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Helen Keller, Exemplo Inesquecível

Completa dois anos de desencarnação uma das figuras mais ilustres deste
século: Helen Keller.

Nascida em Tuscumbia, Estados Unidos, em 1880, aos 18 meses de idade um mal
não definido provocou-lhe a cegueira e a surdez; conseqüentemente, era muda
também. Até aos oito anos era um verdadeiro animalzinho, com vida puramente
instintiva, condenada, segundo os padrões da época, à idiotia.

Caberia a Annie Sullivan, admirável professora de 20 anos, conseguir, após
ingentes esforços, que a menina tivesse o primeiro contacto com o mundo
exterior, aprendendo a distinguir seres e objetos com o toque das mãos e a
ensaiar o raciocínio em relação às suas experiências táteis. Já era muito, quase
demais para quem sofria tão graves limitações.

Mas Helen foi além. Se a Vida, no seu mundo sem som e sem imagem, era um
tremendo desafio, ela o aceitava e, convicta de que a perseverança é uma força
irresistível, riscou de seu vocabulário a palavra impossível.

Primeiro aprendeu a falar, prodígio alcançado com infinita paciência e
ingente esforço. Que se saiba, foi a primeira pessoa que conseguiu articular
palavras inteligíveis, sem nunca ter ouvido som algum. Inscrita num colégio para
moças normais, onde a receberam com relutância, diplomou-se com distinção,
embora não pudesse ouvir as aulas nem tomar notas.

Helen Keller provou que o poder da vontade representa uma força quase
ilimitada, ao aprender muito no campo da Geometria, da Álgebra, das Ciências
Físicas, da Botânica, da Zoologia e da Filosofia. Escrevia em Inglês e Francês,
mantendo correspondência com figuras de grande projeção no mundo inteiro.
Pronunciou centenas de conferências em vários países, inclusive no Brasil, e
escreveu livros notáveis.

O mais extraordinário foi que ela superou os sentimentos de autocompaixão e
crônica infelicidade que caracterizam os espíritos fracos quando enfrentam suas
provações, dedicando sua existência em favor dos cegos, surdos e mudos.

Diz ela, na obra “Minha Vida de Mulher”: “Ninguém pode saber melhor do que eu
o que são as amarguras dos defeitos físicos. Não é verdade que eu nunca esteja
triste, mas há muito resolvi não me queixar. Mesmo o ferido de morte deve
esforçar-se por viver seus dias com alegria, por amor dos outros. Eis para que
serve a religião: inspirar-nos à luta até ao fim, de ânimo forte e sorriso nos
lábios.”

“Uma ambição eu tenho: a de não me deixar abater. Para tanto conto com a
bênção do trabalho, o conforto da amizade e a fé inabalável nos altos desígnios
de Deus.”

Helen Keller é o símbolo marcante do que podem realizar os que compreendem
que a Felicidade não está subordinada à satisfação de nossos desejos, diante da
Vida, mas ao desejo de compreendermos o que a Vida espera de nós.

Condenada a viver num silencioso mundo de trevas, havia claridades e sons em
seu íntimo, jamais percebíveis com os nossos sentidos físicos.

Havia luzes divinas, emanadas da comunhão profunda de um Espírito humilde com
as Fontes da Vida!

Havia acordes transcendentes produzidos por alguém empolgado com a sinfonia
do Bem!

Reformador – julho/1970 – pg. 160