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A Identificação e os Extremos

O estudo do tema é de grave importância, porque vez por outra vamos nos
defrontar com textos psicografados, com manifestações psicofônicas ou pretensos
recados vindos do Além. Familiarizados com o assunto, saberemos prontamente
identificar a origem, se boa ou má, se esclarecida ou ignorante.

Se estivermos preocupados com a questão da identidade dos espíritos, para
saber se realmente os nomes dados correspondem efetivamente à identidade
verdadeira dos espíritos, a solução é fácil. Kardec também preocupou-se com o
fato e desenvolveu todo o capítulo XXIV de O LIVRO DOS MÉDIUNS, com o título
IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS. Neste capítulo há todo um roteiro que esclarece o
pesquisador, o estudioso e todo aquele que deseja comprovar a identidade do
comunicante. Apresentando os subtítulos Provas Possíveis de Identidade,
Distinção dos bons e dos maus espíritos e Questões sobre a natureza e a
identidade dos espíritos, além de um resumo dos meios de reconhecer a qualidade
dos espíritos e um sábio conselho dado pelo Espírito São Luiz, que vale por
regra de ouro nas relações com os espíritos, o capítulo deve ser conhecido e
estudado por todo aquele que está envolvido com a prática mediúnica.

Na realidade, o que mais interessa numa comunicação é o conteúdo, o
ensinamento que traz. Pouco importa o nome com o qual se apresenta. Porém, a
questão da identificação é importante nas comunicações familiares (casos de
mensagens consoladoras para os familiares, onde os detalhes tem grande peso de
identificação), em vultos influentes num grupo ou numa sociedade (por exemplo,
Dr. Bezerra na sociedade brasileira) ou em situações específicas, onde a
identificação se torna necessária ou oportuna. Em todos os casos, porém, fica a
importância de comparar o conteúdo das comunicações diretamente com a lógica e o
bom senso. E também a coerência da mensagem com a personalidade do comunicante,
seu estilo, etc.

Os itens relacionados no capítulo referido da obra em questão são de grande
importância e seria anti-didático ficarmos apenas com transcrições parciais
neste artigo, razão pela qual remetemos o leitor diretamente àqueles pontos,
convidando-o a ler e reler os itens apresentados pelo Codificador e as
orientações recebidas dos próprios espíritos. Principalmente porque sempre
haverá médiuns e espíritos sem escrúpulos que tomarão a identidade de outros,
para impressionar, conquistar créditos e explorar a credulidade humana, com
objetivos menos dignos

Neste ponto, uma questão capital é saber distinguir um bom dum mal espírito,
para não se ficar exposto à exploração e à mistificação. Isto também é fácil. Há
todo um roteiro no capítulo (item 267), como dissemos acima, e nos seus 26
itens, fica claro o perfil dos bons espíritos de nunca imporem seus pontos de
vistas, de jamais forçarem ou constrangerem os homens a quem se dirigem.
Apresentam-se com uma linguagem sempre digna, nobre, elevada, coerente quaisquer
que sejam o tempo e o lugar. Interessante é que calam-se quando não sabem e
nunca precisam datas ou acontecimentos futuros. São prudentes e reservados, se
chegam a elogiar é sutilmente, sempre com atitudes de bom senso e bondade. Com
essas características, fica fácil identificar um espírito mal intencionado, que
sempre se apresentará petulante, agressivo, mandão ou com posturas de “sabe
tudo” e tentando se impor.

Mas há uma pergunta muito interessante no contexto geral (a de número 16 do
item 268): “Por que Deus permite que os maus espíritos se comuniquem e digam
coisas más? Resposta: Mesmo naquilo que é pior, há um ensinamento; compete a vós
saber retirá-lo. É preciso que haja comunicações de todas as espécies para vos
ensinar a distinguir os bons Espíritos dos maus, e, a vós mesmos vos servir de
espelho” . Vejam, há sempre o que aprender… Com a experiência no contato com
os espíritos, vamos aprendendo a identificá-los, vamos conhecendo sua maneira de
ser, a maneira como se apresentam. O mesmo acontece com os médiuns, que
identificam os espíritos, mesmo sem vê-los.

O estudo do tema é de grave importância, porque vez por outra vamos nos
defrontar com textos psicografados, com manifestações psicofônicas ou pretensos
recados vindos do Além. Familiarizados com o assunto, saberemos prontamente
identificar a origem, se boa ou má, se esclarecida ou ignorante.

Quanto à identificação de nossos familiares, a questão também ganha luz, pois
saberemos identificar a personalidade, direcionamento do interesse, etc.

