Por incrível que pareça, com todo o excepcional progresso da ciência nas
derradeiras décadas criamos a sociedade dos deprimidos e dos comprimidos, porque
no fundo nos sentimos oprimidos.
Vivemos uma crise cultural sem precedentes na história deste mundo. Nunca,
como hoje, os seres humanos mais sensíveis foram tão atormentados pela percepção
de que algo em seu destino não está certo e precisa ser retificado. Algo
terrivelmente incômodo, que muita gente não identifica de modo correto e por
isso se debate em inexplicável angústia.
O sentimento de desconforto íntimo de numerosos homens e mulheres, velhos e
jovens, leva-os nos tempos atuais ao desinteresse pela existência, ao medo do
futuro, à renúncia de aspirações justas, ao desânimo em face dos desafios da
sorte, enfim, a um abatimento mórbido que recebeu dos especialistas em saúde
sonoro nome: depressão. O seu tratamento, de ordinário, é feito com recursos
farmacêuticos. E os resultados, freqüentemente, revelam-se como meros
paliativos.
Desde Hipócrates a Medicina estuda a depressão, chamada em época remota de
melancolia. E na verdade sobre ela ainda pouco aprendeu, em que pese os seus
respeitáveis conhecimentos em torno dessa doença psíquica.
Modernamente diz-se que há pelo menos três espécies básicas de depressão: a
endógena, que se liga a herança genética, a causal, que resulta de fatores
traumatizantes de natureza física capazes de produzir perturbações no
funcionamento do sistema nervoso, e a relativa, que decorre de conteúdos e
problemas psicológicos não resolvidos ( ressentimentos diante da realidade não
aceita de mistura com auto piedade etc.).
A análise da depressão em termos etiológicos é complexa, e para os terapeutas
dessa enfermidade constitui tarefa difícil saber se os paciente necessita de uma
dose de beto-endorfina ou de um passeio em sedutora estância balnearia…
Um remédio preventivo, no entanto, em nosso pensar de leigo, pode e deve ser
receitado a todas as pessoas, inclusive àquelas que ainda não apresentam
tendências depressivas: trabalho caridoso.
Nunca vimos ninguém que se dedique, com real devotamento, a uma atividade de
benemerência em favor do próximo, cair em depressão. Falta-lhe tempo para isso e
sobra-lhe o contentamento de ser útil.
No caso dos espíritas, que também estão sujeitos a estados emocionais
depressivos porque, tanto quanto as demais criaturas, sofrem a opressão dos
falsos valores sociais, é recomendável o aproveitamento das oportunidades de
serviço nobre oferecidas pelos Centros doutrinários: a atuação desobsessiva, os
passes, o aconselhamento ético, consolador e orientativo, os cuidados
administrativos, os procedimentos de limpeza que raros se dispõem a executar, as
aulas para adultos e crianças, e tantas outras ações generosas de extrema valia
para os pobres e os sofredores.
Por menos agradável que se nos afigure o ambiente do Centro Espírita, em
virtude da invigilância dos seus diretores às vezes em conflito uns com os
outros, ou em razão de deploráveis desvios ideológicos, convém não o
abandonarmos a menos que fora dele tenhamos condição de fazer pelos necessitados
o bem possível de realizarmos junto aos irmãos de crença.
Espíritas apenas teóricos, amantes da doce placidez de aposentos domésticos
com ar refrigerado, acabam se expondo a riscos indesejáveis.
Todos temos inimigos nas faixas vibratórias do Além, propensos a influir
negativamente em nosso ânimo constumeiro, e o que eles mais almejam, para nos
solapar a alegria de viver, plantando a semente da depressão em nosso campo
mental, é nos afastar do trabalho caridoso e do ambiente doutrinário.
Cientes disso sejamos cautelosos contra a doença da moda, que ataca pobres e
ricos, sábios e ignorantes. Não nos iludamos, nesse delicado e movediço terreno,
com os recursos clássicos da medicina organicista, porque eles eliminam sintomas
sem erradicar o mal pela raiz. Ainda que exames de laboratório atestem a
ausência em nosso corpo de substâncias químicas humorizantes necessárias , e
possamos remediar isso com drogas farmacêuticas por longos períodos de tempo, só
o pensamento altruísta, e as emoções resultantes da sua prática, garantem-nos
satisfatória saúde psíquica.
A depressão é acima de tudo uma doença da alma, não da matéria. Os seus
efeitos reprimidos por comprimidos tendem sempre a reaparecer, e se não
colocamos a consciência em harmonia com as leis eternas da vida, que ensinam a
solidariedade em todos os domínios da natureza, jamais deles estaremos a salvo.
Como, depois de instalada em nosso ser, a depressão pode se agravar
rapidamente, e até nos conduzir a situações patológicas de conseqüências
imprevisíveis, empurrando-nos mesmo para psicoses sutis ou manifestas, é de bom
alvitre nos perguntamos se no Centro Espírita mais perto de onde moramos não
existe alguma ocupação esperando pelo esforço colaborativo de alguém…