Ó alma querida, ferida nas batalhas da vida, machucada e esquecida qual nau errante, em distantes mares busco tua verdade, teu porto de partida, a lembrança dos tempos de esperança, a vida que existia em nossas crianças, a graça da flor que brotava nas palavras transbordantes de aroma e poesia.
Perdem-se no tempo e nas memórias tuas aflições, pobre peregrina da eternidade que transmigra de vida a outra na busca de poder recolher tua identidade, perdida nas ilusões, no poder que julgavas possuir, nas dores que afligias. Hoje prostra-te impotente perante as desilusões que cultivaste, temendo aqueles que te estendem as mãos buscando mitigar tuas dores, esconde-te nos becos da memória para fugir da vergonha que possuis ao te defrontares com todos os fantasmas da dolorida história por ti vivida.
Sem repouso, alma companheira, vives hoje a ilusão de morrer tudo o que julgaste ter vivido, em tuas feridas nada mais do que as lembranças, nas dores os sofridos momentos em que morrias em vida.
Transforma-te em nova oportunidade, uma nova existência, um novo caminho na mesma velha eternidade, trazes contigo os mesmos fardos e víveres que conseguiste acumular.
Abençoado pelo esquecimento, dorme em teu íntimo a rota de teu destino, o projeto que arquitetaste para construir a catedral da tua reformulação, o santuário da descoberta, o sagrado solo em que verás germinar o teu novo ser, aquele que, reencontrando a verdade, descobrirá o caminho e assim será a luz que abençoará os que nas trevas persistem.
Serás um novo homem que da riqueza do coração tirará os tesouros que irão aplacar a miséria dos que hoje vivem nas ilusões, semeando nos corações e mentes a verdade da eterna alma…
… fostes criados à Sua imagem e semelhança.
Autor: José Batista de Carvalho