Suicídio
RESUMO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Causas do Suicídio: 4.1.
Perspectiva Biológica; 4.2. Teorias Psicológicas; 4.3. Sentido Sociológico. 5.
Estatística. 6. Centros de Prevenção. 7. Doutrina Espírita: 7.1. Anotações
Extraídas das Obras Básicas de Allan Kardec; 7.2. Anotações Extraídas das Obras
Complementares; 7.3. Reflexões Baseadas nos Pressupostos Espíritas. 8.
Conclusões. 9. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
Quais são as causas que nos levam a tentar o suicídio? Por que um indivíduo
apodera-se da direção de um avião e se transforma num homem-bomba? Tem o homem o
direito de tirar a sua própria vida? Por que? Quais as conseqüências deste ato
fatal na vida humana? Estas são, entre muitas outras, questões vitais para o
entendimento do problema do suicídio. O nosso objetivo é analisar o tema segundo
os pressupostos espíritas.
2. CONCEITO
Dado que o suicídio afeta todos os aspectos da vida humana, ele deve ser
estudado levando-se em conta os componentes físicos, sociais, mentais etc. e
que, em conseqüência, obedece a uma causação múltipla. A cada um desses
componentes corresponde um ângulo de análise, e a cada ângulo, uma definição
patológica, sociológica, moral, filosófica etc. Estas não devem ser
necessariamente contraditórias, mas complementares. (Silva, 1986)
De um modo geral, define-se suicídio como a ação pela qual alguém põe
intencionalmente termo à própria vida. É um ato exclusivamente humano e está
presente em todas as culturas.
Do ponto de vista da Doutrina Espírita, o suicídio é considerado um crime, e
pode ser entendido não somente no ato voluntário que produz a morte instantânea,
mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças
vitais. Importa numa transgressão da Lei Divina. É sempre uma falta de
resignação e de submissão à vontade do Criador. (Equipe da FEB, 1997)
3. HISTÓRICO
Percorrendo a história da humanidade, notamos que na Antigüidade os hebreus
foram os que menos cometeram o suicídio. As Escrituras registram apenas o
suicídio de Abimileque, de Saúl, de Aquitofel, de Zambri e pouco mais.
Nos povos orientais, o suicídio é um fato vulgar e normal. Os japoneses
adotam o haraquiri, ritual de suicídio usando a espada. São famosos os
camicases, pilotos japoneses, membros de um corpo de voluntários que no fim
da 2.ª Guerra Mundial, treinados para desfecharem um ataque suicida contra
objetivos inimigos, especialmente navios. Na Índia não se contam os suicídios
senão aos milhares.
Na história do Egito, tornou-se célebre o suicídio de Cleóprata.
Em Cartago eram também freqüentes os suicídios. Amílcar matou-se humilhado
por uma derrota e Aníbal suicidou-se para não cair nas mãos dos seus inimigos.
Códio, rei de Atenas, matou-se para livrar o seu país dos horrores da guerra.
Na Idade Média, período caracterizado por uma maciça dominação religiosa, o
suicídio diminuiu, pois quem o cometesse não recebia as bênçãos da Igreja. Na
renascença, período de maior liberdade religiosa, o suicídio recrudesceu e
continua até nos dias atuais, principalmente explicados pelos problemas causados
pela Revolução Industrial e pelo Capitalismo nascente, os quais diminuíram os
apelos à Religião. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)
4. CAUSAS DO SUICÍDIO
As causas do suicídio são numerosas e complexas. Elas são geralmente
analisadas sob três aspectos:
4.1. PERSPECTIVA BIOLÓGICA
Pesquisas indicam que o comportamento suicida acontece em famílias, sugerindo
que fatores biológicos e genéticos desempenham papel de risco. Algumas pessoas
nascem com certas desordens psiquiátricas tal como a esquizofrenia e o
alcoolismo, o que aumenta o risco de suicídio.
4.2. TEORIAS PSICOLÓGICAS
Em princípio o suicídio é comparado por muitos psicológicos com os casos de
neurose.
Os determinantes do suicídio patológico estão nas perturbações mentais,
depressões graves, melancolias, desequilíbrios emocionais, obsessões, delírios
crônicos,
O psiquiatra americano Karl Menninger elaborou sua teoria baseando-se nas
idéias de Freud. Ele sugeriu que todos os suicidas tem três dimensões
inconscientes e interrelacionadas: vingança/ódio (desejo de matar);
depressão/desespero (desejo de morrer); culpa/pecado (desejo de ser
morto).
