O Educando na Visão Social Espírita
Segundo a moderna Sociologia, nos estudos ontológicos (teoria do ser) que faz
sobre a sociedade e os indivíduos, o social está nos indivíduos, ou seja, a sociedade
é não apenas a soma dos indivíduos, mas a consciência coletiva dos indivíduos, já
que estes não perdem sua individualidade. O indivíduo age no social como o social
age no indivíduo. As identidades são mantidas, embora se relacionem e se influenciem.
E por que o indivíduo mantém sua individualidade? Porque possui a personalidade,
cujos componentes são normalmente assim classificados:
- fatores biológicos (biotipo);
- grau de desenvolvimento biológico (idade);
- fatores biológicos adquiridos: alimentação, bebidas, tóxicos, doenças, etc.;
- fatores psíquicos (tipo psicológico);
- fatores psíquicos adquiridos: automatismos, complexos, vivências, etc.;
- fatores sociais e culturais.
A Sociologia considera o indivíduo e a sociedade apenas do ponto de vista desta
existência, de uma única vida que nos é dada, portanto, sua posição é materialista.
Desse modo, o educando precisa ser preparado para a vida, esta única vida física,
sendo formado por três elementos básicos:
- os fatores biológicos;
- os fatores psicológicos;
- os fatores sociais e culturais.
A formação intelectual do educando é prioritária.
Não resta dúvida serem os três fatores apontados pela Sociologia importantes
na composição do indivíduo, mas não respondem pelo ser integral, como facilmente
podemos verificar na história humana e nas pesquisas atuais sobre o psiquismo.
A Doutrina Espírita, considerando o homem como espírito imortal, também leva
em consideração no estudo do ser – o Espírito reencarnado – os fatores biológicos
(pois temos a influência do corpo); os fatores psicológicos (as estruturas do passado
e do presente) e os fatores sócio-culturais (a influência da cultura, da mídia e
do grupo social), mas possui uma visão mais ampla ao relacionar a esses três fatores
apontados pela Sociologia mais dois fatores: o fator espiritual e o fator reencarnação.
A VISÃO DO ESPIRITISMO
No livro “Obras Póstumas”, encontramos nas páginas 239 a 245, 26ª edição da FEB,
o ensaio As Aristocracias, de Allan Kardec, que nos permitimos estudar de forma
mais didática, onde encontramos uma posição lúcida sobre o indivíduo e a coletividade
de acordo com os princípios espíritas, ampliando a visão sociológica do ser e da
sociedade.
Diz-nos Kardec que em razão da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes
à espécie humana, há por toda parte:
- homens incapazes, que precisam ser dirigidos;
- homens fracos, que reclamam proteção;
- paixões, que exigem repressão.
A autoridade, ou seja, a necessidade de liderança social, investiu desse poder,
sucessivamente:
1°) o ancião (patriarca), pela sua experiência;
2°) o chefe militar, pela sua força e inteligência;
3°) o descendente, pela sua herança final.
A conservação do estado de força e privilégios foi feita através das leis, mas
o tempo, com a conseqüente necessidade de busca de recursos para sobrevivência,
fez com que os dominados se insurgissem contra os dominadores. É a evolução, princípio
básico da lei divina. Entretanto, uma nova autoridade surgiu: o dinheiro, mas por
pouco tempo, pois que para adquiri-lo é preciso inteligência, que nos nossos dias
é a autoridade estabelecida, chamada pelos pensadores atuais de conhecimento.
A inteligência, por si só, não equilibra o homem. O bom uso das faculdades depende
da moral, que também não pode ficar isolada. A união da inteligência com a moral
representa a verdadeira autoridade.
Homens moralizados e instruídos implantarão o reino do bem na Terra.
- Princípio Moral – Sentimento (de justiça, de caridade)
“Entre os maus, muitos há que apenas o são por arrastamento e que se tornariam
bons, se observassem bons exemplos, desde que submetidos a uma influência boa.”
O que temos de combater são os “vícios do caráter: o orgulho, o egoísmo, a cupidez
com seus cortejos”.
A causa capaz de apressar o progresso humano é o Espiritismo, por ser uma doutrina
de educação.
O Espiritismo, aplicado:
- promove a fraternidade humana;
- demonstra que as provas da vida atual são a conseqüência lógica e racional
dos atos praticados nas existências anteriores; - faz de cada homem o artífice voluntário da sua própria felicidade;
- eleva sensivelmente o nível moral.
“Em vez da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, diz ele (o Espiritismo):
Não há fé inabalável, senão a que possa encarar face a face a razão, em todas as
épocas da Humanidade. A fé necessita de base e esta base consiste na inteligência
perfeita daquilo em que se haja de crer. Para crer, não basta ver, é, sobretudo,
preciso compreender.”
A VISÃO EDUCACIONAL ESPÍRITA
Essa nova ordem de idéias que o Espiritismo nos apresenta no campo sociológico
modifica a visão educacional do homem, já que, como doutrina de educação, o Espiritismo
considera o homem como ser criado por Deus, com a finalidade de se aperfeiçoar e
contribuir na obra da criação. O homem é espírito-perispírito-corpo, sendo imortal,
estando sucessivamente em dois estágios distintos:
- desencarnado, no mundo espiritual;
- encarnado, no mundo físico.
O perispírito é o elo de ligação entre os dois estágios, interagindo com a mente
e o processo orgânico do corpo.
Ao estar encarnado não é esta a primeira existência do homem, pois que já as
teve anteriores, trazendo delas tendências e idéias inatas.
Cabe à educação:
- fortalecer e ampliar as boas tendências do Espírito;
- corrigir suas más tendências;
- direcionar seu caráter para o bem;
- promover o esforço para conquistar virtudes;
- ampliar os horizontes intelectuais.
O educador espírita deve manter o diálogo aberto; estimular o educando a fazer
uso de suas potencialidades; deve dar-lhe instrumentos que possibilitem a sensibilidade
do sentimento e fornecer-lhe a aplicação prática dos princípios de vida oferecidos
pelo Espiritismo.
Na medida do possível, objetivando a educação integral do ser, deve procurar
unir a família ao processo educacional da escola, tendo sempre em mente que vida
é educação e, portanto, a coletividade, a família, a escola, o trabalho, a sexualidade,
enfim, tudo o que faz parte da existência terrena educa, na medida em que promovemos
a integração do homem consigo mesmo, tornando-o consciente de si, de sua perfectibilidade,
e também sua integração com o próximo e com Deus, nosso Pai.
O homem educado no bem e para o bem, numa palavra, moralizado, terá consciência
de como deve proceder, segundo o conselho do apóstolo Paulo de Tarso: “Tudo me é
lícito, mas nem tudo me convém.”