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Mediunidade de Prova

Mediunidade de Prova

Quando Arigó foi tragicamente vitimado num desastre automobilístico alguém
nos manifestou sua estranheza:

– Pois quê! Não era um médium prodigioso?

– Era, sim – respondemos -, mas isso não lhe conferia nenhum privilégio. O
acidente fazia parte de sua provação. Agora está liberto.

O diálogo sugeriu-nos esta crônica:

Mediunidade, segundo alguns autores, é faculdade psíquica paranormal latente
em todo indivíduo; e, na opinião de outros, faculdade de origem exclusivamente
fisiológica.

O escritor espírita argentino Natálio Ceccarini entende que a mediunidade não
é uma aptidão orgânica e sim um “atributo da alma que se exterioriza através do
mecanismo mental, organização psíquica, sistema nervoso do dotado”.

Porém, a nosso ver, a melhor definição é a de Emmanuel:

“Sendo a luz que brilha na carne, a mediunidade é atributo do Espírito,
patrimônio da alma imortal”.

A bem dizer, o fenômeno mediúnico surgiu com o próprio aparecimento do homem
sobre a Terra. Entretanto, somente após o advento do Espiritismo passou a ter
sua adequada conceituação e ser objeto de estudo científico e prática
metodizada, em âmbito universal.

Em O Livro dos Médiuns, ensina Kardec.

“Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por
esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto,
um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não
possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos,
médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade
mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa
intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva”.

Difícil, senão impossível, o escalonamento rigoroso das categorias de
médiuns, em virtude da imensa variedade dos fenômenos. De modo genérico, no
entanto, parece-nos que, exceto alguns poucos Missionários como Antúlio, Crispa,
Buda e Pitágoras, portadores da chamada “mediunidade natural”, ou mais
propriamente, do dom da intuição Pura, todos os demais que estabelecem
intercâmbio espiritual com o “outro mundo” apenas exercitam a mediunidade de
prova.

Estas palavras de Emmanuel fortalecem nosso ponto de vista:

“Os médiuns, na sua generalidade, não são missionários, na acepção comum do
termo: são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram sobremaneira
o curse das leis divinas e que resgatam. sob o peso de severos compromissos e
ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito,
muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos.
Quase sempre são espíritos que tombaram dos cumes sociais pelo abuso do poder,
da autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo
para  se sacrificarem em favor do grande número de almas que se desviaram
das sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude”.

Em seu livro A vida de Ultratumba, Rufina Noeggerath registra esta
comunicação ditada pelo Espírito Henrique Delaage:

“A mediunidade não é um dom na acepção comum da palavra; tão pouco é um
privilégio. Cada pessoa vem à Terra com uma faculdade mediúnica determinada,
inerente à sua natureza, para ter a possibilidade de se comunicar com os
desencarnados que, por seu passado, seu presente, e, melhor ainda por seu
futuro, estão enlaçados aos mortais”.

A mediunidade constitui-se pois, num instrumento de trabalho para aqueles que
retornam à vida corporal as mais das vezes em serviço de reajustamento. Mas,
representa, ao mesmo tempo, uma faca de dois gumes. Dotado de livre arbítrio, o
reencarnado tanto pode utilizar proficuamente esse instrumento de trabalho, como
deixá-lo desaproveitado a enferrujar ou transformá-lo em arma de destruição.

Assim é que vemos médiuns íntegros ciosos do seu mediunato .como Chico Xavier
e Divaldo Franco, para e, numerar apenas os mais conhecidos. Esses estão
cumprindo bem a tarefa. Contudo, sem se julgarem isentos das sanções
determinadas pela Lei de Causa e Efeito. Em contrapartida, há lamentavelmente
outros cujos nomes nem é bom citar, que, ou sempre foram mercenários, ou
degeneraram depois de uma atividade honesta e proveitosa.

De qualquer maneira, o certo é que a lei não poderá deixar de ser cumprida
fielmente: a cada um, segundo o seu merecimento.

(Revista Internacional de Espiritismo – Agosto de 1972)