Emprego dos Sinais de Pontuação
UOL – Michaelis
Há certos recursos da linguagem – pausa, melodia, entonação e até mesmo, silêncio – que só estão presentes na oralidade. Na linguagem escrita, para substituir tais recursos, usamos os sinais de pontuação. Estes são também usados para destacar palavras, expressões ou orações e esclarecer o sentido de frases, a fim de dissipar qualquer tipo de ambigüidade.
1. Vírgula
Emprega-se a vírgula (uma breve pausa):
- para separar os elementos mencionados numa relação:
A nossa empresa está contratando engenheiros, economistas, analistas de sistemas e secretárias.
O apartamento tem três quartos, sala de visitas, sala de jantar, área de serviço e dois banheiros.NOTA
Mesmo que o e venha repetido antes de cada um dos elementos da enumeração, a vírgula deve ser empregada:Rodrigo estava nervoso. Andava pelos cantos, e gesticulava, e falava em voz alta, e ria, e roía as unhas.
- para isolar o vocativo:
Cristina, desligue já esse telefone!
Por favor, Ricardo, venha até o meu gabinete. - para isolar o aposto:
Dona Sílvia, aquela mexeriqueira do quarto andar, ficou presa no elevador.
Rafael, o gênio da pintura italiana, nasceu em Urbino. - para isolar palavras e expressões explicativas (a saber, por exemplo, isto é, ou melhor, aliás, além disso etc.):
Gastamos R$ 5.000,00 na reforma do apartamento, isto é, tudo o que tínhamos economizado durante anos.
Eles viajaram para a América do Norte, aliás, para o Canadá. - para isolar o adjunto adverbial antecipado:
Lá no sertão, as noites são escuras e perigosas.
Ontem à noite, fomos todos jantar fora. - para isolar elementos repetidos:
O palácio, o palácio está destruído.
Estão todos cansados, cansados de dar dó! - para isolar, nas datas, o nome do lugar:
São Paulo, 22 de maio de 1995.
Roma, 13 de dezembro de 1995. - para isolar os adjuntos adverbiais:
A multidão foi, aos poucos, avançando para o palácio.
Os candidatos serão atendidos, das sete às onze, pelo próprio gerente. - para isolar as orações coordenadas, exceto as introduzidas pela conjunção e:
Ele já enganou várias pessoas, logo não é digno de confiança.
Você pode usar o meu carro, mas tome muito cuidado ao dirigir.
Não compareci ao trabalho ontem, pois estava doente. - para indicar a elipse de um elemento da oração:
Foi um grande escândalo. Às vezes gritava; outras, estrebuchava como um animal.
Não se sabe ao certo. Paulo diz que ela se suicidou, a irmã, que foi um acidente. - para separar o paralelismo de provérbios:
Ladrão de tostão, ladrão de milhão.
Ouvir cantar o galo, sem saber onde. - após a saudação em correspondência (social e comercial):
Com muito amor,
Respeitosamente, - para isolar as orações adjetivas explicativas:
Marina, que é uma criatura maldosa, “puxou o tapete” de Juliana lá no trabalho.
Vidas Secas, que é um romance contemporâneo, foi escrito por Graciliano Ramos. - para isolar orações intercaladas:
Não lhe posso garantir nada, respondi secamente.
O filme, disse ele, é fantástico.
2. Ponto
Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o término de um frase declarativa de um período simples ou composto.
Desejo-lhe uma feliz viagem.
A casa, quase sempre fechada, parecia abandonada, no entanto tudo no seu interior era conservado com primor.
O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas, por exemplo: fev. = fevereiro, hab. = habitante, rod. = rodovia.
O ponto que é empregado para encerrar um texto escrito recebe o nome de ponto final.
3. Ponto-e-vírgula
Utiliza-se o ponto-e-vírgula para assinalar uma pausa maior do que a da vírgula, praticamente uma pausa intermediária entre o ponto e a vírgula.
Geralmente, emprega-se o ponto-e-vírgula para:
- separar orações coordenadas que tenham um certo sentido ou aquelas que já apresentam separação por vírgula:
Criança, foi uma garota sapeca; moça, era inteligente e alegre; agora, mulher madura, tornou-se uma doidivanas. - separar vários itens de uma enumeração:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de idéias e de concepções, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV – gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais;
. . . . . . . .
(Constituição da República Federativa do Brasil)
4. Dois-pontos
Os dois-pontos são empregados para:
- uma enumeração:
… Rubião recordou a sua entrada no escritório do Camacho, o modo porque falou: e daí tornou atrás, ao próprio ato.
Estirado no gabinete, evocou a cena: o menino, o carro, os cavalos, o grito, o salto que deu, levado de um ímpeto irresistível…
(Machado de Assis) - uma citação:
Visto que ela nada declarasse, o marido indagou:
– Afinal, o que houve? - um esclarecimento:
Joana conseguira enfim realizar seu desejo maior: seduzir Pedro. Não porque o amasse, mas para magoar Lucila.
Observe que os dois-pontos são também usados na introdução de exemplos, notas ou observações.
Parônimos são vocábulos diferentes na significação e parecidos na forma. Exemplos: ratificar/retificar, censo/senso, descriminar/discriminar etc.
Nota: A preposição per, considerada arcaica, somente é usada na frase de per si (= cada um por sua vez, isoladamente).
Observação: Na linguagem coloquial pode-se aplicar o grau diminutivo a alguns advérbios: cedinho, longinho, melhorzinho, pouquinho etc.
NOTA A invocação em correspondência (social ou comercial) pode ser seguida de dois-pontos ou de vírgula: Querida amiga: Prezados senhores, |
5. Ponto de interrogação
O ponto de interrogação é empregado para indicar uma pergunta direta, ainda que esta não exija resposta:
O criado pediu licença para entrar:
– O senhor não precisa de mim?
