Palestra “O Pai Nosso”
Quando Jesus estava pregando o seu famoso Sermão da Montanha, aquele em que
houve o milagre da multiplicação dos pães, ele nos trouxe, entre outras
palavras, aquelas que ficaram conhecidas como a oração do “Pai Nosso”.
Em Mateus, capítulo 6, versículo 7, ele nos diz, “não useis de vãs
repetições”, como faziam os fariseus de seu tempo, e no versículo 8 diz, que
Deus sabe o que nos é necessário antes mesmo de pedirmos, e complementa no
versículo 9: “de modo que quando rezarem, façam assim:”, e inicia a ensinar a
prece. Com estas palavras, Jesus quer dizer que não existe uma fórmula para
falar com Deus. Se assim fosse ele diria, repitam estas palavras. Mas não, ele
disse, deste modo, com isso ele definiu a forma e não o conteúdo de nossas
preces.
O Pai Nosso já foi chamado de um pequeno resumo dos evangelhos. Ela é curta
de direta, densa em seu conteúdo e leve em suas palavras, é fácil e inteligível
para qualquer pessoa. Usemos ela como um exemplo para nossas próprias preces.
A prece é dividida em três partes: 1. Prefácio, 2. Petições e 3. Conclusão.
Seu prefácio é composto de “Pai Nosso” e “Que estás no céu”. Na primeira
parte, logo surge um ponto importante. Quem é o pai a que ele se refere ? A
segunda parte do prefácio nos indica isso, “que estás no céu”. Obviamente não é
aquele a quem costumamos chamar de pai, que nos trouxe ao mundo ou que nos
criou. Jesus sempre se referiu a Deus como a Meu Pai, de modo que é a Ele a que
a prece se direciona. Claro que a palavra céu aqui não é um lugar físico. Não é
em cima nem em baixo, mas no universo, em toda parte. N’O Livro dos Espíritos, a
primeira pergunta é, o que é Deus, e a resposta é: A causa primária de todas as
coisas. Sendo Deus a causa primária, é a Ele que devemos dirigir inicialmente
nossos pensamentos. Primeiro Deus, antes de tudo e de todos. É o que nos ensina
o Pai Nosso.
Mas porque pai ? Que queria dizer Jesus com isso ? Em que sentido Deus é pai
para nós ?
Primeiramente por criação. Uma vez que Ele é a causa primária de todas as
coisas, Ele é também a causa de nossa existência. Devemos nossas vidas a Ele,
assim, como criação d’Ele, criaturas feitas por Ele, podemos ser chamados também
de filhos d’Ele.
Mas a aceitação deste fato implica em outro muito importante. Na medida quem
e somos todos filhos d’Ele, e que Ele é um pai amoroso, infinitamente justo e
bom, então somos todos iguais perante Ele. Em Lucas, capítulo 20, versículo 36
existe este comentário: “Pois que Deus faz seus filhos iguais em hora aos
anjos”. Assim, ao aceitarmos Deus como pai, aceitamos sua justiça e sua
sabedoria. O que nos dá consolo, pois muitas vezes não entendemos o porque do
que nos acontece, mas se Deus é justo e bom, então, seja lá o que for, é o mais
certo para nós. Lembremo-nos que Jesus avisou antes, que Deus sabe o que
necessitamos antes de pedirmos.
Também quando aceitamos a Deus como pai, criamos um vínculo com o nosso
próximo. Lembre-se, é pai NOSSO, de todos nós. Não é pai meu, meu pai,
pai de meu pai ou qualquer outra forma de apropriação. E se somos todos filhos
do mesmo pai, temos a obrigação de aceitar e conviver com o próximo como nosso
irmão. Assim, não temos mais um estranho sentado ao nosso lado, temos apenas um
irmão que desconhecemos o nome. E por um irmão temos obrigações maiores do que
para com um estranho. Gostemos ou não, ao irmão devemos ajudar quando preciso.
Gostemos ou não, o irmão está ligado a nós. Ele pode não saber corresponder aos
nossos sentimentos, mas isto não nos exime de nossa obrigação para com ele.
Assim, quando iniciarmos a oração, não digamos a frase “Pai Nosso”
automaticamente. Façamos uma pausa. Meditemos, em tudo o que significa isso.
Tudo o que quer dizer “Pai Nosso”.
