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Reuniões Mediúnicas Espíritas

Reuniões Mediúnicas Espíritas

Outro aspecto importante é que haja evocação dos Espíritos Superiores
para presidirem espiritualmente os trabalhos, contudo, devemos fazer a nossa parte,
não devemos achar que eles tudo fazem, por isso é necessário que os médiuns tenham
conhecimento doutrinário, principalmente aquele(s) designado(s) para ser(em)
o(s) doutrinador(es). Ressaltamos este ponto, embora óbvio, porque temos
conhecimento de reuniões mediúnicas, ditas espíritas, em que o doutrinador tem um
conhecimento muito superficial de O Livro dos Espíritos (OLE) de KARDEC e
que nunca leram a Revista EspíritaJornal de estudos psicológicos;
consideramos isso um absurdo, pois é querer brincar com fogo e esperar que os Espíritos
Superiores ajudem e tudo façam, levando-se tudo na base da “intuição”.

E, enfim, o mais importante, é que haja uma comunhão de pensamentos bons durante
a reunião mediúnica; bem, disso falaremos mais adiante.

Fanatismo nos Centros espíritas.

No dia 21/12/01 recebemos mail de um leitor
do jornal espírita, que nos fez várias perguntas, todas respondidas, que merecerão
um artigo no JE, no final disse o confrade:

 

“(…) Futuramente pode nos brindar com um artigo sobre o fanatismo na Casa Espírita?”

ANDRÉ LUIZ P.S.

 

São Paulo – SP

Vamos tentar satisfazer aqui o pedido do leitor…

Há pessoas que superestimam uma idéia ou grupos de idéias com tal passionalidade
que nem ouvem ou não entendem o que outros indivíduos dizem ou escrevem, contrariamente
às suas idéias; negam-se a admitir idéias por mais racionais que sejam; são pessoas
fanáticas.

O adágio popular brasileiro diz que religião e futebol não se discute,
exatamente porque as pessoas polarizam sua afetividade para uma seita religiosa
ou para o clube de seu coração e, consequentemente, as discussões religiosas são
improfícuas e, algumas vezes, perigosas, tal a irracionalidade com que as pessoas
defendem seus pontos de vistas sem enxergar ou ouvir o ponto de vista do outro e
podem chegar à agressão física…

Infelizmente, algumas pessoas que se dizem espíritas estão seguindo o mesmo caminho
das seitas religiosas e tornam-se fanáticas. Basta que se questione
idéias de um Espírito, seu preferido, tornam-se extremamente agressivas, embora
sem perder a pose e a linguagem melíflua, pseudo-evangélica e, curiosamente, rotulam
as pessoas que delas discordam de obsidiadas, num claro mecanismo que os
psicanalistas chamam de projeção, isto é, projetam no outro aquilo que é
dele próprio…

Em um Centro, que se diz espírita, do Rio de Janeiro, tivemos conhecimento de
uma pessoa que orava por seus parentes doentes, ajoelhada diante de uma foto de
BEZERRA DE MENEZES !!… De uma certa feita levou o seu neto (deficiente mental)
para uma sessão de psicometria (??) no tal Centro – realizada por uma Sra.
que se dizia psicóloga – e, em dado momento da sessão, o rapaz entrou em intensa
agitação psicomotora. A atitude da tal que se dizia psicóloga foi chamar
a Polícia, que imediatamente levou o paciente para internação psiquiátrica… Quando
questionamos a falta de cientificidade da psicometria, a tal que se dizia
psicóloga, ficou extremamente irritada, irada mesmo, dizendo que aquele “trabalho”
era uma “caridade”, uma “mediunidade com JESUS” !!… Em resumo, não admitiu discussão
sobre o seu método, como sempre fazem os fanáticos, agredindo verbalmente
as pessoas “em nome de JESUS”, exatamente como faziam os fanáticos da Idade Média
que, inclusive, levaram pessoas para a fogueira, rotulando-as de feiticeiras,
tudo “em nome de JESUS”.

Enfim, os exemplos multiplicar-se-iam no mesmo estilo, ficaria cansativo citá-los.

