Tamanho
do Texto

Dores, Valores, Tabus e Preconceitos

Dores, Valores, Tabus e Preconceitos

Palestra Virtual
Promovida pelo Canal #Espiritismo
http://www.irc-espiritismo.org.br

Palestrante: Luiz Carlos Formiga
Rio de Janeiro
23/04/1999

Organizadores da palestra:

Moderador: “Caminheiro” (nick: Moderadeiro) “Médium digitador”: “jaja” (nick: Luiz_Carlos_Formiga)

Oração Inicial:

<Dilma_> Senhor, Pai de Infinita bondade. Jesus, Mestre amigo, aqui estamos , mais uma vez, para participar desta palestra virtual. Rogamos o amparo a proteção a inspiração para nosso irmão Luiz Carlos. Ajuda-nos, Senhor, na compreensão , no entendimento dos ensinos que vamos receber. Que possa reinar nesse momento a paz, que a solidariedade, a fraternidade se construa em nossos corações para que possamos, assim, aprender e progredir. Senhor, ampara a todos aqueles que aqui chegarem, que possam levar a paz, a Tua paz. Senhor, fica conosco, ampara-nos, bem como a todas as criaturas, encarnadas e desencarnadas, em cada canto do Universo, que a luz de Teu amor balsamize, ilumine a todos. Assim seja. 🙂

Apresentação do palestrante:

<Luis_Carlos_Formiga> Eu milito na União Espírita Fernandes Figueira e Bezerra de Menezes, que fica no Grande Meier (Rio de Janeiro). Atualmente também sou um dos coordenadores do NEU-FUNDÃO, o Núcleo Espírita Universitário que fica na UFRJ, onde eu sou professor adjunto de Microbiologia Médica, que é o meu departamento. Casado, 4 filhos. E quase avô. Em julho, nasce a minha neta. 🙂 (t)

Considerações iniciais do palestrante:

<Luis_Carlos_Formiga> Existe um momento na trajetória do Espírito que é especial. É momento de decisão ou de definição de novos objetivos. Ele nos impulsiona para um estilo de vida mais amadurecido, onde as principais realizações se operam no mundo interior, com reflexos no mundo exterior. Sou originário das Ciências Biomédicas, que estão voltadas para o exterior e da Educação, que traz a Psicologia sem alma, por isso ambas oferecem pobres contribuições. Com a Ciência Espírita procuramos aumentar o interesse pela dimensão espiritual do ser, que é, na realidade, de natureza bio-psico-sócio-espiritual.

A sociedade anômica com seu confuso amor-próprio, sua tola vaidade e seu louco orgulho nos agride, mas por outro lado, nos libera para contra-argumentar. No livro “Dores, Valores, Tabus e Preconceitos” argumentamos para despertar consciências, mas, principalmente, para chegar aos corações. O que eu realmente gostaria é que a nossa mensagem estivesse clara e fosse convincente, de modo que fosse impossível, para as pessoas, ignorá-la. Se isso acontecer com apenas uma pessoa já me sentirei recompensado. A jornada espiritual dessa pessoa já começou. Acabo de receber das mãos de um velho amigo, Augusto Marques de Freitas de presente, um livro: “Yvonne do Amaral Pereira – O Vôo de uma Alma – Edições CELD”.

Nada estava combinado, nos encontramos “por acaso”. E, “por acaso”, quando abro o livro, encontro: “Um livro restaurador e enobrecido é um sábio que ampara em silêncio, um médico que auxilia sem alarde e um professor que esclarece sem atritos.” Emmanuel. (t)

Perguntas/Respostas:

<Moderadeiro> [01] <Flavyo> Que relação há entre os quatro elementos do tema da palestra desta noite: Dores, Valores, Tabus e Preconceitos?

<Luis_Carlos_Formiga> Agradeço a pergunta porque ela me oferece a oportunidade para contar como surgiu o título do livro (de mesmo nome). Discutíamos a questão das dores extenuantes dos pacientes de hanseníase (antiga lepra) e dos pacientes de AIDS e não podíamos deixar de correlacioná-las com um postulado básico da Doutrina Espírita que é a reencarnação que passa pelos valores. E um dos tabus, talvez o verdadeiro tabu, é a morte, que rondava pacientes de AIDS, que muitas vezes estavam presos a outro tabu: o do sexo. E por causa deste sofriam os preconceitos.

