Amizade
“Preciosa conquista,
a amizade é o pólen do amor, a medrar onde quer que as flores do sentimento
desabrocham na árvore generosa da dignidade humana.”(1)
Os sentimentos fraternos foram realçados pelo Apóstolo dos Gentios aos
tessalonicenses(2) como pré-condição aos trabalhos
na Seara do Cristo ao afirmar:
“Quanto à caridade fraternal, não necessitaria lhes escrever, visto que estão
todos instruídos por Deus de que devem amar-se uns aos outros.”
Emmanuel(3) lança um questionamento direto:
“Que esperam os companheiros esclarecidos para serem efetivamente irmãos uns
dos outros?”
Ele mesmo, mui austeramente responde à própria indagação:
“Muita gente se esquece de que a solidariedade legítima escasseia nos
ambientes onde é reduzido o espírito de serviço e onde sobra a preocupação de
criticar. Instituições notáveis são conduzidas à perturbação e ao extermínio, em
vista da ausência do auxílio mútuo, no terreno da compreensão, do trabalho e da
boa-vontade.
Falta de assistência? – Não.
Toda obra honesta e generosa repercute nos planos mais altos, conquistando
cooperadores abnegados.
Quando se verifique a invasão da desarmonia nos Institutos do Bem, que os
agentes humanos acusem a si mesmos pela defecção nos compromissos assumidos ou
pela indiferença no ato de servir. E que ninguém peça ao Céu determinadas
receitas de fraternidade, porque a fórmula sagrada imutável permanece conosco no
sempiterno:
“Amai-vos uns aos outros.”
Tão bem compreendeu o valor e o impacto desse postulado que Paulo, o “Vidente
de Damasco”, escreveu o seguinte apelamento: (4)
“Permaneça o amor fraternal.”
Emmanuel(5) , fiel discípulo do Doutor Tarsense,
abrindo o leque de nosso entendimento, cavoucando as leiras evangélicas e
extraindo de suas entranhas as gemas preciosas com o instrumental de seu
irreprochável tirocínio, esclarece:
“Este apelo evangélico de Paulo reveste-se de imensa importância. As afeições
familiares, os laços consangüíneos e as simpatias naturais podem ser
manifestações muito santas da Alma, quando a criatura as eleva ao altar do
sentimento superior, contudo é razoável que o Espírito não venha a cair sob o
peso das inclinações próprias.
Por demasia de cuidados, inúmeros pais prejudicam os filhos. Por excesso de
preocupações, muitos cônjuges descem às cavernas do desespero, defrontados
pelos insaciáveis monstros do egoísmo e ciúme que lhes aniquilam a
felicidade. Em razão da invigilância, belas amizades terminaram em abismos de
sombras.
O equilíbrio é a posição ideal.
A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações interpessoais.
O homem que se sente filho de Deus e sincero irmão das criaturas não é vítima
dos fantasmas do despeito, da inveja, da ambição e da desconfiança. Os que se
amam fraternalmente alegram-se com o júbilo dos companheiros; sentem-se felizes
com a ventura que visita os semelhantes.
As afeições violentas, comumente conhecidas na Terra, passam, vulcânicas e
inúteis…
Na teia das reencarnações, os títulos afetivos modificam-se constantemente. É
que o amor fraternal sublime e puro, representando o objetivo supremo do esforço
de compreensão, é luz imperecível que sobreviverá no caminho eterno.”
Pela Humanidade, Jesus fez tudo o que era possível em renúncia e dedicação. É
impressionante a Sua imensa afeição pelas criaturas. Seu exemplo, seguido
através dos séculos por abnegados discípulos, é sementeira de luz e reconforto
ensejando o vicejar da vera fraternidade.
Atentemos para o depoimento do médium fluminense J. Raul Teixeira, inserto no
livro do Dr. Miguel de Jesus Sardano, intitulado: “Nas Pegadas do Nazareno”:
“A História registra, com observações curiosas e importantes, uma realidade
que não se pode esquecer ou menosprezar. Todos aqueles que se destacaram,
singrando mares bravios, ou aqueles que desbravaram selvas, ou se tornaram
heróis por vários motivos que os consagraram, e tantos que se santificaram no
bem não o lograram sem a participação de outra Alma dedicada que os apoiou,
sustentou, auxiliou, de alguma sorte…”
Temos desde Sancho Panza, no formoso romance de Cervantes, personificando o
bom-senso realista ao lado do extremo idealismo de D. Quixote, até a excelente
atuação de Anne Sullivan, mestra devotada da menina Hellen Keller que, aos dois
anos de idade, ficara cega, surda e muda, transformando-se com a assistência de
Sullivan, a “fazedora de milagre”, na expressão cinematográfica de Arthur
Penna; numa mulher detentora de diversos títulos universitários, conhecida e
festejada em todo o mundo.
Conhecemos as dedicações como a de Frei Leão para com o “paizinho seráfico”,
Francisco de Assis, até o reforço tranqüilo e sem alarde de Amélie Boudet, a
doce Gaby, ao gigantesco trabalho de seu esposo Allan Kardec.
Ao lado de Divaldo Pereira Franco, na condição de amigo, irmão, guardião e
apoio, ergue-se uma figura que encanta pela simplicidade e amor ao trabalho, que
sensibiliza por seu devotamento à obra que, juntos, fundaram, e por sua
incansável versatilidade, atuando nos serviços de pedreiro ou gráfico, de
carpinteiro ou eletricista, de mecânico de automóvel ou de pintor, unindo tudo
isso à sua condição proeminente de pregador e doutrinador de largos recursos:
Nilson de Souza Pereira.
Se não é fácil ser grande durante mais de meio século, diante de câmeras, de
jornalistas, luzes, aplausos e pedradas públicos, igualmente não é simples o
trabalho de firmar os alicerces, que ninguém vê, quando anseiam por aparecer,
por projetar-se na claridade dos outros… Não é simples, também, o empenho de
aprender a ouvir atencioso, quando se sabe também falar; não é banal a grandeza
de renunciar à prática mediúnica na condição de médium ostensivo, para
dedicar-se ao diálogo instrutivo e emocionante com aqueles tidos como mortos,
mas que cantam ou choram, bendizem ou blasfemam no Além. Pois bem, o nosso
Nilson escolheu tal posição adotando a humildade operosa como bússola
para a sua Vida.
Ao levantarmos a voz para louvar a Deus pelos cinco decênios em que Divaldo
espalha luz pela plagas distintas do mundo, não podemos silenciar quanto a esse
apóstolo silencioso que lhe prepara o suporte, mantendo na retaguarda o grupo de
trabalhadores em ação, em prece pelo amigo em contínuas viagens.
Quando conhecemos de perto a extensão e a importância da obra de Divaldo em
Salvador; quando percebemos o papel de Nilson no seu plano de atividades, já não
conseguimos pensar nela sem os dois que, embora distintos, se completam, nesse
compromisso fulgurante com Jesus, que se espraia por cinco dezenas de anos, nas
terras do Brasil, vitorioso e abençoado.”
“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém
a Vida pelos seus amigos.”
1 – Victor Hugo/ Franco, D. P. in “Sublime Expiação”- livro 2º – Capítulo I
2 – I Tessalonicenses, 4:9
3 – Emmanuel/Xavier, F. C. in “Pão Nosso” – Capítulo 10
4 – Hebreus, 13:1
5 – Emmanuel/Xavier, F. C. in “Pão Nosso” – Capítulo 141
(Jornal Mundo Espírita de Setembro de 98)