O Espiritismo é uma Doutrina, com bases científicas e conseqüências religiosas,
mas não é uma religião como opinamos. A excelência da Doutrina Espírita
é que ela é racional e, por isso mesmo, não aceita dogmas, só admite como
doutrinário aquilo que passe pelo crivo da razão e pelo criterium
da concordância. Portanto, é inconcebível o fanatismo em um adepto do Espiritismo,
mas desgraçadamente ele existe em alguns que se intitulam espíritas !…

Há vários tipos de fanáticos nos Centros Espíritas: aquele que procura
o Centro unicamente para receber passes e acredita que eles lhes são benéficos,
no entanto, não se observa nele nenhuma transformação íntima; muitas vezes,
continuam sendo pessoas egoístas, rancorosas, agressivas, apesar dos passes.
Julgam que indo ao Centro regularmente, sem faltar um só dia, e recebendo seus passes,
estariam quites com DEUS e ponto final !…

Outro tipo de fanático é aquele que procura o Centro unicamente para levar
“água fluidificada” para casa e alguns mesmo, pasme-se, levam seus familiares para
um “banho de ervas” aconselhado por um dirigente “espírita”. Ora, nada temos contra
quem é adepto da Umbanda, Candomblé, etc., mas confundir-se Espiritismo com tais
denominações é, no mínimo, ignorância das obras básicas do Espiritismo…

Outros, ainda, que se dizem espíritas, colocam defumadores em suas casas, querendo
com isso afastar os maus espíritos; seria a “fumacinha” quem afastaria os maus espíritos.
Ora, um espírito inferior, mas inteligente, desencarnado, acreditará que uma “fumacinha”
lhe fará mal?! Certamente que não, inclusive tais espíritos estimularão a crendice
das pessoas que se utilizam de tais rituais para se divertirem. Neste aspecto é
trágico vermos homens inteligentes admitirem que a “fumacinha” funciona,
porque os Espíritos inferiores assim o acreditariam!!…

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Outra crença cega é a de que nos Centros Espíritas haveria uma “barreira fluídica”,
“eletromagnética”, dizem os sabichões, para impedir a penetração de maus
espíritos; isto é dito como verdade transitada em julgado, somente porque alguns
Espíritos, idolatrados entre nós, o afirmaram para demonstrar que o Centro Espírita
é um “templo”, um “santuário”. Ora, o que traz bons ou maus fluidos para o interior
de um Centro Espírita são os pensamentos daqueles envolvidos no trabalho. Se, por exemplo, o Presidente de um Centro Espírita é hipócrita, corrupto
e só vive com o nome de JESUS nos lábios, no interior do Centro; mas seu comportamento
diário, fora dele, é dissoluto, que tipo de espíritos ele atrairá para o interior
do Centro? Se não há “barreira fluídica” para impedir a entrada de um Espírito encarnado
deste tipo, por que os desencarnados seriam impedidos de entrar? Seria uma injustiça
de DEUS: o desencarnado inferior leva choque elétrico se tentar entrar no Centro
e o encarnado inferior entraria em conluio com os Espíritos Superiores para enganar
a boa fé alheia? Seria absurdo, pois quando os Espíritos Superiores percebem a sintonia
de espíritos inferiores em determinados Centros, eles se afastam e, neste caso,
a conseqüência é uma verdadeira obsessão coletiva

Dispersão e a “falta danada de um ritualzinho” – A comunhão de pensamentos.

Em longo mail de 13/04/02, disse uma internauta, estudante de Psicologia, dentre
outras coisas:

“(…) Quanto ao ritual que a Doutrina alerta-nos para que dele prescindamos,
eu, para lhe dizer a verdade, sinto uma falta danada de um ritualzinho. Hoje, como
estudante de Psicologia, vejo o quanto ele tem sido importante para ajudar e manter
a mente mais aglutinada, promovendo força mental. Vejo nos Centros como as pessoas
ficam dispersas e o quanto tem sido difícil para nós, estressados de ultimamente,
‘sacarmos’ a importância do nosso templo e mantermo-nos condignamente no ambiente,
dele aproveitando o melhor possível. (…) Não que eu pense que devamos incluir
rituais em nossas casa, mas o que fazermos para que nós espíritas consigamos nos
concentrar mais para orarmos, meditarmos etc., sem uma velinha, um mantrasinho,
etc ?.”

R.P.S.

