Jesus, Modelo e Guia
Palestra Virtual
Promovida pelo IRC-Espiritismo
http://www.irc-espiritismo.org.br
Centro Espírita Léon Denis
http://www.celd.org.br
Palestrante: Sergio Aleixo
Rio de Janeiro
21/07/2000
Organizadores da palestra:
Moderador: “lflavio” (nick: ||Moderador||) “Médium digitador”: “cacs” (nick: Sergio_Aleixo)
Oração Inicial:
<||Moderador||> Deus, nosso Pai; Jesus, nosso Mestre, queremos agradecer pelo dom da vida, e pela oportunidade de estarmos juntos, para aprender mais sobre os ensinos e sobre a vida de nosso Mestre. Rogamos aos amigos espirituais, que nos envolvam e envolvam de maneira especial, nosso irmão Sergio, encarregado do estudo da noite. Que assim seja !
Considerações Iniciais do Palestrante:
<Sergio_Aleixo> Estimados companheiros, que Jesus nos abençoe e nos conceda a sua paz!
Em meio à crescente proliferação de doutrinas exóticas no seio mesmo do movimento espírita, sobremodo nos preocupam aquelas cujo resultado é a deturpação da legítima visão espírita de Jesus de Nazaré.
Ao contrário do que a negligência de muitos confrades pode supor, Allan Kardec deixou bem definida a concepção espírita sobre a natureza do Cristo, quer física, quer, sobretudo, espiritualmente. Senão vejamos:
No comentário ao nº 226 de “O Livro dos Espíritos”, o codificador estabelece que, quanto ao estado no qual se encontram, os espíritos podem ser encarnados, errantes ou puros. Acerca dos puros, dizem os espíritos superiores: “Não são errantes … Esses se encontram no seu estado definitivo. Tal é a condição espiritual de Jesus: a dos espíritos puros, ou seja, a dos espíritos que “percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria” (Ob. cit., 113).
Apesar de integrar o número dos que “não estão mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis”, dos que “realizam a vida eterna no seio de Deus” (id., ibid.), entre nós, por missão, o mestre encarnou-se.
Conforme o item 233 de “O Livro dos Espíritos” esclarece, “os espíritos já purificados descem aos mundos inferiores”, a fim de que não estejam tais mundos “entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los”. É bem verdade que no comentário ao item 625 da mencionada obra, Allan Kardec apresenta Jesus como “o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra”, em quase exata conformidade com o que diz sobre os espíritos superiores: “Quando, por exceção, encarnam na Terra, é para cumprir missão de progresso e então nos oferecem o tipo da perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo” (Ob. cit., 111).
Evidentemente, o codificador considera a encarnação de espíritos superiores uma exceção neste mundo pelo fato de espíritos dessa classe já haverem superado o nível de provas como nós costumamos entendê-las (Ob. cit., 268), estando, pois, evolutivamente, situados para além do que o nosso planeta lhes poderia proporcionar em termos de aprendizado Na linguagem escriturística, são chamados, por vezes, “filhos do homem”, porque suplantaram, neste caso, as condições evolutivas da Terra.
Mais adiante na evolução, contudo, estão aqueles que, a exemplo de Jesus, ultrapassaram o próprio plano ôntico de humanidade. Integram já o “estado definitivo”, de que a questão 226 de “O Livro dos Espíritos” nos fala, ou seja, o estado angelical. Salientemos porém que, na doutrina espírita, o rigor do conceito de pureza se concentra na expressão puro espírito, que Kardec explicou ser o estado dos seres que tradicionalmente são chamados “anjos, arcanjos ou serafins”. Entretanto, não quis o codificador estabelecer, com isso, a existência de gradações, ou níveis diferentes, no estado de pureza espiritual. Basta confrontarmos o item 113 com o item 226 de “O Livro dos Espíritos”. Tanto assim é que o mestre lionês afirma em “O Céu e o Inferno”, 1ª parte (VIII:13): “[o espírito] pouco a pouco se desenvolve, aperfeiçoa e adianta na hierarquia espiritual até o estado de puro espírito ou anjo. Os anjos são, pois, as almas dos homens chegados ao grau de perfeição que a criatura comporta, fruindo em sua plenitude a prometida felicidade. Antes, porém, de atingir o grau supremo, gozam da felicidade relativa ao seu adiantamento (…)”.
