A Pedagogia de Jesus
Não se consegue a salvação pela obediência à lei e pelos rituais do culto (as
obras da lei), mas pelo aperfeiçoamento do espírito, pela purificação do
coração, pela educação integral da criatura. Por isso é preciso nascer de novo
–– não em forma simbólica, mas naquele sentido que Nicodemos não podia
compreender: nascer da água e do espírito (a água era o símbolo da matéria, do
poder fecundante e gerador), nascer para se redimir, não da desobediência de
Adão e Eva, mas dos seus próprios erros, como aconteceu ao cego de Jericó, como
sucedera a Elias reencarnado em João Batista.
A pedagogia da esperança
Desses princípios fundamentais resultava logicamente a Pedagogia da
Esperança. A educação não era mais o ajustamento do ser aos moldes ditados pelos
rabinos do Templo, a imposição de fora para dentro da moral farisaica, mas o
despertar das criaturas para Deus através dos estímulos da palavra e do exemplo.
A salvação pela graça não era um privilégio de alguns, mas o direito de todos.
Jesus ensinava e exemplificava e seus discípulos faziam o mesmo. Chamava as
crianças a si para abençoá-las e despertar-lhes, com palavras de amor, os
sentimentos mais puros. Nem os apóstolos entenderam aquela atitude estranha: um
rabi cheio da sabedoria da Torá perder tempo com as crianças ao invés de ensinar
coisas graves aos homens. Mas Jesus lhes disse: “Deixai vir a mim os pequeninos,
porque deles é o Reino dos Céus”.
Sua condição de mestre é afirmada por ele mesmo: “Vós me chamais mestre e
senhor, e dizeis bem, porque eu o sou”. Sim, ele é o mestre do Mundo, o senhor
dos homens, de todos os homens, sem qualquer distinção. Cada criatura humana é
para ele um educando, um aluno, como escreveu o Dr. Sérgio Valle: “matriculado
na Escola da Terra”. Assim, a Terra não é mais o paraíso dos privilegiados e o
inferno dos condenados. É a grande escola em que todos aprendemos, em que todos
nos educamos. A Pedagogia da Esperança oferece a todos a oportunidade de
salvação, porque a salvação está na educação.
Vejamos este expressivo trecho de Francisco Arroyo em sua “História Geral da
Pedagogia”:
“Jesus possui todas as qualidades do educador perfeito. Os recursos
pedagógicos de que se serve conduzem o educando, com feliz e profunda alegria, à
verdade essencial dos seus ensinos. Por isso pode sacudir e despertar a
consciência adormecida do seu próprio povo, asfixiado sob o peso excessivo da
lei mosaica e da política imperialista da época”.
“Os ensinos de Jesus são sempre adaptados aos ouvintes. Ele pronuncia as suas
palavras de forma compreensível para todos, sempre nas ocasiões mais oportunas.
Recorre freqüentemente às imagens e parábolas, dando maior plasticidade às suas
idéias”.
“A Pedagogia do mestre é também gradual. Não cai jamais em precipitações que
possam fazer malograr o aprendizado. Semeia e espera que as sementes germinem e
frutifiquem: Tenho ainda muito a vos dizer, mas vós não o podeis suportar
agora”.
“Como todo educador genial, Jesus emprega em alto grau a arte de interrogar,
de expor, de excitar o interesse dos discípulos. Seus colóquios decorrem sempre
num ambiente de incomparável simpatia. É digno, severo, paciente, segundo as
circunstâncias e os interlocutores”.
Os seus ensinos são claros e intuitivos. Cria figuras literárias e busca
exemplos da vida cotidiana para esclarecer o seu pensamento. Aperfeiçoou a forma
da parábola e revestiu-a de incomparável esplendor” (Riboulet).
“Seus ensinos têm um toque de autoridade (Eu sou o caminho , a verdade e a
vida, todo o poder me foi concedido). Mas exerce com suavidade a sua autoridade.
Responde com bondade aos contraditores de boa fé e com energia aos que querem
combatê-lo”.
A revolução pedagógica
Este quadro da didática de Jesus (aplicação da sua pedagogia) mostra-nos as
raízes da revolução pedagógica do Cristianismo. Costuma-se dizer, e com razão,
que Rousseau produziu uma revolução copérnica na educação. Mas a seiva de toda a
Pedagogia de Rousseau foi bebida na Pedagogia de Jesus. O “Emílio” começa por
esta frase: “Tudo está certo ao sair das mãos do Criador”. Os homens, para
Rousseau, nascem bons e puros, pois Deus é bondade e pureza. Mas ao entrarem nas
relações sociais do mundo sofrem a queda na maldade e na impureza. É o dogma
judeu da queda de Adão e Eva racionalizado numa interpretação cristã. Para Jesus
a criança é pura e boa, mas o contato com os homens vai deformá-la e os homens
precisam voltar a ser crianças para entrar no Céu.
A descoberta copérnica da psicologia infantil por Rousseau corresponde à
diferença estabelecida por Jesus entre a criança e o homem. A respeito de
Rousseau pelo desenvolvimento natural e gradual da criança, que não deve ser
perturbado por exigências prematuras do ensino, eqüivale à condenação de Jesus
para todos aqueles que violentarem “um desses pequeninos”. A educação natural de
Rousseau, seguindo a graduação necessária do desenvolvimento psicológico e
orgânico, lembra o respeito de Jesus pelas condições evolutivas do homem nos
seus vários estágios, guardando os ensinos mais profundos para mais tarde. É o
que Arroyo chama “o método agógico da Pedagogia de Jesus”.
Uma comparação mais rigorosa e pormenorizada provaria de sobejo que é Jesus o
pai e o verdadeiro inspirador da Pedagogia Moderna. Houve naturalmente o
interregno do medievalismo, quando as interpretações errôneas do Cristianismo e
as infiltrações de idéias judaicas e pagãs na escola cristã a deformaram. Mas
essa fase já havia sido prevista pelo Mestre e esse fenômeno confirma o seu
respeito pelas leis naturais da evolução humana. A parábola do grão de trigo,
ensino dialético do processo histórico, é suficiente para demonstrar isso. A
parábola do fermento que leveda a farinha é outra confirmação.
E dessas duas parábolas, reforçadas pela promessa do Espírito da Verdade, que
seria enviado ao mundo para restabelecer os seus ensinos, ressalta que a
Pedagogia Espírita é a própria ressurreição, no tempo devido e previsto no
Evangelho, da Pedagogia de Jesus. A Educação Espírita que renasce em espírito e
verdade.
FONTE: Pedagogia Espírita, Edição EDICEL.