Sobre o Espiritismo
d. é claro que através do computador não e possível receber um abraço amigo
ou mesmo um afago, mas podemos receber uma palavra amiga, que alias já recebemos
tantas vezes pelo telefone.
e. A tecnologia informática tem evoluído muito, e em breve já deveremos ter
comunicações audiovisuais através do computador, o que sem duvida vai aproximar
mais ainda as pessoas.
O atual momento “tecnológico” proporciona os itens a, b e c, temos duvidas de
que o item d será um dia atingido, pelo menos considerando o conceito atual de
“calor humano”, e pensamos que o item e vai mudar muita coisa em torno da
divulgação espírita na Internet.
O Espiritismo na internet tem acompanhado as fases que a própria Internet
vive. Como tecnologia nova as suas potencialidades e os seus objetivos são ainda
desconhecidos. Porem sentimos intuitivamente que ela vai crescer cada dia mais.
Alguns continuam a pensar: a internet é ainda para elites. Sim, isto e verdade
no atual momento, mas será no futuro? Cremos que não. No futuro ter internet em
casa será tão comum com ter uma TV, um radio ou mesmo um telefone.
O desconhecimento das potencialidades em torno da internet tem levado a
grande maioria das pessoas que querem disponibilizar material na internet a
comportarem-se da seguinte forma:
1o. Disponibilizar o material,
2o. Somente depois refletir o porque disponibilizar e qual a melhor forma de
fazê-lo.
O divulgação espírita na internet (com exceções), tem-se comportado de uma
maneira semelhante. Mas com o amadurecimento da internet esta divulgação
espírita vai amadurecer também, questionando a finalidade das informações
disponíveis.
O movimento espírita (na internet e fora dela) tem discutido a questão da
divulgação espírita na internet. A discussão esta centrada em dois pontos:
1 – deve o Espiritismo estar na internet? (em particular: deve o meu centro
colocar uma pagina WWW na internet, ou ter um e-mail?)
2 – quem deve fazer a divulgação do Espiritismo na Internet? Centros,
federações, espíritas ou simpatizantes?
Respondendo a questão 1, se a internet é um imenso meio para divulgação,
divulgar o espiritismo neste meio e caridade (tal como nos diz Emmanuel).
Fazendo uma analogia na qual consideramos a internet como uma imensa biblioteca,
alias a grande biblioteca do conhecimento humano, será que os livros espíritas
não fazem parte do conhecimento humano e portanto devem ficar fora da
biblioteca?
Respondendo a questão 2, pensamos que todos tem o direito a divulgar o
Espiritismo na internet, pois duas razoes: (1) o Espiritismo e uma doutrina que
nos ensina a tolerância e portanto não impõe estatutos humanos a sua divulgação,
(2) a Internet tem um caráter extremamente livre e não respeita (em principio)
as barreiras que os homens criam: fronteiras, nacionalidades, credos etc, o que
torna impossível “controlar” qualquer tipo de centralização.
Em suma, a divulgação na internet deve ser livre, porem aqueles que querem
divulgar o espiritismo devem ter a consciência da responsabilidade, procurando
sempre saber as finalidades da divulgação e as suas conseqüências, porque a
Internet não é só livre, ela é abrangente. E tal como podemos ver pelo
comentário do David, ela atinge proporções globais, colocando o Espiritismo face
a face com outras realidades.
A internet pode rapidamente colocar em contato os movimentos espíritas da
Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Espanha, EUA, Franca, Guatemala,
Inglaterra, Itália, Japão, México, Portugal, entre outros, devemos então
aproveitar este grande potencial.
O grande movimento espírita no mundo e sem duvida o brasileiro, tanto em
tamanho quanto em atividade, porem o Espiritismo é universal e é chegada a hora
de divulgá-lo ao mundo através da internet, não só em uma língua mas em
diversas, não só a partir de um ponto do planeta, mas sim de todos os pontos
possíveis. Cada um de nos, do conforto de nossos lares pode dar uma palavra
amiga, disponibilizar as atividades do seu centro, integrar-se em grupo de
estudo e de discussão, ouvir palestras edificantes e oxalá em breve conversar
face a face através do computador com pessoas que precisam ser reconfortadas.
Diante disto unamos os nossos ideais numa só corrente, o ideal da união
fraterna e universal dos homens para a melhoria do próprio homem.
Muita Paz,
Sergio, Portugal.
(Publicado no Boletim GEAE Número 280 de 17 de Fevereiro de 1998)
Espiritismo e a internet
Carlos Alberto Iglesia
Bernardo
Caros Amigos,
Na questão do “Espiritismo e a Internet”, levantada pelo Jacques e tão bem
respondida pelo David e pelo Sergio (boletim 280), gostaria de colocar alguns
comentários adicionais, algumas idéias que tem sido discutidas vez por outra nos
boletins e que se relacionam com a questão.