O sacrifício tipicamente missionário de um retorno físico à Terra, porém, mesmo quando já não há necessidade desse tipo de experiência para evoluírem, é meritório aos espíritos superiores, isto é, do ponto de vista de sua progressão. Até porque os espíritos superiores não integram ainda a classe dos puros espíritos, ou seja, não se encontram ainda no seu estado definitivo. Alguns entendem que este seria o caso de Jesus de Nazaré. Ele teria atingido a perfeição, ou, quiçá, um grau evolutivo mais alto entre os “filhos do homem” somente após o cumprimento de sua missão…
Aliás, isso é sugerido pelo autor da Epístola aos hebreus, o qual entende que Jesus, por seus sacrifícios, teria passado, de “sacerdote”, à condição de “sumo sacerdote” do que ele chama “ordem de Melquisedeque”. (cf. V, 5-10; VI, 20). Ainda que essa idéia não confronte com o ensino de “O Livro dos Espíritos” (no qual Jesus figura, conforme vimos, como espírito superior; passível, portanto, seria ele de aperfeiçoamento), não devemos desposá-la.
E isso por uma razão muito simples: a codificação espírita começa em “O Livro dos Espíritos”, mas não termina nele! O próprio mestre lionês disse: “O Livro dos Espíritos” não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação (“Revista Espírita”, julho de 1866. IDE, Tomo IX, p. 223). Assim foi que Allan Kardec, de comum acordo com os espíritos superiores que o orientaram, desenvolveu o conceito espírita sobre a condição espiritual de Jesus, como aliás o fez em relação a outros temas doutrinários. Senão, vejamos:
Já mesmo em “O Livro dos Médiuns”, obra que constitui a seqüência de “O Livro dos Espíritos”, o mestre de Lyon passou a classificar Jesus como espírito puro. Na nota que escreve à dissertação IX do capítulo XXXI, falando de Jesus, distingue, com absoluta clareza, “os espíritos verdadeiramente superiores” daquele que é o espírito puro por excelência.
No mesmo sentido, em “A Gênese” (XI:45), o codificador mantém a distinção: “(…) espíritos superiores, embora sem as qualidades do Cristo, encarnam de tempos a tempos na Terra para desempenhar missões especiais, proveitosas, simultaneamente, ao adiantamento pessoal deles, se as cumprirem de acordo com os desígnios do Criador.” Vê-se que Allan Kardec diz que tais espíritos, mesmo superiores, não têm as qualidades do Cristo. De novo, ele estabelece, portanto, marcada diferença entre Jesus e os espíritos superiores, como fez no trecho citado de “O Livro dos Médiuns.” E por quê?
Tão-só porque os espíritos superiores ainda não são puros. E não se trata de considerar Jesus um espírito puro apenas depois do cumprimento de sua gloriosa missão, tendo sido, antes dela, superior. Em “O Céu e o Inferno”, 1ª parte (III:12), elucida o mestre lionês: “Os puros espíritos são os messias ou mensageiros de Deus pela transmissão e execução das suas vontades. Preenchem as grandes missões, presidem à formação dos mundos e à harmonia geral do universo, tarefa gloriosa a que se não chega senão pela perfeição. Os da ordem mais elevada são os únicos a possuírem os segredos de Deus, inspirando-se no seu pensamento, de que são diretos representantes.”
No mesmo sentido, em “A Gênese” (XI:28), Kardec explica que, “chegados ao ponto culminante do progresso”, os espíritos são “… admitidos nos conselhos do Onipotente, conhecem-lhe o pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos no governo dos mundos, tendo sob suas ordens os espíritos de todos os graus de adiantamento”.
Mais adiante, no capítulo XV, item 2, o codificador diz que Jesus está colocado, “por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade terrestre”, explicando ainda o seguinte:
“Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento dos seus desígnios. Mesmo sem supor que ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um messias divino”.
E Kardec prossegue afirmando sobre Jesus: “Como homem, tinha a organização dos seres carnais; porém, como espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível.” Ora! Se, antes do cumprimento de sua missão, Jesus era, conforme entende o codificador, mensageiro direto da divindade (porquanto tal missão lhe foi confiada antes de sua encarnação), é que o mestre já havia atingido o ponto culminante do progresso: a perfeição relativa, isto é, a que a criatura comporta perante o seu Criador.