Em seguida vem a parte das petições, dos pedidos, são seis no total. O
primeiro deles é: Santificado seja vosso nome. Porque santificar um nome ? No
fundo Deus não tem nome. Nós o chamamos de diversas formas, mas não são nomes
próprios. Alguns usam Jeová, outros Alá, mas não são nomes de verdade, são
palavras de outras línguas que querem dizer a mesma coisa: Deus. Não é o nome de
Deus que devemos santificar, pois ele não existe, mas a sua idéia, sua essência.
Como Deus não tem nome, ele só pode ser concebido pela idéia do que Ele é.
O que é santificar o Seu nome então ?. É colocar Deus em nossas mentes e
corações com respeito e amor o tempo todo. É reconhecer que Seu nome, Sua marca,
está em tudo e todos nós, pois que tudo é obra d’Ele, desde a grama que pisamos
até a maior das estrelas.
Santificar o nome de Deus é confiar em Sua sabedoria e bondade infinitas. É
aceitar Seus desígnios sem reclamar. É obedecer Suas leis.
A segunda petição é: “Venha a nós o vosso reino”. Que reino é esse ? Claro
que é toda a criação. Deus reina sobre todos nós. Aceitar a Deus com um
soberano, é aceitar também a Sua vontade, pois se somos súditos d’Ele, devemos
obediência.
Mas que reino é esse que deve vir até nós ? Primeiramente podemos dizer que
este reino não é político, local, não é um país, não é um sistema ou modo de
vida material. O reino de Deus é espiritual. Ele existe na consciência de cada
um de nós. Colocado lá, no momento de nossa criação, como centelha divina, ele é
o destino para o qual fomos criados. O reino de Deus é a convivência com Ele, é
a perfeição d’Ele. E esta perfeição só pode ser atingida pela evolução.
Porque queremos que este reino venha até nós ? Porque temos consciência de
que não estamos nele. Sabemos que precisamos melhorar, aceitamos o fato de que
cometemos erros. Assim, como o reino dele chega até nós ? É quando procuramos
evoluir, quando tentamos, dia a dia, prece a prece, melhorar a nós mesmos.
E a melhor forma de evolução, é seguindo as leis de Deus. É procurando
conhece-las, aceita-las e aplica-las. E Jesus já nos deu a maior delas, já
informou que a primeira lei de todas, é amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo. E o próximo, já vimos antes, é aquele nosso irmão.
Distribuamos amor, como Deus distribui o tempo todo para nós.
A terceira petição é: “Seja feita vossa vontade, assim na terra como no céu”.
Esta petição se divide em duas partes. Primeiramente “Seja feita a vossa
vontade” vem nos lembrar a necessidade de aceitação dos desígnios do Pai. Já
aceitamos Ele como tal, já compreendemos que Ele é infinitamente justo e bom.
Agora, com esta frase, nos pedimos por duas coisas: aceitação passiva, que é ter
paciência, tolerância e paz para tudo o que nos acontece que não podemos mudar e
a aceitação ativa, na qual praticamos tudo o que Ele nos diz. Assim pedimos
forças para perseverar, continuar em frente, não desanimar, conscientes de que
tudo o que acontece é o melhor para nós.
Ao fazer a vontade de Deus, nós evidenciamos nossa sinceridade perante sua
vontade, demonstramos ao próximo, nosso irmão, como ele deve agir também. Ao
seguir as leis de Deus, seguimos também a lei de progresso, que nos faz evoluir.
Isso tudo nos dá a certeza e garantia do dever cumprido. André Luiz, um espírito
que escreveu muitos livros disse certa vez: “Àquele que faz o que pode, é
garantido o salário da paz”.
Na segunda parte da petição temos: “como no céu”. Já comentamos que o céu a
que nos referimos aqui não é lá em cima, mas no mundo espiritual, na vida não
material. Claro que podemos fazer tudo muito bem aqui, na frente de todo mundo,
mas qual a nossa intenção ao fazer isso tudo ? Ou seja, o que se vai em nosso
íntimo ?
A parte do céu de que falamos, é o nosso eu interior, nossos sentimentos e
vontades. Tudo o que fazemos, deve ser com pureza de coração. Podemos até errar.
De fato erraremos mesmo, pois nosso caminho para a perfeição ainda é longo de
difícil, mas com boa intenção. De nada vale ajudar o próximo apenas pensando no
cantinho do céu que se está comprando. Jesus nos demonstrou isso na parábola da
viúva. Mais vale um centavo dado de coração puro do que um milhão sem esta boa
intenção.
