A Imperiosa Necessidade do Estudo das Obras Básicas
O ser humano em todas as épocas sempre se deparou com inúmeros obstáculos em
sua ânsia por auto conhecer-se, bem como conhecer o mundo a sua volta e as leis
que o governa. O primeiro e maior dos obstáculos ainda reside em nós próprios e
é o nosso mais ferrenho inimigo nos desafios a serem enfrentados na nossa
permanente luta evolutiva. Nos referimos aqui ao egoísmo e ao orgulho que sempre
andam de braços dados a nos impedir que avancemos e nos tornemos melhores seres
humanos, extirpando do nosso meio as mazelas que fazem do nosso Planeta Terra um
lugar onde ainda reine a dor e o sofrimento.
Inicialmente tivemos a vã pretensão de ser o centro do universo. A partir do
momento em que descobrimos ser esta uma falsa e nefasta ilusão, começamos a
criar fórmulas novas para lidar com o desconhecido. Neste ponto da nossa
história já temos plena consciência da existência de uma Força Suprema que a
todos governa com as suas leis sábias e imutáveis. Entretanto, não tendo ainda
condições de entender claramente os mecanismos destas leis e habituados aos
processos de manipulação a que nos entregamos ao longo da nossa história,
tivemos que inventar novas fórmulas para alimentar o nosso egísmo e exercer o
inescrupuloso domínio dos mais fortes sobre os mais fracos.
Assim é que passamos a explorar o desconhecido e criamos leis e mecanismos
para empanar as verdades existentes por detrás dos fenômenos psíquicos e
naturais, o que fizemos com o fito único de dominar e subjugar o nosso próximo.
Surge a partir de então o supernatural, os milagres e as fórmulas mágicas de
lidar com estes, o que só era privilégio de poucos escolhidos pelos ?deuses?,
tendo sido estes também criados à imagem e semelhança destes poucos pretensos
privilegiados, é claro.
É neste contexto equivocado, nada propício ao descobrimento da verdade acerca
de nós mesmos e do mundo em que vivemos, que surgem as primeiras religiões
organizadas. Paradoxalmente estas, fugindo à essência da sua própria razão de
ser, ou seja, a de servir de instrumento no auxílio à busca do
auto-conhecimento, atiraramm-se no mais desastrado empreendimento e passaram a
desvirtuar as verdades relativas até então acessíveis ao ser humano nesta busca
de identidade com a sua própria essência, o que fizeram movidas pelo egoísmo dos
seus membros, com vistas à preservação dos interesses puramente materiais e a
perpetuação no poder. Neste longo e penoso período de trevas a que a humanidade
foi atirada, a busca do conhecimento com vistas ao progresso evolutivo tornou-se
quase impossível, uma vez que os dignatários dos ?deuses? e seus vassalos tudo
faziam para manter a humanidade na sombra da ignorância. Diante deste quadro
tétrico e ignóbil as poucas iniciativas com vistas a se levantar o véu da
ignorância que cobria as almas sedentas por conhecimento eram sufocadas a ferro
e a fogo.
Todavia, atados à inexorabilidade das Leis Universais que a todos regem, as
quais determinam que a evolução deve ser a meta inarredável a ser seguida por
todos, o ser humano conquistou a sua maturidade e chegou a idade da razão. Desde
o fechamento da porta que deixou para trás esse período de trevas, muitas foram
as conquistas no mundo das ciências, das artes e das idéias. Muito embora ainda
prevaleça em nosso meio as idéias mais sintonizadas com o materialismo, postura
esta de absoluta conveniência daqueles que querem negar o óbvio e professar o
niilismo, é forçoso admitir que a idéia espiritualista forma uma grande corrente
no pensamento vigente da atualidade. Deste modo, conceitos como lívre-arbítrio,
solidariedade universal, vida após a morte, pluralidade de existências em
diferentes mundos, reencarnação, possibilidade de intercâmbio entre ?vivos? e
?mortos?, etc., passaram a ser considerados no contexto do conhecimento humano
como fortes indicativos na busca da solução dos enigmas existenciais.
Muitos foram os sistemas filosóficos que emergiram no decorrer desta longa
jornada do ser humano em sua trajetória histórica. Nos últimos tempos, tendo em
vista os avanços da ciência e a relativa liberdade de manifestação do
pensamento, esse caudaloso emaranhado de teorias avoluma-se ainda mais. É
necessário pois, que nos preparemos através do estudo sistemático e racional
para que não sejamos tragados pelos devaneios e excessos de muitos dos sistemas
de plantão, os quais ainda se identificam e se comprazem no materialismo,
tentando a todo custo negar a nossa verdadeira identidade espiritual. Todo
esforço deve ser feito no sentido de que cada um de nós tenha o firme propósito
de buscar conhecer a VERDADE, conscientes de que esta é ainda relativa ao nosso
estágio evolutivo, uma vez que a Verdade Absoluta não é privilégio de nenhum
grupo, seita, religião ou sistema filosófico existente em nosso Planeta.
Nós espíritas devemos agradecer a Deus pela maravilhosa dádiva de podermos
nesta existência ter tido a oportunidade de conhecer a Doutrina dos Espíritos. É
óbvio que devemos acima de tudo procurar entender a responsabilidade que isto
nos impõe, haja visto que a advertência do Mestre de que “Muito se pedirá
áquele que muito recebeu” deve ser um alerta constante em nossas vidas.
O entendimento claro dos postulados espíritas, em especial aqueles que nos
orientam quanto aos aspectos de consequências morais a que devemos pautar o
nosso proceder diário, é algo que só poderá ser atingido através do estudo sério
e persistente das obras básicas da codificação. Somente a partir dai poderemos
alçar vôos mais altos na nossa pretensão de incrementar os nossos conhecimentos
em todas as direções. Sabemos que o aperfeiçoameanto espiritual e a meta da
perfeição só poderá ser atingida através de duas vias, a do progresso moral e
a do conhecimento. A Doutrina Espírita servirá certamente como um
instrumento indispensável na conquista destas metas, na medida em que nos
propusermos a estudá-la realmente com determinação.
A essência da proposta do GEAE está centrada na idéia de estimular o estudo
fraterno da Doutrina Espírita através de vários meios, em especial pelo
intercâmbio de experiências trazidas aos boletins em forma de escritos diversos.
Novamente temos a satisfação de trazer aqui mais uma destas substanciais
colaborações. Apresentamos o excelente trabalho de síntese de uma das obras da
codificação, A Gênese, magistralmente elaborado pelo amigo Joel
Matias, de Blumenau-SC, onde ele resumiu de forma muito clara e de fácil
leitura os conceitos básicos minuciosamente expostos no livro original.
Esperamos que este trabalho, o qual será reproduzido integralmente neste
boletim, em quinze capítulos, sirva de estímulo a muitos na motivação ao estudo
sincero e dedicado da Doutrina dos Espíritos, em especial o estudo permanente
das obras básicas.
Nós todos do GEAE somos imensamente gratos ao companheiro Joel pelo seu gesto
de desprendimento e rogamos a Deus que o ilumine ainda mais, para que possa
continuar contribuindo nessa cruzada de disseminação dos conhecimentos
espíritas.
(Publicado no Boletim GEAE Número 425 de 4 de setembro de 2001)