Ao afirmar que “Justiça sem amor é como terra sem água”, Emmanuel sintetiza,
através da comparação simples e forte, qual é o pensamento da espiritualidade
superior sobre o assunto, o que significa que a justiça é perfeita porque ELE a
fez assistida pelo amor, para que os caídos não sejam aniquilados.
Quem lê André Luiz percebe, nos seus relatos, com que amor são tratados
espíritos viciosos e criminosos e com que desvelo são eles acompanhados em suas
novas experiências terrestres, a fim de saírem vitoriosos.
E a justiça humana? Esta tem por símbolo uma mulher de olhos vendados,
segurando numa das mãos uma balança de dois pratos e na outra uma espada, o que
nos permite interpretar que ela pretende ser imparcial, equânime, isto é, tem a
disposição de reconhecer igualmente o direito de cada uma mas… a espada, no
mínimo, simboliza a força que garante ainda, em alguns pontos da Terra, a pena
de morte e a prisão perpétua.
Se a justiça humana fosse mais iluminada e aquecida pelo sol do amor divino,
cremos nós que ela corrigiria, na prática, dois enganos.
O primeiro deles é que o erro não pode ser confundido com a pessoa que errou.
Assim como em medicina já se aprendeu a separar o enfermo da enfermidade, a
criatura transviada tem que ser educada, tanto quanto o doente tem que ser
tratado.
O segundo engano é que a nossa justiça “julga os atos que considera puníveis,
pelos últimos lances de superfície”, isto é, não leva em consideração todas as
ocorrências que lhe deram começo, desde os menores impulsos. A Justiça humana
identifica os culpados pelas tragédias já consumadas, mas ignora os verdadeiros
motivos que estão atrás da conduta infeliz.
Desconsiderando as tramas de vidas passadas, o trabalho realizado na sombra
pelas inteligências desencarnadas; considerando apenas a vida presente, nossa
justiça não procura saber se o criminoso, antes de agir como tal, foi uma
criança amada, se teve lar, se freqüentou escola, se foi devidamente alimentada
nos primeiros e decisivos anos de vida, se foi induzida ao uso das drogas muito
cedo por força do ambiente em que viveu, se sofreu violência física e/ou
psicológica. É bom lembrar que muitas crianças vivenciam tudo isso antes de
tornarem adultos criminosos. Se a justiça se apiedasse dessas criaturas, o amor
se incumbiria de inspirar soluções diferentes que não fossem apenas a construção
de penitenciárias, reformatórios e manicômios.
É, pois, com esperança que registramos a existência de movimentos de pessoas
e instituições que procuram tutelar crianças vitimizadas e “adolescentes de
risco”, assim chamados porque estão vivendo em condições predisponentes para se
viciarem ou se tornarem criminosos.
Em nosso âmbito pessoal, não permitamos que a justiça caminhe sem amor “para
que não se converta em garra de violência”. Apiedemo-nos dos vencidos de todas
as condições. Na Terra ninguém está habilitado a julgar ninguém, porque ninguém
conhece a história do outro desde o princípio e ninguém está apto a perceber no
presente a causa invisível da degradação das criaturas.
Diante das tragédias, dos escândalos públicos ou da vida privada, mantenhamos
a conduta de comentar pouco, orar e auxiliar silenciosamente, porque não sabemos
se amanhã não será o nosso instante infeliz e orienta-nos o Mestre que façamos
aos outros o que desejamos nos seja feito.
Bibliografia:
“Religião dos Espíritos” e “Justiça Divina” – Emmanuel
(Jornal Verdade e Luz Nº 176 de Setembro de 2000)