Vale aqui um lembrete. Pureza de coração não é perfeição de coração. Não
devemos esperar de nós melhor atitude daquela que somos capazes de dar. Se
fazemos o bem, mas fica ainda uma dúvida: “Será que estou agindo com verdadeira
pureza de coração”, ainda assim, é melhor do que não fazer nada. Pois por pouco
valor que tivesse aquele milhão perante o centavo da viúva, ainda era mais do
que aquele que nada deu. A procura da perfeição é uma estrada longa, cheia de
obstáculos. Não devemos desanimar, devemos seguir em frente, esta sim é a
verdadeira mensagem de fazer a vontade de Deus.
A quarta petição é: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”.
Sua posição, após a última, que era “Seja feita Sua vontade” já é
significativa. Primeiramente vem as coisas espirituais. Agora vem as coisas
materiais.
Que pão é este que falamos aqui. É o alimento. Durante muito tempo, nos mais
diversos povos, o pão sempre foi o símbolo do alimento. Não estamos pedindo aqui
um pedaço de pão, mas o alimento necessário à nossa subsistência. Aos animais,
Deus sempre provê, sempre garante o sustento, mas ao homem, é necessário o
trabalho, “ganharás o teu pão com o suor de teu rosto”. Assim, quando pedimos o
pão, pedimos sim é a garantia do nosso sustento. Mas isso implica também que
estamos dispostos a receber esta ajuda. Que quando as condições forem atendidas,
nós faremos a nossa parte. Mas como assim ? Ora, basta lembrar que ninguém sai,
de porta em porta oferecendo trabalho. Pelo contrário, é preciso lutar para
conseguir e manter um trabalho. Esta é a nossa parte.
Jesus também falou, mais adiante, que nem só de pão vive o homem. Que quis
ele dizer com isso ? Que o alimento que necessitamos vai muito além de nossa
fome de comer. Temos fome de viver, fome de aprender, fome de crescer. Assim,
esta fome também deve ser saciada.
Agora, quando no final da frase falamos: “nos dai”, temos aqui mais algumas
coisas para pensar. Porque pedimos a Ele que nos dê algo ? Aqui exprimimos o
sentimento de que tudo o que é bom, vem de Deus. Tudo o que temos, tudo o que
somos, são presentes de Sua bondade. Assim, se procuramos por coisas boas, vamos
até Ele.
Mas porque falamos no plural ? Porque não dizer: “me dê hoje” ? Porque
devemos ter sempre consciência de que existem mais pessoas à nossa volta, que
nossas ações, atitudes e decisões influenciam a todos, de modo que sempre que
recebemos algo de Deus, também temos o dever de compartilhar com nossos irmãos,
de uma forma ou de outra. Também devemos pensar no próximo ao fazer nossas
preces. Quando falamos nós é porque devemos ter em mente sempre as necessidades
dos outros.
Finalmente, porque nos dai “hoje” ? Porque não esta semana, este mês ou esta
vida ? Porque a oração deve ser uma obrigação diária. Como o trabalho. Não se
trabalha um dia para viver o mês, se trabalha um dia de cada vez. Assim deve ser
também com nossas preces, e conseqüentemente com nossa procura e ligação com
Deus. Diária.
A quinta petição é: “Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos
nossos devedores”.
Note-se aqui que já foram feitas duas petições para a alma e apenas uma para
o corpo. Jesus, em sua prece, deu grande importância às coisas espirituais. Não
esqueceu do corpo, pois sabia que saco vazio não pára em pé, mas deu o seu
devido valor, concentrando-se naquilo que não perece nunca, que é o espírito em
evolução.
De que dívidas estamos falando aqui ? Com certeza não é do crediário feito na
loja. Nem do dinheiro que emprestamos de alguém. Nem mesmo dos erros que
cometemos com nossos irmãos. Aqui nós falamos com Deus, e é das dívidas para com
Ele a que nos referimos.
E que dívidas são estas ? São as desobediências que cometemos todos os dias
às Suas leis. Como seres imperfeitos que somos, cometemos erros todos os dias. É
impossível não cometer erro. É de nossa natureza. Não será para sempre. Haverá
um dia que isso não acontecerá mais. Mas até lá tropeçaremos muito. E que fazer
então ?
Primeiramente reconhecer nossos erros. Não podemos esperar que perdoem uma
dívida que não sabemos se existe ou não. A auto avaliação, a auto crítica, devem
ser constantes de nossas vidas. Elas não evitam que cometamos os erros, mas nos
ajudam a pensar neles, e quem sabe na próxima vez, a nos lembrar do quão ruim
foi ter feito aquilo antes, e talvez então diminuir ou até evitar estes erros.