– Não obrigado. A que horas janta-se?
– Às cinco, se o senhor não der outra ordem.
– Bem.
– O senhor sai a passeio depois do jantar? de carro ou a cavalo?
– Não.
(José de Alencar)
6. Ponto de exclamação
O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de qualquer enunciado com entonação exclamativa, que normalmente exprime admiração, surpresa, assombro, indignação etc.
– Viva o meu príncipe! Sim, senhor… Eis aqui um comedouro muito compreensível e muito repousante, Jacinto!
– Então janta, homem!
(Eça de Queiroz)
NOTA O ponto de exclamação é também usado com interjeições e locuções interjetivas: Oh! Valha-me Deus! |
7. Reticências
As reticências são empregadas para:
- assinalar interrupção do pensamento:
– Bem; eu retiro-me, que sou prudente. Levo a consciência de que fiz o meu dever. Mas o mundo saberá…
(Júlio Dinis) - indicar passos que são suprimidos de um texto:
O primeiro e crucial problema de lingüística geral que Saussure focalizou dizia respeito à natureza da linguagem. Encarava-a como um sistema de signos… Considerava a lingüística, portanto, com um aspecto de uma ciência mais geral, a ciência dos signos…
(Mattoso Camara Jr.) - marcar aumento de emoção:
As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turvação do infeliz, foram estas: “Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino… Perdi-te… Bem sabes que sorte eu queria dar-te… e morro, porque não posso, nem poderei jamais resgatar-te.
(Camilo Castelo Branco)
8. Aspas
As aspas são empregadas:
- antes e depois de citações textuais:
Roulet afirma que “o gramático deveria descrever a língua em uso em nossa época, pois é dela que os alunos necessitam para a comunicação quotidiana”. - para assinalar estrangeirismos, neologismos, gírias e expressões populares ou vulgares:
O “lobby” para que se mantenha a autorização de importação de pneus usados no Brasil está cada vez mais descarado.
(Veja)Na semana passada, o senador republicano Charles Grassley apresentou um projeto de lei que pretende “deletar” para sempre dos monitores de crianças e adolescentes as cenas consideradas obscenas.
(Veja)Popularidade no “xilindró”
Preso há dois anos, o prefeito de Rio Claro tem apoio da população e quer uma delegada para primeira-dama.
(Veja)Com a chegada da polícia, os três suspeitos “puxaram o carro” rapidamente.
- para realçar uma palavra ou expressão:
Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não” sonoro.
Aquela “vertigem súbita” na vida financeira de Ricardo afastou-lhe os amigos dissimulados.
9. Travessão
Emprega-se o travessão para:
- indicar a mudança de interlocutor no diálogo:
– Que gente é aquela, seu Alberto?
– São japoneses.
– Japoneses? E… é gente como nós?
– É. O Japão é um grande país. A única diferença é que eles são amarelos.
– Mas, então não são índios?
(Ferreira de Castro) - colocar em relevo certas palavras ou expressões:
Maria José sempre muito generosa – sem ser artificial ou piegas – a perdoou sem restrições.
Um grupo de turistas estrangeiros – todos muito ruidosos – invadiu o saguão do hotel no qual estávamos hospedados. - substituir a vírgula ou os dois pontos:
Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente selvagem, a arte é a superioridade humana – acima dos preceitos que se combatem, acima das religiões que passam, acima da ciência que se corrige; embriaga como a orgia e como o êxtase.
(Raul Pompéia) - ligar palavras ou grupos de palavras que formam um “conjunto” no enunciado:
A ponte Rio-Niterói está sendo reformada.
O triângulo Paris-Milão-Nova York está sendo ameaçado, no mundo da moda, pela ascensão dos estilistas do Japão.
10. Parênteses
Os parênteses são empregados para:
- destacar num texto qualquer explicação ou comentário:
Todo signo lingüístico é formado de duas partes associadas e inseparáveis, isto é, o significante (unidade formada pela sucessão de fonemas) e o significado (conceito ou idéia). - incluir dados informativos sobre bibliografia (autor, ano de publicação, página etc.):
Mattoso Camara (1977:91) afirma que, às vezes, os preceitos da gramática e os registros dos dicionários são discutíveis: consideram erro o que já poderia ser admitido e aceitam o que poderia, de preferência, ser posto de lado. - indicar marcações cênicas numa peça de teatro:
Abelardo I – Que fim levou o americano?
João – Decerto caiu no copo de uísque!
Abelardo I – Vou salvá-lo. Até já!
(sai pela direita)
(Oswald de Andrade) - isolar orações intercaladas com verbos declarativos, em substituição à vírgula e aos travessões:
Afirma-se (não se prova) que é muito comum o recebimento de propina para que os carros apreendidos sejam liberados sem o recolhimento das multas. - 11. Asterisco
O asterisco, sinal gráfico em forma de estrela, é um recurso empregado para:
- remissão a uma nota no pé da página ou no fim de um capítulo de um livro:
Ao analisarmos as palavras sorveteria, sapataria, confeitaria, leiteria e muitas outras que contêm o morfema preso* –aria e seu alomorfe –eria, chegamos à conclusão de que este afixo está ligado a estabelecimento comercial. Em alguns contextos pode indicar atividades, como em: bruxaria, gritaria, patifaria etc.* É o morfema que não possui significação autônoma e sempre aparece ligado a outras palavras.
- substituição de um nome próprio que não se deseja mencionar:
O Dr.* afirmou que a causa da infecção hospitalar na Casa de Saúde Municipal está ligada à falta de produtos adequados para assepsia.