Salvo melhor juízo, o Cristo não dependeu, portanto, do desempenho de sua missão para purificar-se. Ele era, desde muito antes de se encarnar entre nós, um espírito puro ou messias. Daí o arremate de Allan Kardec ao item 2 do capítulo XV de “A Gênese”: “Que espírito ousaria insuflar [a Jesus] seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo a definição dada por um espírito, ele era médium de Deus.” Assim, entre Jesus e Deus não havia, não há nem nunca haverá outros espíritos; ou seja, ele não agia como médium de espíritos superiores, porque não os há superiores ao mestre dos mestres, embora, evidentemente, haja-os como ele, também puros, em comunhão perfeita com o pai celestial.
No livro “Obras Póstumas”, em seu estudo sobre a natureza do Cristo, item V, afirma Kardec que o “estado normal” de Jesus é o de identificação com a divindade. No item IX desse mesmo estudo, Kardec esclarece que, ao se dizer filho único de Deus, Jesus não entendia tratar-se do “único ser que haja chegado à perfeição, mas que era o único predestinado a desempenhar aquela missão na Terra”.
Lembraríamos ainda de uma pertinente instrução do espírito Emmanuel. Na obra “O Consolador”, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, em sua resposta à questão 327, afirma o benfeitor: “Em Jesus cessaram os processos, sendo indispensável reconhecer na sua luz as realizações que nos compete atingir”. Desse modo, podemos, até aqui, constatar que tudo o que há ressaltado da codificação espírita é ratificação lógica das palavras do próprio Jesus a seu respeito, contidas nas escrituras.
Em João 10:30, o mestre afirma: “Eu e o Pai somos um”, o que revela, não a divindade do Cristo, que não é Deus, mas sua plena integração com o pai do céu, sua condição de mensageiro direto da divindade, de espírito puro ou messias, porque atingiu seu estado definitivo, após, como qualquer outro espírito, evolucionar até o ponto culminante do progresso, ou seja, até o grau supremo de perfeição que a criatura comporta.
Esta condição, aliás, Jesus Cristo assinalou-a como essência e destino de todos nós, pois defendeu o título de ‘Filho de Deus’ identificando sua natureza com a nossa, ao argumentar: “Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? – Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, então daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei: sou filho de Deus? (João 10:34-36). Equivaleria a dizer: “Se vocês, que ainda não foram santificados, isto é, que ainda não realizaram a perfeição a que estão destinados, são, em si mesmos, deuses, ou seja, filhos de Deus, como é que eu, já tendo realizado essa perfeição, poderia estar blasfemando ao dizer-me filho de Deus!?… O texto integral do Salmo 82, em seu versículo 6, não deixa dúvidas quanto ao fato de Jesus ter identificado sua natureza à nossa: “Eu disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo.”
A diferença, pois, entre Jesus e nós outros, segundo o próprio mestre, estava na santificação, isto é, na plenitude da evolução espiritual, que ele já atingira e da qual, por certo, estamos ainda muito longe. Em João 3:10-13, após explicar a lei dos renascimentos ao perplexo Nicodemos, Jesus afirma: “És mestre em Israel e ignoras essas coisas? – Em verdade, em verdade, te digo: falamos do que sabemos, e damos testemunho do que vimos, porém não acolheis o nosso testemunho. – Se não credes quando vos falo das coisas da terra, como ireis crer quando vos falar das coisas do céu? – Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do mesmo. Que prova da evolução espiritual pela reencarnação! O mestre assegura ao doutor da lei que está falando do que sabe e está dando testemunho do que viu. Isto quer dizer que, sobre perfeição, sobre a destinação de todos os filhos de Deus, o Cristo tem conhecimento de causa. Ele tem, portanto, absoluta autoridade para ensinar, pois, a seu turno, em eras remotas de mundos para nós desconhecidos, também ele se feriu nas urzes da trilha evolutiva, conhecendo-a passo a passo.
Jesus evidencia ter atingido sua condição de pureza evoluindo, como qualquer outro espírito criado por Deus, pois que subiu ao céu. Ora! Se subiu, não esteve sempre lá, em estado de perfeição, mas o atingiu, como ressalta também de sua dita em João 16:33: “Estas cousas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. – No mundo, tereis aflições, mas tende bom ânimo: eu venci o mundo”. O que vale dizer: “Eu venci essa fase de evolução pela qual vocês agora passam, como já venci as demais; e vocês também as vencerão. Para isto, eu vim até vocês.” O processo de evolução de Jesus, é claro, aconteceu antes que este mundo existisse, antes da formação deste planeta, cuja co-criação e direção sempre lhe esteve nas mãos. É o que deduzimos de Mateus 28:18: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”. Toda a autoridade! Não é alguma autoridade. É toda! No céu, ou seja, evolução em planos mais sutis, e na Terra: planos mais densos.
