Nesta página costumamos comentar assuntos graves que incomodam boa parte dos
que a lêem, muitas vezes por estarem esses incomodados, envolvidos nas situações
tratadas. Neste número o tema poderá gerar maior desconforto, pois na verdade é
defendido por muita gente que se diz espírita e que divulga o Espiritismo pelo país.
Trata-se do vício de fumar.
É difícil compreender, mas alguns irmãos de doutrina vêm a público defender a
idéia de que “fumar” não é um vício moral. É possível uma coisa dessas? Sim, no
nosso confuso Movimento Espírita tudo é possível e isso já aconteceu muitas vezes.
E qual seria o motivo para essa tentativa de driblar o bom senso? Resposta simples:
certos personagens denominados “vultos espíritas” eram fumantes inveterados e outros,
ainda entre nós, não conseguem (ou não querem) deixar de sê-lo. Como os amigos ou
a parentela dessas figuras não gostam de manchar a imagem de seus ídolos, preferem
sair-se com essa esfarrapada desculpa. Isso quando a defesa não sai da boca do próprio
viciado.
Fumar é um vício moral que danifica o corpo e produz graves alterações no perispírito
e condicionamentos nocivos na alma. É uma muleta psicológica, tanto quanto o são
o álcool e outras drogas igualmente danosas ao Espírito.
Um conhecido escritor e palestrante espírita do Nordeste é uma amostra da insensatez
dominante. Como seu vício o faz consumir inúmeros cigarros nas suas viagens, mesmo
na frente dos anfitriões, ele tudo faz para provar que ser adepto do tabagismo,
não tem nada a ver com suas condições morais. E, como não encontra quem tenha coragem
para opôr-se a essa grande tolice, acha que convence a todos.
Recentemente, num conhecido evento espírita, um dos expositores convidados teve
de esconder-se nos fundos do salão de palestras, para dar as últimas tragadas. Mais
grave: para justificar-se, disse que existem espíritas muito preconceituosos, que
não aceitam as pessoas com seus problemas. Brilhante! É aquela mesma história utilizada
nas atividades mediúnicas, para justificar a atuação “caridosa” de certos doutrinadores
que conversam com Espíritos “obsessores” por anos a fio, sem conseguir convencê-los
a se modificarem. Esses desencarnados brincalhões afirmam que o dirigente, por caridade,
tem de suportá-los. E acham quem lhes dê ouvidos. Como não têm idéia da dinâmica
do mundo espiritual, esses esclarecedores passam seu tempo batendo papo com galhofeiros
do Além. E acham que estão fazendo “caridade”.
Os indivíduos que vivem sob o domínio de um simples cigarro são personalidades
problemáticas que necessitam de válvulas de escape para satisfazerem sua ansiedade.
Alguns foram guindados aos postos de “escritores”, “oradores espíritas”, “passistas”
e “médiuns” porque o Movimento Espírita é cópia bem feita do movimento católico,
onde tudo é permitido, desde que não se fale em mudança de posturas.
A doutrina de Ismael, com apoio de médiuns e oradores que lhe são afins, criou
entre nós a “santa” idéia de que todas as pessoas podem desempenhar tarefas dentro
do Centro Espírita, bastando para isso a boa-vontade. Começa por não ver com bons
olhos qualquer organização administrativa interna séria, que certamente traria aos
trabalhadores, regras sobre as questões morais. A desorganização favorece a proliferação
do mal e de suas sutis artimanhas.
Ainda sobre o vício de fumar, encontramos no Movimento algumas informações bizarras.
Uma delas diz que o fumante, ao chegar na Espiritualidade, recebe dos Benfeitores
uma quantidade decrescente de cigarros, para que ele possa descondicionar-se paulatinamente.
Risível, mas é verdade. Certamente acreditam também que o mesmo se dá com os viciados
em álcool, em cocaína, em heroína, crak etc. Idéia interessante, mas que só poderia
sair de mentes pouco sadias. Deve ter vindo do mesmo espírito que criou outra lenda:
a de que existe no mundo espiritual hospitais para “espíritas equivocados”.
Outra coisa curiosa é o apoio caridoso que dão ao vício. Dizem: é melhor uma
pessoa fumante dar passes, do que ela não ir à casa espírita e ficar pelas ruas.
