Família
Cristiane Bicca
A rigor, família é uma instituição social que compreende indivíduos ligados entre si por laços consangüíneos.
A formação do grupo familiar tem como função a educação, implicando, porém, outros fatores como amor, atenção, compreensão, carência e sobretudo o respeito à individualidade de cada componente do instituto doméstico.
Porém, com o Espiritismo, esse conceito de família se alarga, porque os velhos padrões que nos são impostos dão lugar a um clã familiar de visão mais ampla de vivência coletiva, dentro das bases da reencarnação. Por admitirmos que os laços da parentela são preexistentes à formada atual, os preconceitos de cor, de sangue, sociais e afetivos caem por terra, porque vêem nas possibilidades das vidas sucessivas o retorno dos espíritos, das almas, no mesmo domicílio, ocupando roupagens físicas conforme as necessidades evolutivas.
Existem vários tipos de família, conforme a afinidade entre os espíritos que as integram. As afeições reais sobrevivem, permanecem indissolúveis e eternas.
Independente do tipo de família que temos, vamos observar a importância desta instituição e como convivermos melhor dentro dela.
Alguns devem lembrar-se que em 1994, a ONU (Organização das Nações Unidas), proclamou este ano como o “ANO INTERNACIONAL DA FAMÍLIA”. Muitos ficaram surpresos, com a importância dada pela ONU a um tema que parecia um tanto doméstico, sem muita importância para os homens responsáveis pelo destino político do mundo.
Aí é que está o erro, o engano. O assunto, família, é de maior relevância para toda a humanidade. Matutando sobre a questão, pouco a pouco, vamos descobrindo que a harmonia das nações só será conquistada com lares ajustados. E quanto maior for a desorganização familiar, maior também será o desequilíbrio social. Eis a lei de causa e efeito.
Certa feita, pelas mãos de Chico Xavier, Neio Lúcio, espírito, marrou que o Mestre Jesus, na casa de Simão Pedro sentenciou:
“A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendermos a viver em paz entre quatro paredes, como aguardar a harmonia da nações.”
Vejam a sabedoria de Jesus, demonstrando seu mais profundo conhecimento da alma humana.
O quanto os seus ensinamentos são atuais e devem ser o exemplo a ser seguido. De fato, nós mesmos podemos confirmar essa advertência do Mestre, analisando, no nosso dia a dia, a nossa conduta fora de casa, quando temos algum problema dentro da família. Quando começamos o dia com desavenças no lar, ainda que de pequena monta, nosso dia parece que não engrena. Algo parece que esta amarrado, dificultando o nosso deslanche. E aquela desarmonia familiar tende a se reproduzir fora do lar, seja o trânsito, no trabalho ou na escola. Quantas crianças tem experimentado quer no rendimento escolar quanto seus pais passam por desavenças conjugais? Muitas chegam, inclusive, a repetência, sem falar ainda em doenças adquiridas em tempos de crise conjugal. E, por vezes, as desavenças dos pais são tão profundas que provocam verdadeiros traumas psicológicos nos filhos. Só que um dia a criança também cresce e pode se tornar um novo pai ou uma nova mãe, com um perigo muito grande de reprodução daqueles transtornos vivenciados na infância.
Aqui entra a responsabilidade do pai, da mãe ou do responsável pela educação.
Se a mãe soubesse a força que dispõe da palavra diante dos seus filhos, procuraria falar com mais cuidado. A tua conversa, mãe, é tinta divina, e tua mente educada, a caneta pela qual podes escrever no destino do teu filho.
A criança é por assim dizer, uma folha de papel em branco, na existência que começa, que foi dada aos pais para escreverem nela as primeiras letras da educação. É certo que a verdadeira educação começa no lar.
A mãe, nos primeiros anos do bebê, é um sol para aquecê-lo, é uma mão divina para guiá-lo no caminho da vida.
A voz materna pode ganhar ou perder autoridade moral perante os filhos, dependendo do modo de vida que escolhe. O exemplo é a força dominante na vida daqueles que convivem contigo, mãe, e este filho há muito tempo está contigo.
A mulher tem uma grande missão junta à família, na arte de falar à esta, e nisto está muita responsabilidade no que diz aos outros.
Falando no teu lar, estás preparando outras mães e pais para outros lares, que sucessivamente herdam o que falas, o teu exemplo.
