O Perdão
Todos nós buscamos a felicidade. Mas que felicidade é essa que quanto mais se
procura mais distante fica? Para que realmente a encontremos é necessário
conhecermos a nós mesmos e colocarmos em prática a nossa reforma íntima, ou
seja, a renovação das nossas atitudes.
Por isso, hoje, falaremos sobre o perdão, uma das maiores virtudes, através
das quais alcançaremos a paz e a felicidade interior.
Como nos mostra Miramez em Horizontes da Mente, o PERDÃO é um fato, sem que
exista discussão sobre o assunto, pois se fundamenta no amor e é sustentado pela
caridade, sem insultar a lei da justiça.
Infelizmente, nosso conceito de perdão pode limitar ou dificultar a nossa
capacidade de perdoar. Dizem que perdoar é coisa de gente fraca , medrosa, boba.
Possuímos crenças negativas de que perdoar é aceitar de forma passiva tudo o que
nos fizeram. Achamos que perdoar é aceitar agressões, desrespeito aos nossos
direitos. Muitos afirmam: “eu não levo desaforo para casa!…” Somos alguns
destes?
Será que a pessoa que perdoa demonstra fraqueza de caráter? Temos a certeza
que não. Aliás esta certeza não é nossa, mas do Cristo que nos recomendou e
viveu o perdão incondicional. E não consta que o Mestre tenha demonstrado em Sua
vida fraqueza de caráter. Alguns até pensaram que ele era meio fraco, já que
quando perseguido e açoitado, não esboçou qualquer gesto de reação e no auge do
seu martírio ainda foi capaz de pedir ao Pai que perdoasse os seus ofensores.
Até hoje ninguém lembra daqueles que o crucificaram, mas o nome do “imaginado
fraco”, do grande pacificador, cruzou os mares, venceu a linha do tempo, ficando
conhecido em todo o mundo, a tal ponto de dividir a história da humanidade em
antes e depois Dele.
Não existe uma razão plausível para não perdoar, mas existem muitas razões
para exercitarmos o perdão. Vamos ver algumas delas?
A primeira razão para perdoar encontra-se na constatação de que todos nós
ainda somos imperfeitos. Não há ninguém, no atual estágio do planeta Terra, que
tenha atingido a perfeição, por isso, o erro faz parte das nossas vidas. A visão
da eternidade, que a doutrina espírita nos mostra, abre os nossos horizontes,
pois se já percorremos inúmeras encarnações, muito já aprendemos, porém temos
que aprender outras centenas de lições. E como o Criador está em constante
processo de criação, cada um de nós iniciou sua trajetória evolutiva em época
diferente da dos demais. Logo, cada um de nós está em determinada faixa
evolutiva, com determinados aprendizados já realizados e com muitos outros a
serem realizados.
Então, se alguém nos ofende, não o faz por maldade, mas por ignorância.
Ignorância, significa, que quem nos ofendeu ignora, ainda não aprendeu a lição
do respeito. Somente quem tem a visão da imortalidade do espírito pode
compreender a trajetória que todos nós realizamos, passo a passo, degrau a
degrau.
Um exemplo simples: se déssemos a um aluno do Primeiro Grau uma equação
algébrica para ele resolver, dificilmente conseguiria e nem por isso seus
professores ficariam decepcionados com ele. Simplesmente entenderiam que ele não
estava em condições de resolver o problema. Ele ainda era ignorante em álgebra.
Futuramente não será mais.
Sendo assim, haveremos de aceitar as pessoas como elas são; cheias de
virtudes e defeitos. Não há perfeição, ainda somos imperfeitos. Vamos sair da
ilusão de que os outros devem ser perfeitos, principalmente quando agem conosco.
Muitos dizem: “Ah, eu me desiludi com aquela pessoa”. É claro! Sabem porquê ?
Porque se iludiram com ela, pensando que esta seria perfeita o tempo todo.
Provavelmente, notaram muitas virtudes e aí passaram a imaginar que aquela
pessoa era um “anjo caído do céu”, mas quando esta mostrou os seus defeitos,
veio a desilusão, o engano, a decepção. Aí, muitos dizem que não conseguem
perdoar porque estão muito magoados. Porém, o problema não está no outro, pois
era previsível que por mais especial que esta pessoa fosse, um dia acabaria
agindo de forma diferente daquela que esperávamos. O erro está em nós, que não
aceitamos as pessoas como elas são.
Será que estamos aceitando as pessoas como são? Será que não estamos
esperando muito dos outros? Será que estamos esperando lidar com seres angélicos
num planeta de provas e expiações?
Podemos dizer: Sem Aceitação, Não há Perdão!
Nos aceitando e aos nossos irmãos como eles são, nossos relacionamentos
ficarão melhores. Sabem porquê? Porque não haverá tanta cobrança, tanta
expectativa. E quando eles ou nós errarmos, e eventualmente nos prejudicarmos,
haveremos de lembrar do Mestre Jesus, que perdoou a todos, exatamente porque
aceitou a cada um de nós do jeitinho que somos.
Um outro motivo para esquecermos as ofensas está na constatação de que o
perdão traz um grande alívio para quem perdoa. Nem sempre para quem é perdoado.
Porque muitas vezes quem é perdoado não consegue se livrar da sua consciência,
mas este também precisa aprender a se perdoar e a recomeçar novamente. O
autoperdão também é importante. Para que reconhecendo os nossos erros
encontremos forças para reformular nossas atitudes e começar uma nova vida.