Em João 1:3, lemos: “Todas as cousas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez”. E em João 17:4-5, lemos: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer – e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.” Vejamos bem! Jesus não se refere a uma glória maior, mas à mesma glória de antes, junto do pai celeste… É que ele não evoluiu ao desempenhar sua tarefa, simplesmente exerceu a perfeição que já lhe era inerente. Não havia o que evoluir. Talvez nos dirijam refutações com a idéia, eminentemente matemática, de uma evolução espiritual que seria infinita. Muito monótona, pensam, seria a perfeição: nada a fazer… nada a aprender… Ora! A matemática pode ser muito boa para a física, mas não estamos tão certo de sua validade para esta questão da metafísica. A idéia de uma evolução infinita, conforme já vimos, “O Livro dos Espíritos” e toda a codificação não a endossam.
A título de ilustração, podemos citar, ainda, o que ensina o item 290 da obra-base, ao afirmar que espíritos de diferentes níveis de evolução podem ver-se “de tempos a tempos, mas não estarão reunidos para sempre, senão quando puderem caminhar lado a lado, ou quando houverem se igualado na perfeição”. Um espírito pode, pois, chegar antes que outro à perfeição; porém, quando este segundo também a atinge, àquele primeiro forçosamente se iguala, o que não seria possível se a evolução do primeiro ainda estivesse em processo. A mesma preocupação, por assim dizer, igualitarista, é manifestada por Kardec no item 126 de “O Livro dos Espíritos”, quando inquire: “Chegados ao grau supremo da perfeição, os espíritos que andaram pelo caminho do mal têm, aos olhos de Deus, menos mérito do que os outros?” Respondem os espíritos: “Deus olha de igual maneira para os que se transviaram e para os outros e a todos ama com o mesmo coração.”
Quanto à hipótese de o espírito perfeito, finda sua evolução, nada mais ter a fazer, só podemos lamentar o desconhecimento doutrinário dos que com ela pretendem contra-argumentar. Basta lermos o item 113 de “O Livro dos Espíritos”, o já citado item 12 do capítulo III da 1ª parte de “O Céu e o Inferno”, ou, ainda, o também citado item 28 do capítulo XI de “A Gênese”. O que não falta é trabalho!
A evolução, dizem comentaristas mais perspicazes, seria infinita porque teríamos sempre o que aprender diante de Deus. No entanto, se assim fosse, caducaria o item 226 de “O Livro dos Espíritos”, pois não existiriam espíritos puros, isto é, em “estado definitivo”, apenas os haveria encarnados ou errantes, errantes ou encarnados, eternamente. Lembraríamos dos números 10 e 11 de “O Livro dos Espíritos”, que, condensadamente, dizem o seguinte: “Será dado um dia ao homem compreender o mistério da divindade, a natureza íntima de Deus, quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá.”
O item 562 de “O Livro dos Espíritos” é claro demais para permitir qualquer dúvida remanescente a este respeito. Allan Kardec perguntou aos espíritos superiores, em termos categóricos: “Já não tendo o que adquirir, os espíritos da ordem mais elevada se acham em repouso absoluto, ou também lhes tocam ocupações?” Resposta: “Que quereríeis que fizessem na eternidade? A ociosidade eterna seria um eterno suplício.” A isso redargüiu o codificador: “De que natureza são as suas ocupações?” Resposta: “Receber diretamente as ordens de Deus, transmiti-las ao universo inteiro e velar porque sejam cumpridas.”
Ou seja, sem que isso represente, para a criatura, igualar a perfeição de Deus, o Absoluto é, de alguma forma, acessível ao ser relativo, num estado de espiritualidade que somente compreenderá ao atingi-lo, no final do processo evolutivo, quando “não lhe faltar para isso o sentido” (“O Livro dos Espíritos”, 10). É certo, todavia, que, para o espírito no seu “estado definitivo” (ibid., 226), no seu “estado de pureza perfeita” (ibid., nº 268), nada mais representam tempo, espaço, ou qualquer de nossos parâmetros habituais de mensuração, porque, “ao cabo de muitas existências”, já se encontra, finalmente, “integrado em Deus”, embora, nem por isso, possa igualar-se a ele (ibid., 243 e 243-a).
