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Os órfãos e a reencarnação

Debrucemo-nos hoje sobre as crianças, aqueles pequeninos seres que serão
os adultos de amanhã. Em especial daquelas que, à primeira vista, a sorte não
favoreceu: os órfãos e abandonados no caminho da vida.

Uma questão que vulgarmente se põe é a seguinte: como é possível haver pais
tão desnaturados, capazes de abandonar os próprios filhos? Por que permite Deus
que tamanha barbaridade aconteça?

Para quem não enxerga mais do que a visão física permite, tal estado de
coisas é de uma injustiça flagrante. Que fizeram esses pequenos seres para serem
esquecidos logo após o nascimento? Que crime cometeram para ficar sozinhos no
mundo?

Para compreender este problema é preciso ir mais além na busca de explicações
e soluções. Torna-se necessário ver e sentir para lá da cortina que a matéria
nos impõe.

Em cada criança vive um espírito muito antigo que retorna à vida material
para reparar erros do seu passado, suportar provas para o seu adiantamento moral
ou, em casos raros e especiais, realizar uma missão elevada para o progresso
geral da humanidade.

Assim, em muitos casos, ao ficar só na vida aquela criança sofre as
consequências dos seus próprios actos praticados numa vida anterior, em que terá
sido por hipótese um pai ou mãe descuidado dos seus deveres e obrigações para
com aqueles que partilharam o seu lar na condição de filhos. Se sofre agora o
abandono foi porque igualmente abandonou aqueles que a Providência Divina
entregou aos seus cuidados para orientar e encaminhar na estrada da vida.
Olhando por este prisma trata-se da mais elementar justiça divina.

Pode também acontecer que esses sofrimentos logo no início da sua estadia no
mundo físico lhe pretendam servir de preparação para a sua vida futura, para
dominar um carácter rebelde ou para dar mais valor às pessoas que mais tarde o
acolherão, dando real significado à adopção.

Benditos aqueles que dispondo de recursos económicos ou afectivos não se
conformam com a esterilidade da sua vida e dão a oportunidade a essas crianças
abandonadas e desprotegidas de partilhar o seu lar. Partilhar tudo o que têm com
aqueles que nada possuem, além da vida que Deus lhes deu e do amor e dedicação
por um ser humano que lhes preste um pouco de atenção e carinho. Quantas vezes
acolhem nos seus lares, sem o saberem, um ente amado de outra encarnação, e se
estivessem conscientes desse facto então não praticariam apenas a caridade,
antes cumpririam um dever.

Através da adopção pratica-se a caridade e a piedade para com os mais
desfavorecidos, tornando-a uma das mais nobres instituições humanas, filha da
fraternidade e solidariedade que deveria unir todos os seres humanos numa só
família.

Se todos os casais sem filhos deixassem de lado os preconceitos e uma certa
repugnância que a adopção lhes inspira, e dessem a oportunidade a uma dessas
crianças que só desejam um pouco de carinho e atenção, não haveria tanta
marginalidade e sofrimento juvenis como se vê nos tempos actuais. Que cada um
analise as facilidades que a vida material lhe proporcionou e se consciencialize
de que tudo é efémero e passageiro, tudo o que lhe foi dado lhe pode ser tirado,
e partilhe um pouco de amor com aqueles que nada têm. Só assim estaremos a
caminho de considerar como nossa família a humanidade inteira.