4.3. SENTIDO SOCIOLÓGICO
Socialmente o suicídio é um ato que se produz no marco de situações anômicas
(desorganizadas) em que os indivíduos se vêem forçados a tirar a própria vida
para evitar conflitos ou tensões inter-humanas, para eles insuportáveis. Para
Émile Durkheim, a causa do suicídio só pode ser sociológica. Em seu estudo
caracterizou três tipos de suicidas:
a) suicida egoísta. A pessoa se mata para não sofrer mais;
b) suicida altruísta. A pessoa se mata para não dar trabalho aos
outros (geralmente pessoas de idade);
c) suicida anômico. A pessoa se mata por causa dos desequilíbrios de
ordem econômica e social. Exemplo: a Revolução Industrial, tirando empregos de
algumas pessoas, estimulou-lhes o suicídio. (Enciclopédia Encarta)
5. ESTATÍSTICA
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 1 milhão o número de
suicídios em 2000. De acordo com a organização, a média anual de suicídios no
mundo passou de 10,1 a cada 100.000 habitantes, em 1950, para 16 casos no mesmo
universo de pessoas em 1995, o que corresponde a um aumento de 60%.
Países do Leste Europeu são os recordistas em média de suicídio por 100.000
habitantes. A Lituânia (41,9), Estônia (40,1), Rússia (37,6), Letônia (33,9) e
Hungria (32,9). Guatemala, Filipinas e Albânia estão no lado oposto, com a menor
taxa, variando entre 0,5 e 2. Os demais estão na faixa de 10 a 16.
Em números absolutos, porém, a China lidera as estatísticas. Foram 195 mil
suicídios no ano de 2000, seguido pela Índia com 87 mil, a Rússia com 52,5 mil,
os Estados Unidos com 31 mil, o Japão com 20 mil e a Alemanha com 12,5 mil.
(Folha de São Paulo, 05/07/2000, p. a11).
Resumindo: na Ásia e Oriente a taxa de suicídio por 100.000 habitantes é mais
do que 16, na América do Norte situa-se entre 8 e 16, na América do Sul
apresenta-se com menos de 8 e na África não há dados disponíveis.
Gertner calcula que por cada suicídio completado há 10 tentativas. Os homens
tendem a se suicidar de modo violento; as mulheres de modo suave e em menor
proporção.
Observação: há que se tomar cuidado na comparação estatística entre
nações, porque nem todos têm o mesmo conceito do que seja morrer por suicídio.
6. CENTROS DE PREVENÇÃO
O Reverendo Chad Varah, de 89 anos, é o criador do serviço de prevenção ao
suicídio. Samaritanos é o nome britânico da ONG cuja similar brasileira funciona
desde o início dos anos 60 como CVV, Centro de Valorização da Vida.
Pastor anglicano, Chad Varah começou seu trabalho em 1936, quando foi chamado
para oficiar o funeral de uma menina de 14 anos. A garota havia se suicidado ao
ficar menstruada pela primeira vez. Desesperada, pensou que havia contraído uma
doença. Esse episódio chocou de tal maneira o jovem reverendo que ele resolveu
dar aulas de educação sexual para jovens. Descobriu depois, numa notícia de
jornal, que três pessoas se suicidavam a cada dia em Londres. Foi assim que, em
1953, numa pequena sala munida de telefone na Igreja de St. Stephen, no centro
londrino, ele fundou os Samaritanos. (Folha de São Paulo, 24/06/2001, p. A 19)
Atualmente há muitos Centros como esses, inclusive com endereço na Internet.
No Brasil, além do CVV, há também o Socorro Emocional, que do mesmo modo que o
CVV, segue os preceitos do psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902-1987),
cuja tese é a de que todo o ser humano tem potencial suficiente para encontrar
saídas para o seu próprio problema.
7. DOUTRINA ESPÍRITA
7.1. ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DAS OBRAS BÁSICAS DE ALLAN KARDEC
Em O Livro dos Espíritos, nas perguntas 943 a 957, Allan Kardec
discute o tema apontando as causas e as conseqüências deste ato sinistro.
Diz-nos que o desgosto pela vida é efeito da ociosidade, da falta de fé e
geralmente da sociedade. Para aqueles que exercem as suas faculdades com um fim
útil e segundo as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido a vida se
escoa mais rapidamente. Os Espíritos nos advertem que quando cometemos o
suicídio responderemos como por um criminoso. Acrescenta ainda que “aquele que
tira a própria vida para fugir à vergonha de uma ação má, prova que tem mais em
conta a estima dos homens que a de Deus, porque vai entrar na vida espiritual
carregado de suas iniquidades, tendo-se privado dos meios de repará-las durante
a vida. Deus é muitas vezes menos inexorável que os homens: perdoa o
arrependimento sincero e leva me conta o nosso esforço de reparação; mas o
suicídio nada repara”.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo V – Bem-Aventurados
os Aflitos, analisa o suicídio juntamente com a loucura, e nos diz que “a calma
e a resignação, hauridas na maneira de encarar a vida terrestre, e na fé no
futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a
loucura e o suicídio”. A leitura atenta deste capítulo do Evangelho seria um
preservativo para todos os males da humanidade, pois não só nos explica os meios
de nos livrarmos da pena como também nos alerta para o bem e o mal sofrer, sobre
a melancolia etc.