Notem que quando alguma personalidade importante desencarna, sempre surgem as
manifestações a ele atribuídas. Com um pouco de bom senso e estudo do assunto,
estaremos vacinados contra essas armadilhas sutis. Considere o leitor como é
importante para os grupos mediúnicos dedicarem-se ao estudo desse assunto, ao
invés de ficarem aceitando cegamente toda e qualquer manifestação que se
apresente no grupo…

Mas, aí pode surgir outra questão: Como ficam os novatos, aqueles que
desconhecem a Doutrina e buscam mensagens de familiares queridos com médiuns
espíritas? Neste caso é bom preveni-los de toda esta questão e endereçá-los a
médiuns conhecidos e confiáveis, embasados no trabalho cristão, envolvidos com a
Doutrina Espírita. Para também não serem enganados…

Quando falta o estudo da Doutrina Espírita, é comum um comportamento místico
nas sessões de comunicações com os espíritos, os médiuns se portam de maneira a
impressionar os participantes, dando-se ares de endeusamento. Nestes casos, onde
a Doutrina está ausente, o fenômeno acontece de forma barulhenta, cercado de uma
onda de mistérios e também com práticas incoerentes. Nessas ocasiões, os
espíritos comunicantes, normalmente apresentam-se dando ordens, usam nomes
respeitáveis sem a menor cerimônia e pior, apresentam teorias absurdas,
recomendações distantes do bom senso que as pessoas, desprevenidas e sem
conhecimento do assunto, aceitam cegamente, porque no entender deles, advindas
de espíritos – por elas entendidas como seres divinizados, quando na verdade a
Doutrina ensina que os espíritos são simplesmente os homens fora do corpo.

Do lado oposto, quando a Doutrina está presente, em grupos que a estudam, o
fenômeno mediúnico das manifestações psicofônicas ou psicográficas – ou ainda
por outras modalidades, se apresenta de forma natural, espontânea. São seres
pensantes fora do corpo trazendo seu recado para seres pensantes usando um corpo
transitório. Nada de endeusamento ou misticismo. Os médiuns se portam de maneira
disciplinada, educada, os objetivos são de aprendizado para todos,
esclarecimento para os necessitados, ajuda espiritual para aqueles que dela
necessitarem e sem dúvida oportunidade de reflexão para o grupo todo. Neste
caso, já não há a preocupação com a identidade do comunicante. Haverá sim
análise do conteúdo, para aproveitamento na orientação do grupo ou como material
para estudo e reflexão. Se a identificação vier, será espontânea e visando
objetivos elevados, sem aquela neurose de saber quem é. Teremos uma reunião com
bem recomenda a boa prática espírita, sem misticismo, sem exageros, com
disciplina e bom senso.


Mas há um outro aspecto. Foge um pouco da questão da identificação de
espíritos comunicantes, mas liga-se à identificação do homem com o programa do
Cristo, com os objetivos da Doutrina Espírita. Pensemos na amplidão do programa
do Cristo, Qual será? Estudando todo o seu Evangelho, analisando seus
ensinamentos, teremos uma compreensão exata do porque da vinda do Cristo, do
esforço dos espíritos em mantê-lo entre os homens e os permanentes estímulos
para seu conhecimento, divulgação e vivência. Trata-se da felicidade humana, do
progresso. E aí podemos perguntar a nós mesmos: Como está nossa identificação
com esse programa?

Trago a questão em virtude de um acontecimento pitoresco. Escrevo em jornais
da região onde resido, já há alguns anos. São duas colunas espíritas e uma não
espírita. E em função de morarmos e trabalharmos em cidades pequenas, há sempre
uma identificação muito grande entre o colunista e os leitores, que sempre
trazem o retorno da impressão que os artigos lhes trazem. Um dia desses, fui
abordado por um senhor – que sempre conversa comigo no Banco. Perguntou-me ele
se os espíritas seguem o Cristo. Se nossa Doutrina reconhece Jesus como o
Mestre, pois que ele sentia isto no teor dos artigos de nossa autoria. Ao
receber minha resposta afirmativa, disse que sempre achou que não. A Doutrina
lhe parecia estranha pelos contatos que manteve com alguns espíritas de sua
época. Em determinada situação, um grupo de pessoas resolveu colocar um
crucifixo numa sala e o único espírita participante do grupo foi extremamente
duro com o grupo, trazendo uma série de argumentos contrários à colocação do
crucifixo. Segundo nosso interlocutor, aquele espírita pensava que todo mundo
era espírita. Ficou essa impressão da Doutrina, a de combate ao Cristo, a de
postura contrária a Jesus, em função da negativa mal argumentada sobre a
presença do crucifixo.

Vejam o extremo da identificação: o fanatismo. O fanatismo de não compreender
as razões de um grupo católico. Uma postura rígida, incoerente com a Doutrina.
Ora, o local era público, não era sua casa, não era o Centro Espírita. Vejam a
impressão que ficou … Anos depois, lendo artigos espíritas, surgiu a indagação
em nosso amigo. Mas a Doutrina Espírita segue o Cristo, reconhece-o como Mestre?

Não está aí uma identificação equivocada com os programas de Jesus?

Não está aí uma identificação equivocada com os programas da Doutrina?

Claro que a Doutrina não adota imagens, mas isto não nos impede de respeitar
as convicções alheias. Não usamos, mas respeitamos profundamente as posturas de
outras crenças, sem o direito de rechaçá-las.

É um exemplo simples, pequeno. Mas quantos outros não haverá na mesma ordem
de equívocos … E depois reclamamos que a Doutrina é apresentada deturpada pela
mídia. Mas como estamos apresentando a Doutrina aos que nos observam?


Mais do que a preocupação de identificar espíritos, preocupemo-nos em nos
identificarmos com a Doutrina, estudando-a para evitar comportamentos extremos,
que levam ao fanatismo. Bem recomendou o Espírita de Verdade:

“(…) Espíritas, instruí-vos …”.