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Metodologia e Terapêutica Espíritas nos Trabalhos Assistenciais

Metodologia e Terapêutica Espíritas nos Trabalhos Assistenciais

Elaine Curti Ramazzini

Na Parábola do Bom Samaritano, Jesus apresenta a metodologia nos trabalhos assistenciais aos mais necessitados como um convite às criaturas para que procedam da mesma forma que o homem-modelo dessa narrativa.

 

Parar para ouvir o caído na estrada, cuidar dele com os recursos materiais de que dispunha (óleo e vinho), levá-lo até a hospedaria e interessar-se pelo seu estado até o retorno – acompanhamento – tais as diretrizes para a assistência ao carente, num sentido crístico.

A parábola nos dá conta também da relação assistido-voluntário, isto é, da terapêutica assistencial, em que o ser é com o outro.

Foi Martin Buber, no Século XX, quem expôs sobre a filosofia dialógica na relação com o outro, pois notou ele um distanciamento muito grande entre as pessoas.

O termo dialógico não se refere ao “discurso” como tal, mas ao fato de que a existência humana é inerentemente relacional e que a “individualidade” é somente um dos lados de uma relação bipolar.

Para Buber o significado do inter-humano “… não será encontrado em qualquer um dos dois parceiros, nem nos dois juntos, mas somente no diálogo entre eles, no entre que é vivido por ambos” (2). Sua realidade é maior que cada um dos dois indivíduos.

dialógico, marcado por duas polaridades: o EU-ISSO e o EU-TU, refletem duas atitudes primárias que o ser humano pode assumir ao relacionar-se com os outros.

A relação EU-ISSO ocorre quando a outra pessoa é, essencialmente, um “objeto” para nós, utilizado primordialmente como um meio para um fim. Nos meios espíritas, vemos no assistido um “objeto” de nossas realizações, deixando de lado o encontro genuíno que deve haver entre nós e ele. “Minha casa distribuiu este mês mais de mil pratos de sopa …”, dizem alguns. Tal atitude passa a constituir a orientação primordial em relação aos reais objetivos que devem subsistir numa assistência espírita, quais sejam, os de renovação e educação do ser humano.

O diálogo genuíno somente pode emergir se duas pessoas estiverem disponíveis para ir além da atitude EU-ISSO e aceitarem verdadeiramente o outro, isto é, estabelecerem com ele uma atitude EU-TU, reconhecendo sua singularidade, valorizá-lo e permitindo que a unicidade de cada pessoa se desenvolva. “Cada Tu único é um vislumbre em direção ao Tu eterno: por meio de cada Tu único o mundo primordial busca o Tu eterno (2). “Em notas à Questão 617-a, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, explicando as Leis Morais, os Espíritos discorrem de maneira insofismável sobre essa condição básica de existir com o outro para que se possa, realmente, ser com Deus (3).

Em seguida, na parábola citada, Jesus identifica no verbo cuidar a atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e envolvimento afetivo com o outro (1)”. O ser humano é um ser de cuidado e é no cuidado que identificamos a essência do homem. O descuido e o descaso pela dimensão espiritual do ser humano descaracterizam a própria essência do homem.

A dimensão dialógica confirma a dimensão do cuidado. O cuidado somente aparece quando a existência do outro é primordial para mim, quando participo de sua vida, de suas dores, de suas aquisições e quando saio de mim para ser com ele, com desvelo e solicitude, experimentando-o em toda a sua plenitude e pontencialidade (“Vós sois deuses”- Jesus ) .

Os Espíritos Maiores alertam: “Não pode a alma elevar-se às altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo; somente nos arroubos da caridade encontra ela ventura e consolação…”(4). Esta é a verdadeira praxis espírita da atividade social transformadora do ser integral, uma vez que corresponde ao efetivo conhecimento e vivência da Verdade que nos fará realmente livres.

  1. Boff, L. Saber cuidar – ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, Ed. Vozes, 1999.
  2. Buber, M. Eu e Tu. São Paulo, Editora Moraes, 1974.
  3. Kardec, ª O Livro dos Espíritos. 35ª ed., S. Paulo, LAKE, 1977.
  4. _______ O Evangelho Segundo o Espiritismo, 51a ed. Rio de Janeiro, FEB, Depto. Editorial, 1960.

São Paulo – SP

Dirigente Espírita N.56