Pensamento simplista que denota total desconhecimento acerca do magnetismo e da
natureza dos fluidos, exaustivamente estudados por Allan Kardec.
Parece que falta certa dose de bom senso kardequiano em boa parte dos seguidores
do Mestre Lionês. Hoje, entre nós espíritas, já se admite com naturalidade uma série
de comportamentos morais e administrativos anômalos, tais como a realização de bingos,
rifas, a venda de bebidas alcoólicas em eventos beneficentes, a presença de fumantes
no quadro de atividades mediúnicas, a união homossexual, a desagregação familiar
via divórcio e toda uma série de anormalidades que só são “normais” na cabeça dos
homens ignorantes da Lei.
Allan Kardec e os Espíritos superiores foram claros quando nos ensinaram que
o verdadeiro espírita se distingue do homem comum pelos seus atos morais. Não é,
pois, essa preocupação que deve dominar nossas vidas? Que autoridade tem um usuário
contumaz do fumo ou do álcool para subir numa tribuna e falar em nome de Deus? Extingue-se
o direito do Bem sobre o mal? Das virtudes sobre os vícios? Igualam-se esses direitos?
Além disso, que condições energéticas possui uma criatura nessas condições para
ministrar um passe em alguém que está enfermo, se ele próprio está necessitado de
auxílio?
Allan Kardec nos ensina que: “a única autoridade legítima aos olhos de Deus é
a que se fundamenta no bom exemplo”.
Os defensores dos fumantes alegam a “caridade” como motivo para deixá-los fazer
de conta que estão servindo. Ora, mas o bem maior seria ajudá-los e livrarem-se
dos vícios e os colocar em condições de servir na obra do Senhor. Viciados de qualquer
natureza são enfermos que precisam de tratamento. Mais tarde, uma vez libertos dos
vícios e comportamentos inadequados mais grosseiros, poderão estar aptos ao serviço
de caridade na casa espírita, caso queiram.
O espírito de liberdade criado no Movimento Espírita pelo roustainguismo, não
reprime qualquer conduta incorreta ou atitude inadequada. Simplesmente “sugestiona”
e aceita tudo com impressionante passividade, e os irmãos que porventura estejam
em erro permanecerão nele “add etternum” sob o olhar complacente da “caridade”
.
É preciso urgente estarmos alertas para essa grave situação. O cigarro e a bebida
alcoólica são obsessores tenazes de pessoas frágeis de personalidade. Dirigentes,
médiuns e escritores dependentes deveriam ter uma crise de humildade e optarem por
ocupar um cargo de menor responsabilidade na Seara do Senhor, até que se sentissem
aptos ao mister.
Todos precisamos desenvolver uma campanha sistemática contra o uso de fumo e
de álcool nas casas espíritas e as federações deveriam estimular os centros filiados
a fazê-lo. As instituições do mundo estão mais preocupadas com isso do que as instituições
espíritas. Não dá para entender!
Se temos entre nós irmãos dominados pelo fumo ou álcool, é nosso dever ajudá-los
a livrarem-se deles, se assim o desejar. Procurar justificativas para os vícios
com histórias infantis e sem fundamentos é espalhar o joio em meio ao trigo.
Ai daqueles que ensinar o erro aos pequeninos, disse Jesus. Melhor seria que
pendurassem uma pedra no pescoço e que se atirassem ao mar.
Os comunicadores, expositores, dirigentes, escritores, jornalistas, enfim, todo
homem público, têm o dever de obterem condições morais satisfatórias para desempenhar
suas funções de divulgadores da mensagem do Espírito de Verdade.
A palavra sem a fundamentação do exemplo é vã e não frutifica. Para trabalhar
em nome de Jesus é necessário a coragem da renúncia aos chamados prazeres mundanos.
E logicamente o trabalho incessante da melhoria íntima. Sem isso, estaremos trilhando
os mesmos caminhos hipócritas dos antigos fariseus, que vestiam suas alvas túnicas
para esconder mazelas. E falavam em nome de Deus, cheios de “sabedoria”.
Não se pode agradar simultaneamente a Deus e ao Diabo. Os que por vaidade, timidez
ou orgulho falsearem o espírito de seriedade que norteia o Espiritismo, pagarão
muito caro por suas irresponsabilidades.
(Jornal A Voz do Espírito Edição 91: Maio – Junho de 1998)