A plenitude do ser criado, a perfeição relativa, é o máximo estado de comunhão possível com Deus, por ele mesmo determinado. Nesse estado, o espírito não cogita, como nós outros, de evoluir, mas, simplesmente, de exercer a plenitude de sua condição de criatura; e tal condição nada tem de monótona, porque cheia do dinamismo divino, do incondicional amor, cujo exercício não redunda num melhoramento pessoal, porquanto o ser não é mais, a essa altura, o que conhecemos por persona (máscara); suas atividades redundam numa perene afirmativa da perfeição, numa perene afirmativa da “meta” que atingiu (“O Livro dos Espíritos”, 115).
Nosso objetivo não é aqui dogmatizar. É esclarecer. No Espiritismo não existem dogmas, embora devamos reconhecer que haja nele diretrizes muito bem definidas. Ora! O agnosticismo é a conseqüência imediata da idéia eminentemente matemática de uma evolução infinita. Tal proposição pode ser intelectualmente sedutora, pois aparece sempre fantasiada de filosofia; mas, conforme vimos, não é esse o entendimento da doutrina espírita.
Eis o que ensina a terceira revelação da lei de Deus acerca de Jesus: guia e modelo da humanidade (“O Livro dos Espíritos”, 625).
Mas em que sentido considerar a palavra ‘humanidade’? Num sentido restrito à Terra? Se tivermos em vista apenas “O Livro dos Espíritos”, sim. Todavia, conforme demonstramos, não, se considerarmos a codificação em sua plenitude conceitual a respeito de Jesus.
Disse também Kardec em “O Céu e o Inferno”, 1ª parte (III:14): “A humanidade não se limita à Terra, habita inúmeros mundos que no espaço circulam; já habitou os desaparecidos, e habitará os que se formarem. Tendo-a criado de toda a eternidade, Deus jamais cessa de criá-la. Muito antes que a Terra existisse e por mais remota que a suponhamos, outros mundos havia, nos quais espíritos encarnados percorreram as mesmas fases que ora percorrem os de mais recente formação, atingindo seu fim antes mesmo que houvéramos saído das mãos do Criador. De toda a eternidade.
Como eu já havia adiantado, a condição de angelitude, no rigor de sua acepção espírita, não admite gradações, pois é sinônima de puro espírito. Se considerarmos, porém, o significado da palavra ‘anjo’, que é ‘mensageiro’, teremos de convir que os existem sem que sejam necessariamente puros.
Para ilustrarmos, citemos Kardec mais uma vez, na “Revista Espírita” de janeiro de 1862, no seu magistral ensaio sobre a interpretação da doutrina dos anjos decaídos: “A palavra anjo é empregada indiferentemente, uma vez que se costuma dizer: os bons e os maus anjos, o anjo das luzes e o anjo das trevas; de onde se segue que, em sua acepção geral, significa simplesmente espírito.
Segundo a doutrina espírita, de acordo nisto com vários teólogos, os anjos não são seres privilegiados de criação, isentos, por um favor especial, do trabalho imposto aos outros, mas espíritos chegados à perfeição por seus esforços e seus méritos.
Para evitar todo equívoco, conviria reservar a qualificação de anjos para os puros espíritos.” O espiritismo, então, no caso de eventual necessidade de distinção entre os anjos, no sentido benigno da palavra, entende-os como mensageiros indiretos de Deus, quando pertencentes à segunda ordem, isto é, às várias classes de bons espíritos (“O Livro dos Espíritos”, 107 a 111). Ou então os entende como mensageiros diretos de Deus, quando integrantes da primeira ordem, classe única: a dos espíritos puros (ibid., 112 e 113). Não nos parece existirem argumentos, extra ou menos ainda intradoutrinários, que tornem necessária uma mudança nesta diretriz do pensamento espírita… Jesus: espírito puro, isto é, que atingiu o grau supremo de perfeição que a criatura comporta perante o Criador.
E oras! Se, conforme vimos, na condição de espírito puro, pode Jesus “receber diretamente as ordens de Deus, transmiti-las ao universo inteiro e velar porque sejam cumpridas” (“O Livro dos Espíritos”, 562), por que estaria ele restrito à Terra?
