Hoje (27 de janeiro), o mundo relembra a libertação dos prisioneiros judeus do campo de concentração polonês Auschwitz-Birkenau. Durante minha estada em Israel, tive a oportunidade de conhecer e visitar o Museu do Holocausto, Yad-Vashem, e jamais esqueci a emoção que senti diante da herança de horror deixada pelo sofrimento e pela dor extremadas – eram vestígios de objetos pertencentes a crianças, idosos, mulheres e homens sacrificados à insânia inumana de um tempo onde a misericórdia e a compaixão foram abortados da convivência humana.
No andar térreo, chega-se à entrada através de alamedas onde há árvores plantadas num vasto jardim com os nomes de todos os que puderam salvar judeus de várias partes da Europa – lá estavam os nomes de Schindler, de Irena Sendler (enfermeira alemã que salvou 2.500 crianças de famílias judias), Raoul Wallenberg, um diplomata sueco que salvou 100.000 judeus, concedendo-lhes passaportes e vistos suecos e cuja morte foi atribuída às condições de sua prisão em território soviético após a guerra (http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u4771.shtml), além de muitos outros que puderam burlar a vigilância das poderosas SS e Gestapo, polícias nazistas, e salvar uma pequena vida de criança que fosse possível.
Muitos ainda tentaram salvar as vidas de negros, de asiáticos, de portadores de deficiências, de homossexuais, de ciganos, e de todos aqueles que não se enquadravam nos conceitos de raça pura preconizados pela filosofia nazista.
Ainda no térreo, um painel imenso toma a parede de entrada onde se vê o mapa dos países da Europa, norte da África, China e Rússia, e as localizações de todos os campos de concentração criados pelo nazi-fascismo, dentre os quais Treblinka e Thereseinstadt.
Em seguida, a exposição fotográfica dos habitantes daqueles locais, misturados em condições sub-humanas, os fornos crematórios, as salas dos “chuveiros”, os objetos criados (abajures, por exemplo) com as peles arrancadas dos corpos ainda em vida, fotos de experimentos em genética dos diabólicos “médicos”, dentes de ouro, objetos pessoais, objetos pertencentes aos lares destruídos pela insanidade.
No segundo andar, uma exposição de desenhos feitos a carvão, em papeis rústicos, mostrando os horrores que lá aconteciam, numa tentativa desesperada de exportá-los dos campos, de contar ao mundo o que estava acontecendo, um pedido dolorido e silencioso de socorro.
Encontrei casualmente um grupo de pessoas idosas, judeus que viveram àquela época e quando os nossos olhos se encontraram, eu nada pude dizer, senão oferecer as minhas lágrimas (que teimavam em não parar de cair) de solidariedade – e de vergonha.
Naquele instante eu pude compreender até onde um ser humano pode chegar quando perde a capacidade de sentir empatia por outro ser humano.
E hoje, com as tristes mas educativas lembranças ainda vivas em minha memória, eu comparo aquele Holocausto com a multiplicidade de holocaustos que continuam a ocorrer pelo mundo. E me pergunto, até quando?
Até quando a insanidade continuará a nos deixar perplexos diante de tudo o que a humanidade poderia construir de belo e de bom e simplesmente não o faz – ou faz pouco?
Até quando a ignorância, a irresponsabilidade e a omissão prevalecerão por sobre os convites amorosos dos missionários do Bem de da Paz?
Já convivi com gênios, com ateus e com religiosos, e com pessoas simples e humildes de coração e em todos eu pude perceber a única necessidade comum compatível à nossa humanidade – a da vivência do Amor e do exercício do conhecimento direcionado para o Bem.
Não há outra alternativa – ou aceitamos ou morreremos – secos e inúteis como os restos de objetos expostos em um museu da morte, carregando conosco a nostalgia de um futuro irrealizado.
Sonia Theodoro da Silva
http://filosofandocotidiano.blogspot.com
Bibliografia e Nota: há uma vasta bibliografia hoje sobre aqueles tempos; filmes como A Lista de Schindler e O Pianista, A Menina que roubava Livros, bem como a série de TV Holocausto, e vários sobre os missionários cristãos que salvaram a vida de judeus, ou que morreram nos campos, como o padre Maximilian Kolbe, e a filósofa cristã, freira carmelita de família judaica, Edith Stein, alemã, discípula de Husserl, fundador da fenomenologia, e que morreu em Auschwitz-Birkenau, foi canonizada pelo Papa João Paulo II (em nosso portal de estudos relataremos a história desta extraordinária mulher). Leia-se ainda a história da adolescente Anne Frank agora também em filme.
Até os nossos dias contesta-se a posição da Igreja Católica diante do Holocausto – recomendamos o filme Papa Pio XII, bem como bibliografia pertinente, para as considerações de nossos leitores.