Cuiabá – MT

A leitora, estudante de Psicologia, portanto, com bom nível intelectual, sente
a necessidade de “uma velinha, um mantrasinho” e a “falta danada de um ritualzinho”
para se concentrar e reclama da dispersão de pensamentos nos Centros Espíritas;
imagine-se o que acontece com as pessoas não intelectualizadas!…

Ainda somos inferiores, pois sentimos uma “falta danada de um ritualzinho”, e
neste sentido pronunciaram-se os Espíritos Superiores num trecho da resposta da
questão 554 de OLE: ” (…) Ora, é difícil
que aquele que é tão simplório para crer na virtude de um talismã não tenha um objetivo
mais material que moral. Qualquer que seja o caso, isso indica estreiteza e fraqueza
de idéias, que dão azo aos espíritos imperfeitos e zombadores”
. No entanto,
cabe-nos combater essa inferioridade através do estudo da Doutrina dos Espíritos
e através da prática da caridade bem compreendida.

Obviamente, sentimos nosso pensamento disperso algumas vezes, mas se houvesse
verdadeira educação mediúnica nos Centros Espíritas, com certeza tais fatos lamentáveis
de fanatismo e necessidade de fetiches desapareceriam, pois seríamos médiuns
prontos
e saberíamos concentrar-nos efetivamente, sem necessidade de velinhas,
mantrasinhos e outros objetos de qualquer tipo, pois o importante é o pensamento
e não o objeto.

Certa vez disseram-me que ‘médiuns videntes” tinham observado num Centro Espírita
a entrada de Benfeitores Espirituais, que teriam derramado seus fluidos espirituais
nas garrafinhas d’água colocadas pelos adeptos e que, inclusive “viram fluidos de
várias colorações, etéreas, belíssimas”. Apesar disso ser uma crença generalizada,
vejamos a opinião do astrônomo CAMILLE FLAMMARION – aquele mesmo que ao pé do túmulo
de KARDEC disse que este era “o bom senso encarnado” :


CAMILLE FLAMMARION
(1842-1925)

“(…) Tendo o sensitivo bebido, em estado de vigília, um copo de água, com
sugestão mental de ser um copo de kirsch, manifestou todos os sintomas de embriaguez
durante vários dias. Foram os fenômenos deste gênero que fizeram crer aos magnetizadores
poderem eles, magnetizando um copo de água ou um outro objeto, impregnar seus fluidos
de diferentes qualidades físicas ou químicas (…)
” – os grifos são do autor
– (CAMILLE FLAMMARION. O Desconhecido e os problemas psíquicos. Vol. II.

3 ed. FEB, Rio, 1980, p. 24). E conclui o grande cientista espírita:

“(…) A magnetização é neste caso inútil, pois que é o pensamento que age sobre
o cérebro do paciente e não sobre o objeto” – o grifo é do autor -(op. cit.,
p. 24).

As palavras de FLAMMARION não são meras palavras, são fruto de pesquisas rigorosas…

Vejamos o que nos diz ALLAN KARDEC sobre a comunhão de pensamentos:

“Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são
fundadas na comunhão de pensamentos; é aí, com efeito, que podem e devem exercer
toda a sua força, porque o objetivo deve ser o desligamento do pensamento do domínio
da matéria. Infelizmente a maioria se afasta deste princípio, à medida que tornam
a religião uma questão de forma
. Disto resulta que, cada um, fazendo seu
dever consistir na realização da forma, se julga quites com Deus e com os homens,
desde que praticou uma fórmula. Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões
religiosas com um pensamento pessoal, por conta própria e, na maioria das vezes,
sem nenhum sentimento de confraternidade, em relação aos outros assistentes: isola-se
em meio à multidão e só pensa no céu para si próprio.”
(o grifo é nosso). E
prossegue O Codificador:

“Certamente não era assim que o entendia Jesus, quando disse: Quando estiverdes
diversos, reunidos em meu nome, eu estarei em vosso meio. Mas não se pode estar
reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, a sua doutrina. Ora,
qual é o princípio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos,
palavras e ação. Os egoístas e os orgulhosos mentem quando se dizem reunidos em
nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos”
(ALLAN KARDEC.
Revista Espírita- Jornal de estudos psicológicos. Ano VII,1864, EDICEL,São
Paulo, p. 354-355).

Portanto, o pensamento é tudo a forma quase nada ou nada. As reuniões mediúnicas
espíritas tem de ser realizadas com médiuns verdadeiros e estes não são reconhecidos
por nenhum sinal exterior, como foi o caso, absurdo, de uma pessoa que dizia reconhecer
o médium através das manchas das unhas das mãos. Uma tal pessoa numa reunião mediúnica
conseguiria que JESUS estivesse entre eles reunidos?…

Iso Jorge Teixeira
CREMERJ: 52-14472-7
Psiquiatra. Livre-Docente de Psicopatologia e Psiquiatria da Faculdade de
Ciências Médicas (FCM) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).