele, aí nasceu assim” e, inconscientemente ou interiormente, pensa: “Olha, decerto eu sou rico ou remediado por que na outra vida soube usar o dinheiro. Portanto, devo ser superior.” O que dizer disso?
<Pedro_Vieira> Orgulho sem fundamento. Deus concedeu a prova da pobreza a quem pode suportá-la. O aparentemente superior pode estar sendo somente fortalecido ao nível do mendigo para só depois poder aprender o que seu irmão já está fazendo desde hoje, pela força que já possui. De mais a mais, o espírita que age dessa forma ignora a Doutrina Espírita que diz que na consolação de nossos irmãos, Deus nos usa, por vezes, como meios de auxílio, virando as costas ao chamado do Pai para ajudá-lo no seu refazimento, por não achar que Deus é digno de servir-se dele para tão degradante mister. (t)
<||Moderador||> [4] <strega> O sofrimento que passamos hoje pode ser conseqüência do mal que fizemos a estas mesmas pessoas em vidas passadas?
<Pedro_Vieira> Sim. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no seu Capítulo III, lemos: “O homem, pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não escapa nunca às conseqüências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre está expiando o seu passado.” Complementando no item 07: “Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a conseqüência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros.”. Acredito que Allan Kardec responda completamente à sua questão. (t)
<||Moderador||> [5] <lflavio> Como saber se a causa de nossos sofrimentos esta nesta vida ou em vidas passadas?
<Pedro_Vieira> Questiono a utilidade de tal informação. Vejamos o que nos diz Allan Kardec: “O infortúnio que, à primeira vista, parece imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode sempre dizer: ‘Perdoa-me, Senhor, porque pequei.'”. A grande luta da humanidade atualmente é pela consciência límpida e tranqüila. Encontrar o criminoso desfaz um crime cometido? De maneira alguma. O que os espíritos nos dizem é que o criminoso nós já sabemos quem é. Nesse caso, o conhecimento de “detalhes do crime” (mantendo a nomenclatura para referência) não vai atenuar a falta, não vai nos dar o apoio da consciência, não vai nos tornar nem homens nem espíritos melhores. O conselho de Allan Kardec é claro: “Perdoa-me, Senhor, porque pequei”, e ter uma ação ativa, positiva, procurando agir contra as más tendências e travando lutas vitoriosas. Aí sim estaremos reparando os erros que cometemos e que se encontram gravados em nosso espírito, sem necessidade de saber de onde vêm eles. (t)
<||Moderador||> [6] <strega> Se o que passamos hoje é conseqüência de faltas passadas, então não devemos ter pena de ninguém? Se alguém sofre é por que merece?
<Pedro_Vieira> As aflições atuais têm sua razão de ser. Eis o fato. O sádico encara o fato: “Sofre porque merece, que bom que merece, porque sofre” O demagogo encara o fato: “Todos deveriam ser bons para não sofrerem como aquele pobre coitado”, e nada faz. O espírita não deve falar em “merecer sofrimento”, mas sim em “necessitar aprendizado”. A diferença é gritante. Se alguém necessita de um aprendizado e hoje está tendo ele pelas guias do sofrimento, será que Deus não nos colocou no caminho para refrescar-lhe o coração que já está em condições de suportar o aprendizado sem tanta dureza? Se uma pessoa deve transpor um obstáculo e encontra-se imbuída de coragem e de confiança, o transpõe sem maiores problemas. O mesmo não acontece com o ânimo caído. Sustentar nossos irmãos na provação, sem desculpas de “merecer sofrimento”. Pedir a Deus que nos faça peças úteis do “precisar aprendizado”. Que, com o nosso amor possamos facilitar-lhes a aquisição da lição que, insistentemente, Deus insiste em enviá-lo. A evolução é a única necessidade. O sofrimento de amanhã é conseqüência da escolha de hoje. (t)
<||Moderador||> [7] <heroiiii> Muitas vezes a pessoa sofre mais do que merece por que sabe que, com isso, abreviará sua prova. Mas por que alguns povos do “frio” tem mais atribulações que nós? Pode-se levantar esse aspecto e, daí, não temos furacões no Brasil, pelo mesmo determinismo do início da questão 52. Por que nossa moral depende do clima?
<Pedro_Vieira> Perguntaram certa feita a Chico Xavier porque os espíritos não o curavam de seu mal na vista e de sua debilidade física geral. Chico Xavier respondeu, sereno como sempre: “Eu me sentiria muito mal atendendo a esses irmãos tão mais necessitados que eu não sabendo na pele o que eles sofrem.” Para muitos de nós, o que chamamos “tribulações” ou “sofrimentos”, para outras pessoas, já mais adiantadas, são, nada mais nada menos, que meios comuns que não lhes causa a menor aflição. Por isso, a palavra “aflição” nunca está ligada ao fato em si, ao “clima”, ao “frio”, a doenças, a posturas de outrem, etc. A aflição é a conseqüência de nosso estado espiritual íntimo de inquietação perante algo que ainda nos causa medo e apreensão. É a conseqüência direta de nossa própria imprevidência em lidar com o desconhecido, com a nossa própria falta de fé e de auto-confiança. Por isso, voltando à pergunta, pode ser que, em termos de fatos físicos, algumas regiões do planeta estejam mais sujeitas que outras, mas a pergunta que nos deve recair é a seguinte: desses fatos, quais realmente são aflições? Outra pergunta seria: Julgaríamo-nos nós mais justos e sábios que Deus para saber melhor que Ele compensar todo tipo de mal físico que exista no planeta para o aprendizado dos espíritos? A aflição é uma medição espiritual, uma medição de arcabouço moral, por assim dizer. Sendo assim, com climas amenos, muito dinheiro, satisfação amorosa e profissional geram pessoas profundamente infelizes, ao passo que o clima frio e seco em local solitário e sem acesso tecnológico pode gerar corações muito felizes. Fechando, o clima não determina a reação moral do indivíduo. A felicidade ou a infelicidade, a aflição ou não é um estado d’alma, e não uma situação exterior. O que os fatos externos determinam são a maior ou menor manifestação de potencialidades do espírito, gerando certas diferenças. Nada mais que isso. (t)
<||Moderador||> [8] <lflavio> As aflições coletivas que determinados povos passam, esta relacionado com compromissos de aprendizados coletivos?