Como você pode perceber, nestas observações, falamos de dores extenuantes; valores e reencarnação; de morte, como tabu e de sexualidade e preconceitos. O livro trata disto tudo, daí o nome. Mas, querendo esclarecer os leitores, o presidente do CELD – Altivo Pamphiro – sugeriu um subtítulo: “Uma discussão espírita em torno das doenças estigmatizantes e suas conseqüências”. Mas, mesmo assim, não conseguimos dizer a totalidade do que trata o livro. (t)

<Moderadeiro> [2] <Brab> Prof. Formiga, boa noite. Buda nos falava sobre 3 níveis de gradação de sofrimento: a primeira é o sofrimento físico, da qual ninguém está livre; o segundo é o sofrimento ligado a coisas materiais, pela perda ou não aquisição de um bem, angústia, etc; e o terceiro, e mais profundo, é o sofrimento moral, aquele que advém das expectativas e das vivências em sociedade e consigo mesmo. Pergunto: em que um correto dimensionamento dos conceitos de “Valores, Tabus e Preconceitos” pode nos fazer melhorar nosso lidar com as dores e os sofrimentos, admitindo como razoável a divisão proposta por Buda?

<Luis_Carlos_Formiga> Não sei se entendi bem a pergunta, mas o livro é um apelo, porque discute a imortalidade da alma, a um aumento do nível de consciência da pessoa, tentando levá-la de uma consciência que dorme a uma consciência desperta, ou até mesmo, num nível mais alto, a consciência lúcida. Com esses valores modificados não ficamos livres das dores, mas certamente encontramos forças adicionais para suportá-los com mais facilidade, mais resignação e coragem. (t)

<Moderadeiro> [03] <Flavyo> O que é “preconceito” e qual o enfoque espiritista a respeito do mesmo?

<Luis_Carlos_Formiga> Existe um livro que tem este título, ou melhor, “O Estigma”. Esse autor desenvolve todo um livro para responder essa pergunta. Numa linguagem simples, poderíamos dizer que é um julgamento que se faz de alguém, julgamento esse destituído de razão. Alguns acham que a cor da pele pode denotar uma inferioridade racial, o que é um julgamento destituído de razão. Através desses julgamentos podemos destruir a personalidade social de uma pessoa e sem personalidade social uma pessoa não resiste, ela morre. Um exemplo claro e triste da conseqüência desta imagem falsa aconteceu por esses dias numa escola, onde negros e hispânicos foram cruelmente assassinados. Preconceitos existem também com doentes ou doenças. Foi por isso que, por um erro médico, construímos as antigas colônias de leprosos e recentemente quiseram deportar para uma ilha deserta os indivíduos contaminados pelo vírus da AIDS. Quando o preconceito chega, a razão vai embora. (t)

<Moderadeiro> [04] <Brab> Ghandi enfrentou, no período de luta de independência política da Índia, entre o seu próprio povo, uma grande resistência que advinha de tabus e preconceitos ligados a segregação religiosa (mais especificamente entre árabes e hindus). Como as religiões de maneira geral e, em especial, o Espiritismo encara a questão da segregação religiosa, e do preconceito religioso, e que males ele pode trazer, a exemplo da Índia de Ghandi, à nossa sociedade atual?

<Luis_Carlos_Formiga> É uma pergunta muito boa e com ela nós poderíamos fazer inúmeros raciocínios. Acredito que nessa hora, todos estão viajando em torno dessa questão. Conseqüências futuras é difícil a gente prever. No entanto, essas diferenças religiosas, no passado, trouxeram para o Brasil conseqüências diversas. Se fôssemos colonizados por religiosos protestantes talvez tivéssemos caminhado rápido para o capitalismo, como aconteceu nos países da América do Norte. Como fomos colonizados por católicos, onde o “Ter” era até considerado “pecado”, nos encaminhou para outra situação. É difícil prever porque existe uma programação espiritual em termos de Brasil e até da regeneração do planeta.

A colonização católica, por outro lado, nos possibilita essa miscigenação racial, o fenômeno comentado anteriormente talvez nunca ocorra no Brasil, pois seria difícil saber quem era quem, mas isto estava na programação espiritual, veja o livro “A Caminho da Luz”, de Emmanuel. Fiquemos por aqui para tentar entrar em outras vertentes que o livro explora, como por exemplo: Espiritismo e Universidade; Sexo Seguro (sexo e adolescência); Discutindo a Sexualidade (regressão de memória); Idéias para uma Declaração de Direitos do Paciente Terminal ou questões mesmo da Doutrina Espírita que fazem parte dos capítulos do livro. O livro ainda comenta a dúvida sobre as condições da vida após a morte apresentada por um cardiologista. (t)

<Moderadeiro> [05] <MBueno> Há pouco, no canal #Espiritismo, Budistas afirmavam que Kardec, portanto, os espíritos erraram diversas afirmações científicas. Disse-lhes que os avanços científicos ocorrem sem intervenção espiritual direta, pois eles devem ser mérito de toda a civilização. Portanto, a eliminação de tais dores só ocorrerá por mérito, através do trabalho científico, o sr. concorda?

