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O Livro dos Espíritos e a História

Poucas vezes avaliamos a luta heróica para se divulgar e implantar uma idéia.
Por exemplo: quando lemos O Livro dos Espíritos não fazemos idéia da
extraordinária jornada do pensamento humano para chegar até este ponto.

Esta jornada teve início com a chegada do homem na Terra, desde as épocas
mais recuadas, passando pelas várias idades da humanidade, como a idade da pedra
polida, pré-história, a invenção da escrita, pelas outras fases como a
litolatria, a fitolatria, a zoologia, o politeísmo, o Código de Hamurabi, o
Monoteísmo de Moisés com o seu código de Talião – olho por olho – dente por
dente, trazendo os princípios da justiça, e a defesa do mais fraco contra a
força do mais forte, com o Torá.

Surge, então, a era dos profetas hebreus, com suas linguagens austeras,
implantando a justiça pelo medo do castigo. A história foi pisada pelas patas
dos cavalos dos bárbaros, como Tarmelão, Gengis Khan, e brilhou no ferro das
espadas de grandes conquistadores, como Alexandre, Amílcar Barca, Anibal, Júlio
César.

Espalhou-se pelo mundo com as legiões romanas, e consagrou altares nos
sacrifícios de vários cultos, de Baal a Jeová, de Zeus a Júpiter. Passou por
corações mansos e pacíficos como Buda, Confucio, culminando numa manjedoura com
Jesus de Nazaré, que, ao caminhar pelas estradas do mundo, deixou desprender-se
de suas sandálias poeira de estrelas, que nunca mais puderam ser apagadas.

Veio depois a diáspora e os judeus se espalharam pelo mundo, levando em seus
corações as esperanças de uma pátria. Maomé surge no Levante e ergue o
estandarte do islamismo.

Depois aconteceu a terrível nódoa das cruzadas, e mais à frente a negra noite
da idade média, com o Tribunal da Santa Inquisição, quando, em nome de Jesus de
Nazaré, que deu sua própria vida para iluminar o mundo, torturou-se e matou-se
em defesa da fé e da salvação das almas.

Coisa maravilhosa foi a invenção da imprensa e a reforma protestante, marcos
indeléveis desta caminhada, pois, sem elas, não haveria o Espiritismo.

Nesta caminhada fabulosa veio a revolução francesa, os Iluministas e grandes
inteligências. Infelizmente houve, também, a mancha da escravidão negra e o
colonialismo explorador das nações fortes sobre as fracas, até que o plano
espiritual determina que os espíritos invadam a Terra, e surge a primeira ponta
de lança desta invasão a aldeia de Hidesvylle, com as meninas Fox e o espírito
Charles Rosma.

É chegado o momento! Em abril de 1857 é lançada em Paris a primeira edição
deste livro que agora compulsamos e consultamos em nossa língua, com todas as
facilidades e toda a liberdade. Mas para chegar a esse direito de ser livre,
quanto sangue foi derramado, quantos morreram, quantas fogueiras da intolerância
foram acesas e alimentadas com a carne humana, e com os ideais daqueles que
caminham à frente da humanidade.

Por tanto, meu amigo e minha amiga; reverencie este livro! Ame-o
profundamente, pois ele não é somente um livro impresso, é toda uma história
apaixonante e de extrema coragem. Se você penetrá-lo com o seu olhar, além das
suas páginas, verá todo esse caminhar da humanidade. Depois dele ainda
aconteceram muitas guerras, e duas conflagrações mundiais, mas com certeza, você
que o leu e meditou nos seus ensinamentos, já não é mais o mesmo.

Agora você sabe de onde veio, o que faz na Terra e para onde vai quando
deixá-la. Hoje você sabe que a morte não existe, pois esse livro matou a morte,
e agora você sabe que é imortal, e porque, mas sobretudo para quê.

Apure a sua audição parapsiquica, encoste seus ouvidos espirituais na capa
deste livro e ouvirá os gemidos da história, o sibilar das flechas, o tropel dos
cavalos, o bater das ondas no casco dos navios de Colombo, o troar dos canhões,
as terríveis explosões atômicas sobre Iroshima e Nagazaki, o lamento dos negros
nos porões dos navios negreiros, os discursos de Sócrates e Platão, o cântico
dos anjos: Glória a Deus Nas Alturas e Paz na Terra, e Boa Vontade para com os
homens. Mas sobretudo o Sermão da Montanha, as bem aventuranças…

Você ainda pode ser o mesmo? NÃO! Nunca mais!