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As Quatro Nobres Verdades – Parte 12- Organização Interna

Carlos Alberto Iglesia Bernardo

IV – Prática (As Quatro Nobres Verdades)

Organização Interna

– Budismo

“Ele cujo prazer é o Darma, que se deleita no Darma,
que medita no Darma.
Que evoca o Darma -, este bikshu não renega o
verdadeiro Darma“.
Verso 364 – Dhammapada, trad. Nissim Cohen, ed. Palas Athena

“O homem que desejar ser meu discípulo deverá abandonar todas as relações diretas com a família, a vida social mundana e toda a dependência a riqueza. O homem que tiver abandonado tais relações em prol do Dharma e não tiver abrigo para o corpo e a mente tornar-se-á meu discípulo e será chamado de irmão sem lar.”
Os Irmãos sem Lar, A Doutrina de Buda, Siddharta Gautama, ed. Martin Claret.

Para se tornar um irmão leigo, deve-se ter uma inabalável fé em Buda, deve-se acreditar em Seus ensinamentos, estudar e pôr em prática os preceitos, e deve-se apreciar a Fraternidade.”
Os Irmãos Leigos, A Doutrina de Buda, Siddharta Gautama, ed. Martin Claret.

Desde o início das pregações de Buda, a prática de seus ensinamentos em todos os seus desdobramentos – com seus altos níveis de realização espiritual em busca da iluminação – levou algumas pessoas a se desligarem completamente das atividades mundanas e a se dedicarem a uma vida de renuncias e de meditações. Estas pessoas, chamadas de bikshus (inicialmente com o sentido de monges mendicantes), formam a “Sangha”, a comunidade de monges budistas. A continuidade desta comunidade, com variações de forma e organização pelos vários países pelos quais o Budismo se propagou, tem sido o principal fator de preservação e divulgação do Dharma.

Os ensinamentos de Buda também podem ser seguidos e praticados sem que o discípulo se desligue completamente de seus laços com a familia e a sociedade. Naturalmente ele não poderá se dedicar tão intensamente as práticas de meditação. O resultado deste fato é que, ao lado da Sangha, existem os budistas leigos.

Assim a diferença entre os monges e os outros budistas está na intensidade com que podem se dedicar ao Dharma. Os monges dedicam-lhe todo o seu tempo.

– Espiritismo

“O médium é um companheiro.
É um trabalhador.
É um amigo.
E é sobretudo nosso irmão, com dificuldades e problemas análogos àqueles que assediam a mente de qualquer espírito encarnado”.
VI-Médiuns, Mediunidade e Sintonia, Emmanuel, médium Francisco Cândido Xavier, ed. CEU

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações”.
“Os Bons Espíritas”, no cap. XVII (Sêde Perfeitos) do “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec, EDICEL

“Embora este regulamento tenha resultado da experiência, não o damos como um modelo obrigatório, mas unicamente para facilitar às sociedades em formação, que poderão tomar por normas as disposições que considerem úteis e aplicáveis às circunstâncias que lhes sejam próprias. Não obstante já se apresente simplificada, a sua estrutura poderá ser ainda mais reduzida quando se trate, não de sociedade regularmente constituída, mas de pequenos grupos particulares que só necessitem de estabelecer medidas de ordem interna, de preservação e de regularidade de seus trabalhos”
Cap. XXX – Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec, EDICEL

Não há um “acestismo” espírita, no sentido de uma classe de monges dedicados ao eu estudo e divulgação. Muito menos uma hierarquia, pois a Doutrina Espírita não impõe uma forma de organização. A forma de organização proposta por Allan Kardec foi a adotada pela “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas” [1] que serviu de modelo para os grupos espíritas posteriores, do mesmo modo que a “Revue Spirite” foi o modelo para o jornalismo espírita.

Assim. ao longo da história do Espiritismo, se formou um “movimento espírita” organizado em torno de grupos espíritas. Surgiram grupos com diversas finalidades – estudo, atividades filantrópicas, reuniões religiosas, etc… Também surgiram entidades maiores como federações e associações nacionais.

Importante notar que se pode perfeitamente ser espírita sem pertencer a nenhum grupo espírita. Do mesmo modo, não há nenhuma obrigação de que um grupo se filie a uma associação ou outra. A organização do movimento espírita é totalmente voluntária e visa apenas juntar esforços no estudo, na prática e na divulgação da Doutrina. Não há privilégios ou prerrogativas doutrinárias associadas a qualquer posição dentro do movimento espírita[2].

Uma forma muito comum de grupo espírita é o familiar. Amigos e parentes que se reúnem periodicamente para o estudo das obras básicas, principalmente do estudo do evangelho. Muitos dos grupos maiores nasceram em reuniões familiares, pelo aumento do número dos participantes e principalmente em torno de personalidades marcantes do movimento espírita. Pelas próprias características da Doutrina, os médiuns acabam desempenhando o papel de núcleo dos diversos grupos e ponto de referência para os demais indivíduos.

A mediunidade, como faculdade natural no ser humano, efetivamente não dá a ninguém privilégios especiais dentro do Espiritismo. Apenas capacita o médium a ser um trabalhador em benefício de todos.

– Análise

A forma de organização difere entre o Budismo e o Espiritismo. A diferença está na existência entre os budistas, da “Sangha”, a comunidade de monges dedicados ao estudo e divulgação do Dharma. No Espiritismo, tanto o estudo como a divulgação, podem ser feitos individualmente ou por grupos formados voluntariamente por seus adeptos, sem votos especiais.