Em O Céu e o Inferno, no capítulo V, há relatos dos próprios suicidas
sobre o seu estado infeliz na erraticidade. Verificando cada um deles, vamos
observar que, embora o sofrimento seja temporário, nem por isso deixa de ser
difícil, pois o remorso parece não ter fim.
7.2. ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DAS OBRAS COMPLEMENTARES
No livro Memórias de um Suicida, fala-se do vale dos suicidas, ou
seja, o lugar para onde vão as almas daqueles que cometeram o suicídio. Por que
vale? É um lugar que tem um desnível com relação ao plano? Dá-se a impressão que
todos os que cometem o suicídio vão para esse lugar de sofrimento atroz, em que
figuras dantescas aparecem a todo o momento, e o indivíduo que cometeu o
suicídio fica sentindo os germes comerem o seus restos mortais.
Em Mecanismos da Mediunidade, o Espírito André Luiz, ao discutir sobre
a ideoplastia do pensamento, fornece-nos elementos para a nossa reflexão sobre
este tema. Se muitos ficam pensando no suicídio, eles criam um campo mental, uma
espécie de aura de formas- pensamentos, e se um Espírito menos avisado entrar
nessa faixa vibratória, ele poderá ser induzida ao cometer este ato. Por isso,
precisamos tomar cuidado com o teor energético do nosso pensamento, pois uma vez
emitido ele criará as forças desencadeantes para a ação.
7.3. REFLEXÕES BASEADAS NOS PRESSUPOSTOS ESPÍRITAS
1. Continuar Vivo. Um dos grandes embaraços de quem comete o suicídio,
pensando que teria dado cabo da vida, é a surpresa de que continua vivo. Nesse
sentido, de que vale tirar-nos a vida, se continuamos a existir?
2. Atenuantes e Agravantes. Não temos o hábito de relacionar a parte e
o todo e podemos cair no erro da absolutização do relativo. É o caso de
estigmatizar todos os Espíritos que cometeram suicídio, colocando-os num mesmo
grau de sofrimento e punição. Há que se considerar a influência que receberam
dos outros, os seus estados mentais etc. Será que nós, com o nosso modo
impensado de agir, não os induzimos involuntariamente? Será que a sociedade,
pelo seu descaso, não deixou de auxiliá-los, quando podia fazê-lo?
3. O Espírita tem de opor-se à idéia do suicídio. A certeza da vida
futura lhe dá condições de saber que será menos ou mais feliz de acordo com a
resignação com que tiver suportado os sofrimentos aqui na Terra.
4. Suicídio inconsciente. O relato do Espírito André Luiz, quando
estava no umbral – e ouvia chamá-lo de suicida -, é marcante, pois mesmo não o
tendo cometido voluntariamente, dissipou desordenadamente as suas energias
físicas e mentais. No campo mental, a cólera, a falta de autodomínio e
inadvertência no trato com os semelhantes; no campo físico, o aparelho gástrico
foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas.
5. Orar e vigiar. Nunca se deve dar tanta atenção a este dispositivo
da mente. Há muitos momentos de angústia, de solidão, mas temos que passar por
cima como um trator que vai moendo tudo o que lhe vem de encontro.
Utilizando-nos da prece e da vigilância, podemos aliviar muitos desses males do
pensamento.
8. CONCLUSÕES
Enfrentemos a nossa vida, pois não podemos ter outra. Lembremo-nos de que o
problema pode não ser tão grave quanto a nossa imaginação o pinta. Quem sabe se
esperarmos um pouco mais, exercitando a paciência e a resignação, a dificuldade
não toma outro rumo, a doença não recebe o remédio correto, o desgosto não tem o
consolo necessário? Depositemos a nossa confiança inteiramente em Deus. Ele sabe
o momento oportuno de nos tirar do embaraço.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
- EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro, FEB, 1995.
- KARDEC, A. O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo.
22 ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975. - KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo,
IDE, 1984. - KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
- XAVIER, F. C. Mecanismos da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz.
8. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977. - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro,
Editorial Enciclopédia, s.d. p. - Enciclopédia Encarta. http://encarta.msn.com
- SILVA, B. (coord.) Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro,
Fundação Getúlio Vargas, 1986.