Em segundo lugar, devemos estar preparados para perdoar. Não seria justo se
Deus nos perdoasse, se não fôssemos capazes de fazer o mesmo. Assim devemos ter
sempre o desejo sincero de perdoar a tudo o que nos acontece. Claro que falar é
fácil, mas quando acontece fica realmente complicado. É por isso que isto é uma
petição. Ao repetir estas palavras, não apenas nos dispomos a faze-lo, como
pedimos força a Deus para consegui-lo. E se estivermos realmente dispostos, esta
ajuda sempre estará presente.
A sexta petição é: “E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do
mal”.
Esta também é dividida em duas partes: A primeira nos fala de tentação. O que
é isso ? São aqueles desejos irresistíveis que temos de fazer algo que sabemos
ser errado. Parece estranho, mas é muito mais comum que pensamos ou percebemos.
Perante Deus, nós somos como crianças, assim, podemos usar este tipo de
alegoria para ilustrar melhor nossas idéias. Se dermos todos os doces que uma
criança quiser, o que irá acontecer ? Ela provavelmente passará mal. É por isso
que não fazemos todas as vontades delas, pois elas não são capazes de
compreender. Mas e nós. Se comemos doces antes das refeições o que acontece ? Na
hora de comer, ficamos sem fome. Fica tudo por ai ? Claro que não. Acabamos não
nos alimentando bem, e passamos fome pouco depois, quando em geral não temos
mais chance de comer. Então sofremos. É por isso que não fazemos estas coisas.
Agora, aquela vontade de comer o doce, é uma espécie de tentação. Notem que é
diferente da criança, que não sabe ou não compreende. Nós sabemos o que
acontece. Nós entendemos que isso não é bom. Mas aquele doce … parece tão
gostoso … Mas resistimos. Não comemos o doce agora. Guardamos para depois da
refeição. E afinal e ficou melhor ainda.
Um doce não parece coisa muito grave, mas nossas vidas são cheias de exemplos
de situações similares, em que temos que fazer alguma coisa, mas acabamos não
fazendo, sucumbindo à tentação da preguiça. Ou que não podemos fazer alguma
coisa, mas acabamos fazendo.
Deus não intervirá aqui. Ele nunca intervém. Deus respeita nossas decisões,
certas ou erradas. Mas em nossas preces podemos pedir forças e discernimento.
Força é dada pêlos amigos espirituais superiores, que nos acompanham e inspiram.
O conhecimento só a experiência garante, mas podemos ouvir nosso bom senso, e
ele em geral nos indicará o que é melhor fazer.
A segunda parte nos fala: “Livrai-nos do mal”.
Que mal é este ? Deus é infinita bondade e perfeição. Ele nunca poderia criar
o mal. Este mal a que nos referimos aqui é criação do próprio homem, como
conseqüência das infrações às leis de Deus. Ao pedirmos para nos livrar do mal,
pedimos, portanto, para que sejamos ajudados a não errar ou falhar em algumas
destas leis.
Devemos estar conscientes que não existe fatalidade ao mal. Mesmo quando tudo
parece cair sobre nós, não é por acaso, e sim como conseqüência de nossos erros.
E se não vemos motivos, se fazemos tudo certinho mas os problemas persistem,
lembremos que não vivemos apenas esta vida, e que muito do que passamos hoje é
resultado do que fizemos ontem, e o que fazemos hoje é que irá determinar como
será o nosso amanhã.
Finalmente chegamos à conclusão: “Assim seja”.
Nós, espíritas, costumamos finalizar com “assim seja”. Os de outras religiões
costumam colocar aqui “Amém”. Na verdade é a mesma coisa. Amém é uma palavra que
vem do latim, e quer dizer exatamente “assim seja”.
O que queremos dizer com isso ? Que nosso desejo é que as coisas sejam como
estamos pedindo. Que aceitamos tudo o que Deus nos envia, na exata forma e
medida, mas que ao encerrar nossa prece, colocamos nela nossas esperanças e
desejos, e que por isso gostaríamos que fosse assim.
O desejo que aqui expressamos, é nossa parte humana, natural, sempre
presente. A aceitação da vontade de Deus é o retorno ao princípio, à aceitação
de Deus, assim, ao dizermos “assim seja” ou “amém”, chamamos de vota a nós o
Criador, e guardamos conosco esta última impressão, de Sua presença constante.
O Pai Nosso |
Pai |
Santificado seja o Vosso nome |
Venha a nós o vosso reino |
Seja feita a |
O pão |
Perdoai as |
E não nos |
Assim seja |