E tu pai, também é de grande importância. A tua conversa, é de certo modo, alimento para os espíritos que moram contigo, não existe família unida sem palavras bem formadas.
Mas, voltando ao nosso exemplo anterior, de analisar a nossa conduta no dia a dia, se temos harmonia em casa, tudo conspira a nosso favor, sentimos que somos amados, queridos por nossos familiares, e aí o nosso comportamento no meio social tende a ser muito melhor, pois temos uma grande retaguarda de amor em nossa família. Sem a família não há evolução espiritual, ao menos em nosso atual estágio evolutivo. Allan Kardec perguntou ao Espírito da Verdade, questão n° 775 no Livro dos Espíritos:
“Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família?”
A resposta foi curta e sábia:
“Um recrudescência do egoísmo”, ou seja um agravamento do nosso egoísmo.
Olhem que resposta magnífica, o melhor remédio para curar o egoísmo é viver em família. Sim, porque no lar nós vamos compartilhar a vida com pessoas diferentes de nós. Cada componente de uma família é um ser diferente do outro. As vezes, até são parecidos, mas iguais, nunca. Podemos dar como exemplo, um filho que gosta de estudar, outro que não suporta um livro. A esposa prefere férias no litoral, o marido gosta do campo. E todos estão reunidos para um “lar, doce lar”.
Por isso, viver em família é imperativo evolutivo de todos nós. Exatamente porque ainda somos muito egoístas, não aceitamos as nossas limitações e as limitações dos que nos rodeiam e, portanto, precisamos das diferenças para evoluirmos. Daí por que na família acabamos convivendo com pessoas muito diferentes de nós. E parece que quanto maior o egoísmo, maior é a diferença. Isso explica aquela insatisfação que sentimos com nossos familiares, exatamente por que eles não são do jeito que nós gostaríamos que eles fossem. Nós sempre achamos “algo do vizinho” melhor do que o que temos. E assim todos caminham insatisfeitos.
As diferenças devem ser, antes de tudo, aproveitadas. A diferença também tem a sua beleza e pode nos proporcionar grande aprendizado.
Com uma convivência aberta, cada um vai ficando menos egoísta, porque aceita o outro como ele é e acredita que também pode aprender algo com o outro. É um processo de muita interação, que só ocorre quando aceitamos os outros e quando saímos da condição de “certinhos”, de perfeitos. Todos nós precisamos de contrastes, das adversidades, por isso é que o benfeitor Emmanuel afirmou ser o lar o purificador das almas individadas. As carências de hoje representam os abusos do passado.
É preciso, pois, estar atento ao aprendizado que a vida familiar está lhe oferecendo. Só a família é capaz de propiciar essa experiência tão enriquecedora.
Sem esquecer, ainda, que na família é que nós encontramos as nossas melhores companhias. Estamos reencarnados entre aqueles espíritos mais indicados ao nosso progresso espiritual.
Eles nos trazem as lições ainda não aprendidas. Diante daquele familiar que representa um problema, indague-se qual a lição que a vida esta lhe trazendo. Paciência? Aceitação? Perdão? Doação? Muito provavelmente.
Não encaremos nossos familiares problema como um carma, como um castigo. Um relacionamento difícil é algo para ser superado. Não temos que agüentar um familiar difícil, temos é que amá-los.
Portanto vamos amar nossa família do jeito que ela é. E se eles não são aquilo que gostaríamos que fossem, lembrem-se de que nós também não somos o que eles gostariam que fôssemos. Sem esquecer, ainda, que provavelmente já convivemos com eles em vidas passadas e devemos ter nossa parcela de responsabilidade nessa história de capítulos tristes, mas cujo final poderá ser muito feliz, se soubermos amá-los como nossos irmãos.
Eles, nossos familiares, são nossos próximos mais próximos. Não adianta querer amar o mundo, se ainda não somos capazes de amá-los. Se houver muito ódio, perdoe. Esqueça as ofensas. Seja você aquele que ama. Não guarde o amor dos outros nem o reconhecimento pelos seus gestos. Dê o primeiro passo para a sua família ser mais feliz.
Comece com pequenos gestos. Sorria, cumprimente familiares pela manhã. Ore por eles. Faça pequenas gentilezas no lar. Seja capaz de elogiar seus familiares. Eis alguns passos para testemunhos maiores. Sua família e você ficarão muito feliz.
Que tal experimentar?