Considerando a própria fragilidade, o indivíduo deve conceder-se a
oportunidade de reparar os males praticados, reabilitando-se perante si mesmo e
perante aqueles a quem haja prejudicado.
O arrependimento, puro e simples, se não acompanhado da ação reparadora, é
tão inócuo e prejudicial quanto a falta dele.
O autoperdão ajuda o amadurecimento moral, porque propicia clara visão
responsabilidade, levando o indivíduo a cuidadosas reflexões, antes de tomar
atitudes agressivas ou negligentes, precipitadas ou contraditórias no futuro.
Quando alguém se perdoa, aprende também a desculpar, oferecendo a mesma
oportunidade ao seu próximo.
Caso não nos perdoarmos ou não perdoarmos alguém, carregaremos os sentimentos
de mágoa e ressentimentos e este lixo tóxico produzirá em nosso organismo
doenças de difícil tratamento. Por que? Porque se alimentarmos idéias de ódio e
vingança entramos na mesma sintonia de agressão e sobrecarregamos nossos centros
energéticos, perturbando o nosso organismo, desencadeando um mundo de
distúrbios, fazendo com que nosso espírito sofra as conseqüências do que
provocou.
Eis o porquê do PERDÃO.
Muitos podem estar se perguntando como podemos aprender a perdoar.
Uma das ferramentas básicas para alcançarmos o perdão real, é conseguirmos
nos manter a uma certa “distância psíquica” da pessoa, do problema ou das
discussões. O que seria esta distância psíquica? É conseguirmos analisar, o
problema como se não fosse conosco. Porque este distanciamento fará com que não
exageremos na interpretação do problema, caindo em impulsos desequilibrados
causando uma sobrecarga em nossa energia mental. A mente com este desequilíbrio
dificulta o perdão. Então, nos desligando da agressão ou do desrespeito, nosso
pensamento vai sintonizar com mais clareza e nitidez no bem, renovando a
“atmosfera mental”.
Ao desprendermo-nos mentalmente, passamos a usar construtivamente os poderes
do nosso pensamento, evitando os “deveria ter falado ou agido”, eliminando da
nossa imaginação os acontecimentos infelizes que aconteceram conosco.
É fator imprescindível, ao “separar-nos” emocionalmente de acontecimentos
infelizes, a TERAPIA DA PRECE como forma de nos harmonizarmos, pois a prece
refaz os sentimentos de paz e serenidade, facilitando a harmonização interior.
Desligar-se não é um processo de nos tornar insensíveis e frios,
comportando-nos como criaturas inacessíveis as ofensas e críticas. Desligar-se,
quer dizer deixar de alimentar-se das relações destrutivas, desvincular-se
mentalmente das relações doentias ou de problemas que não podemos solucionar no
momento.
Ao soltarmo-nos desses fluidos que nos amarram a essas crises, temos a chance
de enxergarmos novas formas de resolver dificuldades e desenvolvermos a nobre
tarefa de nos compreender e compreender os outros.
Quando aceitaremos fazer este “distanciamento” mais facilmente? Quando
conseguirmos acreditar que cada ser humano é capaz de resolver seus problemas, e
é responsável por todos os seus feitos na vida, permitindo que sejam, e se
comportem como queiram, dando-nos a nós essa mesma liberdade.
Viver nos impondo certa “distância psicológica” às pessoas ou coisas
problemáticas, sejam entes queridos difíceis ou companheiros complicados, não
significa que deixaremos de nos importar com eles ou de amá-los ou de
perdoar-lhes, mas sim de viver sem enlouquecer pela ânsia de tudo compreender,
suportar e admitir.
Compreendendo, que ao promovermos, este distanciamento psicológico, teremos
mais habilidade e disponibilidade para percebermos o processo que há por trás
dos comportamentos agressivos, permitindo-nos não reagir da mesma maneira que
fazíamos e sim olharmos “como é, como está sendo feito” nosso modo de nos
relacionar com os outros, isto nos leva a começar a entender a dinâmica do
perdão.
Uma das mais eficientes técnicas de perdoar é retomar o vital contato conosco
mesmo, deixando-nos de ser vítimas de forças fora do nosso controle para
transformar-nos em criaturas que criam sua própria realidade de vida, pois como
já diz o nosso querido Divaldo Pereira Franco:
“O PERDÃO É SEMPRE PARA QUEM PERDOA”.
Por isso, não nos contaminemos pela raiva, pela cólera e pela mágoa. Vivamos
em paz e com a nossa consciência tranqüila pronta para merecer o perdão das
pessoas que prejudicamos com os nossos atos, palavras e pensamentos, pois
somente será perdoado aquele que perdoa. Essa é a lei.
Façamos uma proposta conosco mesmo: passemos uma borracha em todos os
sentimentos de mágoa que e ainda temos. Libertemo-nos do ódio, expulsemos a
mágoa, perdoemos os nossos ofensores e a nós mesmos, pois todos nós necessitamos
do perdão Deus ensinado por Jesus na oração do Pai Nosso.
Se Deus, a Suprema Bondade, compreende nosso erros, porque não haveríamos de
entender os erros alheios?
Experimente perdoar, pois quem aprender a perdoar jamais se esquecerá, por
sentir os efeitos de felicidade que advém deste fato.