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A consciência de Cristo

Em nossos estudos evangélicos, ao examinarmos minuciosamente cada palavra dos textos, que consideramos valiosos ensinamentos deixados por Jesus, o Mestre Superior, frequentemente nos perguntam: “Será que Jesus pensou em tudo isso quando proferiu essas palavras há dois mil anos?”
Acreditamos que sim. É difícil para nós avaliar a capacidade de Jesus devido à nossa limitação em compreender a “Ciência do Espírito”.

Para entender a diferença entre a Consciência de Cristo e a nossa, precisamos usar comparações que, mesmo não sendo totalmente precisas, nos ajudam a compreender dentro de nossas limitações atuais.

Na geometria, temos as figuras de linha, superfície e volume. A linha contém os pontos que a formam, assim como a superfície é formada por linhas. O maior contém e absorve o menor. Assim, a superfície, por conter a linha, conhece suas particularidades; podemos dizer que a superfície começou como uma linha. O contrário não é verdade; a linha não contém a superfície e não tem domínio sobre ela.

Usando o mesmo raciocínio para analisar o volume, vemos que ele contém as duas figuras anteriores. Portanto, por absorvê-las, podemos dizer que, em sentido não literal, é como se soubesse os detalhes da superfície e da linha.

Projetando esse entendimento para o plano da consciência, podemos afirmar que, enquanto a consciência do Princípio Inteligente nos reinos inferiores da Criação está na fase de linha, ponto e outras anteriores, a consciência do homem em seu estado evolutivo atual está na dimensão da superfície.

Assim, entendemos nossa maior liberdade de movimento e compreensão, mas sempre numa faixa delimitadora que é o relativo. Liberdade e compreensão que aumentam à medida que a evolução nos conduz a uma ampliação dessa consciência, aproximando-se da dimensão volumétrica, a qual é a próxima etapa.

Ainda não podemos, devido à nossa limitação atual, dizer onde se situa a Consciência de Cristo, pois acreditamos que ela está além da fase de volume e até mesmo de uma quarta dimensão, que seria a próxima dentro do andamento natural da evolução.

Em outras palavras, adotando a exposição de “Sua Voz” em A Grande Síntese, que mostra que o Universo evolui por etapas sucessivas classificadas como matéria, energia e espírito: a primeira abrange os estágios iniciais de formação do mundo físico, o surgimento dos seres vivos e sua especialização até o aparecimento dos primatas; a segunda é caracterizada pelo surgimento do ser humano com sua individualidade; e a terceira, a fase do espírito, da superconsciência, onde, liberto das limitações das fases anteriores, o ser pode compreender a Verdade em sua completude.

Este é o estado que devemos buscar, segundo a orientação de Jesus quando nos ensina: “…e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (1).”
Dessa forma, podemos entender como Jesus, já naquela época – pois Ele, há bilhões de anos, quando da formação do nosso Orbe, já era Cristo – podia ter plena consciência de que Seus ensinamentos venceriam o tempo e chegariam até nós ampliados pela nossa maior capacidade de compreensão.

Vejamos o que disse o Codificador do Espiritismo sobre os ensinamentos deixados por Jesus:

“Completar o seu ensino deve ser entendido como explicar e desenvolver, não como adicionar novas verdades, pois tudo já está presente em estado de gérmen, faltando apenas a chave para compreender o sentido das palavras.” (2)

Assim, acreditamos que, dentro de nossa visão simples e despretensiosa, a questão está respondida.

Outra pergunta que nos fazem é: “Como analisar o Evangelho palavra por palavra se não temos certeza de que foram exatamente essas as expressões usadas por Jesus?”

Quem pergunta isso se refere às grandes diferenças entre as traduções evangélicas e às alterações feitas nos textos ao longo do tempo.

Para esses, temos a resposta do nosso querido mentor Emmanuel, segundo a psicografia de Francisco Cândido Xavier:

“…importa observar que os Evangelhos são o roteiro das almas, e é com a visão espiritual que devem ser lidos; pois, constituindo a cátedra de Jesus, o discípulo que deles se aproximar com a intenção sincera de aprender encontra, sob todos os símbolos da letra, a palavra persuasiva e doce, simples e enérgica, da inspiração do seu Mestre imortal.(3)”

Além disso, podemos lembrar Kardec, que nos mostra no capítulo I de O Evangelho Segundo o Espiritismo que a mensagem de Cristo é a segunda revelação da Lei de Deus. Se, conforme os ensinamentos dos Espíritos Superiores, a terceira revelação – o Espiritismo – foi supervisionada pelo Espírito de Verdade, por que a segunda não teria sido da mesma forma?

Dessa forma, afirmamos, com certeza fundamentada na fé raciocinada, que a redação dos Evangelhos foi seguramente supervisionada não só pelos Espíritos Superiores, mas também pelo próprio Cristo. E que, se houve alterações no texto original, todas foram, por assim dizer, autorizadas pela espiritualidade superior, para que a mensagem não se perdesse ao longo do tempo.

Em outras palavras, podemos dizer que todas as palavras contidas no Evangelho, se não são historicamente precisas, foram didaticamente escolhidas para que o espírito humano, à medida que evoluísse, pudesse extrair delas, conforme as palavras de Emmanuel, a palavra persuasiva e doce, simples e enérgica, da inspiração do seu Mestre imortal (4).

Portanto, aproximemo-nos do Evangelho com olhos atentos, estudemos suas entrelinhas com a Boa Vontade de aprender, e com a sensibilidade que já possuímos, e com o amparo da espiritualidade que nos auxilia a todo instante, chegaremos bem próximos do sentimento expresso pelo Meigo Rabi, que há tempos nos aguarda para sermos guiados por Ele como Pastor e Redentor de nossas almas.


Notas:
[1] João, 8:32
[2] A Gênese, capítulo I, item 28
[3] O Consolador, questão 321
[4] Obra citada.


BIBLIOGRAFIA:
ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia, 74a Impressão. Rio de Janeiro, Imprensa Bíblica Brasileira, 1991
BRASIL, Vilma Americano / Vários autores espirituais. Evangelho e Ciência, 2ª ed., SP, Edicel, 1986.
KARDEC, Allan. A Gênese. 26a ed, RJ, FEB, 1984
———— O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991

 

Por Claudio Fajardo de Castro