<Luis_Carlos_Formiga> Não! Não totalmente. É que o processo evolutivo, ele caminha através de duas vertentes. O trabalho científico, na sociedade científica atual, dominada pela vertente materialista da ciência, está fixada no domínio cognitivo. Quem produz conhecimento produz poder. Mas o poder acumpliciado à não-ética produz muita dor. Acredito que o processo só será perfeito, evoluído, quando ao lado do intelecto caminhar, também, a evolução do domínio afetivo. Os educadores estão atentos e procuram nesse final de século trazer à comunidade aquilo que poderíamos chamar de inteligência moral. Emmanuel faz uma síntese: “As duas asas da evolução passam pela sabedoria e pelo amor”. Qualquer atrofia em uma delas faz o indivíduo voar baixo. (t)

<Moderadeiro> [06] <Brab> Falemos da AIDS, por exemplo, amigo Formiga. O que é a AIDS analisando dos 4 aspectos: o que a AIDS proporciona em dores; o que questiona em valores; com que tabus mexe e que preconceitos desperta, e como lidar com isso na sociedade atual?

<Luis_Carlos_Formiga> Leia o livro. :)))) Mas poderíamos dizer que a AIDS é uma severa advertência microbiológica à nossa promiscuidade psíquica”. Você vai encontrar esta discussão num outro livro, no capítulo “Drogas, AIDS e reencarnação”. Título do livro: “As Drogas e Suas Conseqüências”, editora Fonte Viva – BH – MG. Eu vou responder de forma telegráfica, senão o pessoal não vai comprar o livro… :))

O que a AIDS proporciona em dores pode ser avaliado por uma questão que eu discuto num documento.do Núcleo Espírita Universitário (que você pode obter solicitando ao neufundao@hotmail.com). A questão é: deve-se aceitar o aborto de uma jovem, gestante HIV-positiva, grávida pelo estupro? Mexe no tabu da sexualidade, mas principalmente por ligá-la à morte. Todos os preconceitos possíveis são despertados. Eu já ouvi um somatório deles, utilizando-se três letras: p, p, p, a respeito de um paciente negro, desempregado e homossexual. As letras ficam para sua criatividade, porque o meu asseio “verbal” não permite pronunciá-las. (t)

<Moderadeiro> [07] <Flavyo> Ao falarmos de “contra-valores”- se é que se pode chamar assim – como preconceitos e tabus; que perspectivas podemos vislumbrar para nosso mundo, e, mais especificamente, nosso país, num futuro próximo? A perspectiva é da evolução ou da estagnação?

<Luis_Carlos_Formiga> Você pode observar que nós estamos no Stand do CELD, numa Bienal do Livro. Meu avô, que era espírita, foi fichado na polícia porque era espírita. Portugal, recentemente, na época de Salazar, não poderia sediar um Congresso Mundial Espírita. E neste momento, via Internet, com total liberdade, estamos no RioCentro conversando abertamente sobre Doutrina Espírita. Dá para imaginar como será daqui a 20 anos? Na Universidade onde eu era acadêmico não encontrei nenhum colega espírita.

Hoje eu coordeno um Núcleo Espírita Universitário na Universidade que está com uma campanha virtual em favor da vida intra-uterina. Este documento entitulado “Nas próximas Eleições, Pergunte ao Candidato Sobre o Aborto” já se encontra, inclusive, com a Sonia Sumi no Japão. O Dr. Bravo, na Guatemala, está vertendo para o espanhol para atingir a América Central e o Caribe. Isto é evolução. E o que estamos fazendo aqui é uma revolução de valores ético-morais. (t)

Considerações finais do palestrante:

<Luis_Carlos_Formiga> Nós estamos honrados em poder discutir num nível alto e amigável e gostaríamos de divulgar o primeiro ciclo de estudos da filosofia espírita, no auditório da Biblioteca do CCS – Universidade Federal do Rio de Janeiro – toda quarta-feira, às 12 h. E não se esqueçam do meu endereço: neufundao@hotmail.com. Gostaria de desejar a todos muita paz! Muita paz! (t)

Oração Final:

<Moderadeiro> Pai Amoroso, agradecidos pela oportunidade de hoje, pedimos as tuas bênçãos para todos nós e, especialmente, para os trabalhos do Canal #Espiritismo, como divulgador da Doutrina Espírita! Fortaleça-nos em nossa união e em nossa fé! Assim seja!