O Espiritismo tem uma característica um pouco diferente de outras doutrinas e
filosofias, ele é dinâmico. é uma doutrina aberta aos avanços científicos, as
transformações sociais, as mudanças no panorama dos conhecimentos gerais do
homem. Kardec assentou as bases de uma doutrina capaz de estar frente a frente
com a razão e com a ciência em todas as épocas da humanidade. E ele estabeleceu
tais bases firmando-as no estudo, na pesquisa, em uma nova visão do complexo
relacionamento entre nós e o mundo que nos rodeia, tanto material quanto
espiritual, visão profundamente enraizada na certeza de que o homem evolui e, na
medida que o faz, adquire novas possibilidades de compreensão e conhecimento.
Eis porque o Espiritismo não pode estagnar, não pode fechar-se em um corpo
ortodoxo, em uma “pureza doutrinaria” inatingível – porque suporia a capacidade
de uma pessoa, ou instituição, englobar “todo” o conhecimento “possível” acerca
da doutrina e ser capaz de discernir “sem falhas” quando algo novo é Espiritismo
e quando não é. O Espiritismo é vivo, e se os últimos 150 anos só tem confirmado
as bases que Kardec lhe deu, tem também lhe dado novos detalhes, novas nuances,
que caracterizam que a doutrina não está parada no tempo – Quem na época de
Kardec imaginaria os vastos panoramas da vida espiritual descortinados por André
Luiz, Camilo Castelo Branco e tantos outros ?
Cremos que exista um núcleo comum entre todos os Espíritas: a Codificação
Espírita levada a cabo por Kardec; os novos conhecimentos acrescentados neste
século e meio de historia, reconhecidos de comum acordo por todos (por exemplo,
a obra mediúnica de Francisco Candido Xavier). Mas alem desse núcleo, há as
regiões de fronteira – onde o conhecimento se faz, se cria – que ainda não estão
consolidadas, mas que com o tempo serão “incorporadas” ao conhecimento comum,
que serão transformadas ou compreendidas mais claramente (a TCI por exemplo).
Nessas regiões também colocaria as transformações resultantes da interação entre
os Espíritas e as sociedades em que vivem, como por exemplo, a imensa obra
assistencialista levada a cabo pelos Espíritas brasileiros e o seu aspecto “mais
religioso” do que o apresentado pelo movimento espírita europeu.
Pois bem, eis mais um papel da Internet, um foro de discussão, de ligação
entre todos que se dedicam ao estudo da doutrina, a pesquisa de suas novas
fronteiras, a aplicação dos conhecimentos já firmados. A Internet elimina as
barreiras físicas e estabelece a ligação que permite que as noticias corram
rapidamente o mundo, que novas idéias sejam apresentadas e debatidas, que
exemplos sejam conhecidos e seguidos,que resultados sejam checados e validados.
Nela estamos todos próximos, todos em condição de conhecer o que se passa nos
vários cantos deste nosso mundo.
A vida “na Internet” é sem duvida alguma um tanto mais “fria” que o contato
humano direto, mas quem na nossa época tão agitada teria condições de dedicar-se
continuamente – no mundo “real” – a trocar idéias com os irmãos que estão em
outras cidades, em outros paises, e em outros continentes ? Como conseguir, com
tanta eficiência, colocar em contato espíritas que residem nas Américas, na
Europa, na Ásia, na África e na Oceania ? Como formar uma cultura espírita
mundial, que sem descartar as nuances psicológicas de cada povo, é conseqüência
direta do caráter universal dos ensinamentos dos Espíritos ?
Um outro aspecto importante é o seu papel de terreno neutro para os debates:
Em que outro ponto poderíamos reunir, de maneira que apenas as idéias importem,
uma comunidade tão heterogênea – um das provas da riqueza espiritual da doutrina
– como é hoje a Espírita ?
Eis que na Internet conseguimos, de forma rotineira, ver trocas de idéias
entre Espíritas com tendências religiosas, Espíritas com visão laica da
doutrina, Espíritas voltados a uma atuação mais assistencialista, Espíritas mais
dedicados aos aspectos científicos, Espíritas de temperamento místico, … –
Enfim todas as possibilidades de Espíritas decorrentes da infinita variedade de
personalidades humanas com que Deus brindou a humanidade. Essa cooperação de
pontos de vistas diferentes, essa aproximação de idéias, essa fraternidade nos
estudos, não parece muito freqüente em outros terrenos !
O pensamento liberal, criação dos filósofos europeus no período das guerras
religiosas entre católicos e protestantes, baseou-se na compreensão de que a
razão humana é limitada, que as diferenças entre a visão de mundo que cada um
tem, tornam impossível a uniformidade absoluta. A nós nos cabe fazer dessas
diferenças uma oportunidade de crescimento e não de rixas intermináveis. Algo
talvez difícil no nosso dia-a-dia, pois que normalmente convivemos com quem nos
compartilha as idéias, mas perfeitamente possível na rede eletrônica.
Kardec nos recomendou “Espíritas, Instrui-vos” e a Internet é mais uma
ferramenta para isso. Ferramenta excepcional que merece o nome de “espaço de
comunicação” apresentado pelo Luiz no boletim 278.
Atenciosamente, Carlos Iglesia
(Publicado no Boletim GEAE Número 282 de 3 de março de 1998)