A Cura de Um Obsediado
Esses são os argumentos que os espiritistas tem as mãos, para responder aos
ataques das igrejas organizadas, lembrando aos acusadores que o próprio Jesus já
havia previsto essa espécie de desleal combate, quando advertiu: “se chamaram
Beelzebul ao dono da casa, quando mais o farão a seus familiares” (Mat. 10:25).
Com isso comprova-se que os espiritistas são, realmente, os “familiares de
Jesus”, pois neles se realiza a advertência profética do Mestre: as mesmas
acusações infundadas e maldosas.
O caso finaliza com uma sentença: “quem não está comigo, é contra mim; quem
comigo não ajunta, espalha”. Strack & Billerbeck, em seu comentário a este
passo, trazem vários exemplos de ditos judeus do Talmud, donde se conclui que
havia uma expressão “juntar”, que significava “não-fazer”: juntar os pés”,
queria dizer “não-andar”; assim “espalhar” exprimia “fazer”: espalhar os pés,
significava “andar”. Então, a segunda parte da sentença seria uma confirmação,
em paralelo, da primeira: quem não junta (se reúne) comigo, espalha (isto é, faz
um caminho inútil, perdendo seu tempo).
A lição para a individualidade não apresenta segredos: está clara no texto.
Observemos o modo de agir de Jesus, já salientada uma vez (vol. 3o. página 58):
Jesus não perde tempo em doutrinar o obsessor: cura o obsidiado. O Mestre tinha
capacidade para VER de quem era a culpa, coisa que ainda não podemos fazer. E
como sabemos que, em muitos casos, o obsessor é o menos culpado, já que é o
encarnado que o obsidia, não podemos discernir culpas nem culpados, então, para
não corrermos o risco de ser injustos, atendemos aos dois concomitantemente,
doutrinando o obsidiado e o obsessor. A diferença de ação depende da nossa
incapacidade de distinguir os casos, de saber se o carma já se completou ou não;
ignoramos qual o responsável, quais as causas, quem tem razão, etc. Enfrentamos,
pois o problema em seu conjunto.
Sabemos, todavia, que isso nos trará aborrecimentos e perseguições, tanto por
parte de encarnados presos a preconceitos de “escolas” (religiosa ou
cientifica), quanto por parte dos próprios obsessores e de seus amigos.
Alegremo-nos, portanto, quando formos acusados de vencer neste campo “por obra
do inimigo”: estaremos seguindo as pegadas do Mestre e colocando-nos na
inconfundível e invejável posição de Seus discípulos e familiares.
Outro ponto a salientar é a parábola do “homem forte”. Alude isso à força que
realmente possuem os espíritos obsessores, sobretudo se reunidos nas assembléias
organizadas no plano astral, com o fito de arrastar os encarnados para sua
inferioridade, por espírito de vingança e em vista da intimidade que com eles
tiveram em outras vidas. E também, em certos casos, por verificarem que algumas
criaturas, que aparentam e fazem questão de demonstrar virtudes e qualidades e,
no entanto, secretamente agem de modo totalmente oposto.
Entretanto, ensina-se taxativamente que, embora fortes, sempre o bem é mais
forte que o mal, sempre a luz espanta as trevas.
A última lição é uma advertência séria para todos nós: “quem não está comigo
é contra mim”. Plenamente real. Todo aquele que ainda não esteja unido ao
Cristo, está ligado ipso facto a personagem, o “satanás” opositor do espírito.
Está, pois contra Ele. E assim a segunda parte: “quem comigo não ajunta,
espalha”. Qualquer colheita que façamos no campo da personagem é um desperdício
que de nada serve. Para haver realmente lucro, mister colher no Espirito, unidos
ao Cristo, não importando que seja por meio da personagem, mas desde que não
seja só na, e para a personagem.
Desliguemo-nos da matéria, do transitório, das sensações, das emoções, do
intelectualismo, dos ritualismos, pomposos e ocos: tudo isso é um “espalhar” de
energias, inútil e prejudicial até, porque dai nada de concreto espiritualmente
levaremos, para a união com o Cristo Interno. Mas se, ao invés, nos unificarmos
com Ele, tudo isso nos virá espontaneamente, por acréscimo. Fundidos no Todo,
teremos o Todo, seremos o Todo. Desligados Dele, o vazio é nossa herança.
(Extraído do Livro “Sabedoria do Evangelho” – Carlos Torres Pastorino)