O fato é que, como qualquer outro espírito puro, o mestre dos mestres possui, sob sua augusta responsabilidade, inúmeros educandários de almas, correspondentes eles a todos os níveis da evolução universal, dos jardins de infância às universidades.
Por isso disse Jesus: “Tenho outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las também” (João 10:16); E em Mateus 28:19: “Eis que estou convosco até a consumação dos séculos”, isto é, com Pastorino: “até a consumação dos ciclos”, quer dizer, até o fim das etapas de nossa evolução: a perfeição espiritual.
Lembremos da chamada oração sacerdotal de Jesus: “Ó Pai, eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos. Eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste…” (João 17:22-24).
Pois que caiam as máscaras, desapareçam as personas e, à semelhança do mestre dos mestres, surpreenderemos o suposto Silêncio a cantar e cantar todas as líricas que compôs para nos jurar seu eterno amor.
Muita paz, meus queridos irmãos! E obrigado pela paciência. (t)
Perguntas/Respostas:
<||Moderador||> [01] <|Marcelo-RJ|> Como fica a questão da Virgindade de Maria, se Jesus disse que não veio destruir as leis?
<Sergio_Aleixo> Não é nosso tema na noite de hoje. (t)
<||Moderador||> [02] <Billykid> Boa noite Sérgio .Algumas revistas espíritas e espíritas condenam a Bíblia como fonte de estudos e base do cristianismo por ter sido manipulada pelos homens e por conter erros provenientes de traduções para os diversos idiomas. Qual sua posição quanto a isso?
<Sergio_Aleixo> A posição da Doutrina Espírita em “O Livro dos Espíritos” concordâncias bíblicas concernentes a criação: A Bíblia não é um erro, os homens éque se equivocaram ao interpretá-la. (t)
<||Moderador||> [03] <jaja> A seleção de Jesus como modelo e guia não restringe o âmbito da doutrina espírita a uma só religião ou filosofia, no caso o Cristianismo?
<Sergio_Aleixo> Não. Ninguém foi mais universalista do que Jesus, a despeito de ter vivido no mais sociocêntrico dos povos. (t)
<||Moderador||> [04] <lflavio> Como entender a posição de Jesus como guia e modelo, se seus ensinos são tão diversamente interpretados, pelas diversas correntes do Cristianismo?
<Sergio_Aleixo> A moral é inquestionável. É o que afirma Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. (t)
<||Moderador||> [05] <|Marcelo-RJ|> Certos autores de determinados livros espíritas afirmam que Jesus teve várias encarnações na Terra. Como, por exemplo: 2 na Lemúria, 2 em Atlantida, uma na Pérsia (como krisna), uma na Índia (como buda) e uma última na Palestina (como Jesus). Qual a sua opinião a respeito disto?
<Sergio_Aleixo> Não são livros espíritas. Emmanuel em “A Caminho da Luz” esclarece-nos ser falsa essa suposição. (t)
<||Moderador||> [06] <Amor> O espírito Verdade, presente no livro “O Evangelho …” pode ser Jesus?
<Sergio_Aleixo> Não digo que pode ser. Afirmo que é. Confira o item 48 de “O Livro dos Médiuns”. Kardec chama Jesus de “O Espírito da Verdade”. (t)
<||Moderador||> [07] <lflavio> Como, na prática, usar os ensinamentos de Jesus como modelo, se muitos nas dificuldades afirmam: “Não sou Jesus!”
<Sergio_Aleixo> A visão reencarnacionista do Espiritismo nos dá a medida exata desta responsabilidade. Jesus orienta com conhecimento de causa, com autoridade de quem passou por tudo que passamos hoje. Ele venceu! E veio a nós para que também vençamos.(t)
<||Moderador||> [08] <Amor> Sempre quando mencionam a mansidão de Jesus me lembro da Sua indignação com os vendedores no templo, quando destruiu barracas e expulsou os vendedores. Isso significa que para tudo há um limite?