<Pedro_Vieira> Suponho que o amigo, se não joga, pelo menos sabe o que é o jogo de sinuca. No jogo de sinuca pode-se, com habilidade suficiente, em um número muito reduzido de jogadas, “matar” todas as bolas. Tanto mais hábil o jogador, mais perfeita, rápida e precisa é a combinação para atingir um mesmo objetivo. Deus é o melhor jogador de sinuca que eu conheço. Podendo oferecer aos espíritos aprendizados que unem presença mútua (oportunidade de trabalho – refazimento – uns aos outros) e tribulações que lhes sirvam, simultaneamente, ao aprendizado, fazendo, ao mesmo tempo, que esse povo trabalhe para o bem geral, há uma combinação mais perfeita a se fazer? Não importa quantas bolas você coloque sobre a mesa, Deus sempre as matará todas num tempo zero, perfeição infinita e com o toque das bolas ainda produzirá rearranjos perfeitos em outros infinitos problemas que afligem a Humanidade. Aposte em Deus, ele não decepciona você. (t)
<||Moderador||> [9] <Erni> Conheço poucos, mas conheço pessoas que passam por poucas aflições na vida, quer econômica, sentimental ou moral. Essas pessoas não estão sendo aferidas, ou são felizardos em férias na Terra?
<Pedro_Vieira> Pensam que estão matando aula, se esquivando de suas obrigações para com aqueles que clamam por uma ajuda que só essa tranqüilidade pode proporcionar. Ninguém, por mais pobre ou mais rico, por mais atribulado ou mais livre, está liberado do dever da caridade e do trabalho ao próximo. Como descansar no ócio se o serviço não está acabado? (t)
<||Moderador||> [10] <Erni> Como ver um mundo onde a maioria não sabe da existência de Jesus, tem os mulçumanos com seu Deus revanchista…Onde estaria a justiça para essas pessoas?
<Pedro_Vieira> Impressa na consciência, nos dizem os espíritos. Independente da crença, há sempre caminhos corretos que a consciência do cristão ou do muçulmano apontam. Podem ignorar a existência da pessoa do Cristo, mas não ignoram o que é o bem. Se não ignoram o bem, não há razão para não o praticarem. Os espíritos são categóricos quando nos respondem: não é a crença exterior que salva o homem, mas sim sua postura interior perante o bem, a paz, o amor. Acaso alguma alma do mundo encontra-se privada da guia de sua consciência? (t)
Considerações Finais do Palestrante:
<Pedro_Vieira> Antes das considerações finais, gostaria de colocar um trecho para o nosso amigo heroiiii de “O Livro dos Espíritos”, reposta à questão 861: “Aliás vós confundis sempre duas coisas distintas: os acontecimentos materiais da vida e os atos da vida moral. Se, por vezes, há fatalidade é nos acontecimentos materiais, cuja causa está fora de vós e que independem de vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, eles sempre emanam do próprio homem que tem sempre, conseqüentemente, liberdade de escolha. Nestes atos jamais existe fatalidade”. Estamos abertos a maiores debates sobre o tema posteriormente. Uma coisa deve nos permanecer em mente quando falamos em aflições: sofrimentos são meios de nos conduzir ao aprendizado; tanto mais nos amoleçamos de coração, tanto menos eles serão necessários. Para isso é necessário que nos portemos intimamente como cristãos e como espíritas que somos, agindo ativamente na eliminação dos males de nossos irmãos que nos compartilham a caminhada. Mesmo no sofrimento pode ou não existir aflição. A aflição é uma resposta do espírito a um estímulo que lhe causa estranheza de qualquer ordem. Se o espírito reage sempre de maneira resignada, de maneira correta, com fé, amor e ação, mesmo frente aos sofrimentos não existirá aflição. O Espiritismo cumpre o papel de “Consolador Prometido” nesse sentido, de levar à pessoas a verdadeira consolação, a consolação que Jesus nos falou no início, fazendo-nos compreender as tribulações da vida, mostrando-nos o porquê dessas tribulações, e mostrando-nos o caminho de superá-las, reagindo sempre de maneira ativa perante os acontecimentos, com paz, brandura, calma e paciência. (t)
Oração Final:
<Safiri> Senhor meu Deus, obrigada por mais esta oportunidade de estarmos próximos a ti aprendendo mais, nos confortando e nos resignando pelas ações impostas a nós no dia a dia e reconhecendo nossos erros pelas nossas falhas perantes nossos irmãos e a nós mesmos. Que Vós possa sempre nos guiar, nos tocar com a leve brisa, como um suave canção tocando nossos corações. E prometemos, então, ao menos nos conscientizar de que a vida, é para aprendermos a amar! Que assim seja!