<Sergio_Aleixo> Kardec comenta a passagem em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Não vê nela nada que atente contra a superioridade de Jesus. Não podemos confundir energia com violência. A passagem, apesar de verdadeira, não serve de pretexto para expansões coléricas, de corações odientos. Jesus o fez com autoridade e amor. Quem tiver ouvidos ouça. (t)
<||Moderador||> [09] <FCPorto> Boa Noite a todos. Desculpem o atraso. Gostaria de saber a opinião do colega Sergio, acerca de variados pensadores espiritas brasileiros, dizerem com toda a convicção que Jesus foi o “médium” de Cristo. Ou seja Jesus e Cristo duas individualidades bem diferentes. Abraços de Portugal.
<Sergio_Aleixo> Esta é uma doutrina anticrística. João evangelista afirma em sua primeira epístola cap. I, versículo 22: “Quem é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo. Este é o anticristo. O que nega o PAI e o Filho”.
Portanto, vemos que este tipo de mistificação é antigo. Revela um plano da sombra para desvirtuar nossa visão sobre Jesus. Estes tais pensadores ao que o irmão se referiu, não são espíritas, pois é ponto pacífico no Evangelho e na codificação que Jesus é o Cristo.
Pedro, certa vez, estando mediunizado, afirmou: “Tu és o CRISTO, o Filho do Deus vivente”. Jesus aceita a revelação, dizendo: “Bem aventurado és Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que te revelaram isto, mas meu PAI que está nos céus”.
Portanto, os que afirmam que Jesus não é o Cristo, pretendem saber mais sobre Jesus do que Ele mesmo. (t)
<||Moderador||> [10] <lflavio> No mundo de hoje temos uma violência e incompreensão, incompatíveis com o exemplo do Mestre Jesus, mesmos entre os ditos cristãos. O que leva a esta incompreensão?
<Sergio_Aleixo> A ignorância e a imperfeição humana. Ao mesmo tempo, temos exemplos dignos que nos provam a evolução do homem no caminho do bem. Conhecidos uns e desconhecidos outros. Para isso veio a doutrina: multiplicar o número dos chamados e dos escolhidos. (t)
<||Moderador||> [11] <|Marcelo-RJ|> Algumas pessoas defendem a hipótese de que Jesus esteve em nosso meio com um corpo fluídico ou um corpo especial, sem ser igual ao nosso. Na sua opinião, isso é correto?
<Sergio_Aleixo> Jamais. Aliás, esta é outra mistificação antiga, denunciada por João evangelista em suas primeiras e segunda epístola. “O Espírito que não testemunhar que Jesus veio em carne, não é de Deus. Este é o anticristo”. Portanto, são inimigos antigos do cristianismo do Cristo, denunciados desde a primeira hora: Os que negam que Jesus é o Cristo, e os que dizem que Jesus não veio em carne. (t)
<||Moderador||> [12] <HENRIQUEE-RN> Gostaria de saber qual a credibilidade, no meio espírita, do livro “A História de Jesus ditada por Ele mesmo”, o qual teve como médium uma camponesa francesa? (t)
<Sergio_Aleixo> Nenhuma credibilidade. Apócrifo, sem dúvida. (t)
<||Moderador||> [13] <Billykid> Sendo Jesus o molde evolutivo do Cristianismo, seria coerente afirmar que só se é realmente cristão ao aprender e pôr em prática os ensinamentos, tornando-se assim , espíritos puros como Ele?
<Sergio_Aleixo> Só seremos Espíritos puros ao final de nossa evolução. Por hora, almejemos o título de amigos de Jesus, porquanto o Mestre nos ensina: “Sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando”. (São João, cap. XV). (t)
Considerações Finais do Palestrante:
<Sergio_Aleixo> Agradeço a atenção e peço a Jesus que abençoe a todos. Muita paz. (t)
Oração Final:
<Billykid> Bem, amigos, vamos elevar nossos pensamentos à Jesus Cristo, à Deus acima de tudo, a fim de agradecer à Ele a possibilidade de mais esta noite de estudos, mais uma oportunidade de obtermos conhecimentos à cerca da doutrina Espírita, a doutrina de Jesus , codificada por Kardec, num clima de paz, amor e amizade.
Pai, agradecemos a não interferência de irmãozinhos encarnados ou desencarnados que porventura pudessem aparecer e prejudicar o ambiente harmonioso sob o qual desenvolvemos este belíssimo trabalho no dia de hoje. Agradecemos também o amigo Sérgio Aleixo, agradecemos às pessoas presentes no canal e que tenhamos uma semana de muita paz , com o trabalho que nos educa e, principalmente, com a humildade que sempre nos eleva em nome de Deus. Que assim seja!