Você Tem Horror de Falar em Público?
Falar em público é um
dos atributos mais importantes de todo o profissional. Calma. Não estamos a
colocá-lo com um microfone diante de 100 mil pessoas num estádio de futebol.
Estamos a falar de coisas menos espectaculares, como, por exemplo, discursar
para meia dúzia de pessoas numa reunião e, perante essa pequena plateia, vender
uma ideia ou entrar numa discussão.
Falar em público, para um profissional, é quase sempre assim. Tão simples e,
ao mesmo tempo, tão complicado. Ainda que para audiências pequenas, inspira
medo, às vezes até terror. Esse medo é um dos males mais comuns no mundo do
trabalho. Carreiras podem ser completamente destruídas se a dificuldade de falar
em público não for contornada.
Uma pesquisa realizada com 10 mil australianos mostra que um terço dos
entrevistados prefere a morte a falar em público. Você pode não ter chegado a
esse ponto, o que é bem razoável, mas tente lembrar-se de quantas vezes quis
desaparecer quando soube que teria que fazer uma apresentação. Ou ficou calado
numa reunião, com medo de dar a sua opinião. Ou, ainda, recusou convites que
seriam importantes para a sua carreira. Identificar o medo e enfrentá-lo são as
melhores formas de impedir que ele atrapalhe o seu desenvolvimento profissional.
Duas notícias. A má: vencer esse medo é fundamental para você ter
probabilidades de sucesso. A boa: é possível dominar esse medo e até fazê-lo
trabalhar a seu favor. «Não existe nada realmente especial em falar em público.
Não é um dom genético herdado nem está sujeito à inspiração divina», afirma o
americano Jack Valenti no seu livro A Fácil Arte de Falar em Público. «É um
ofício que se aprende.» Valenti é um orador muito requisitado. Ele foi redactor
dos discursos do presidente americano Lyndon Johnson e é, desde 1966, porta-voz
da indústria de distribuição e produção de filmes nos Estados Unidos.
Conheça os sete passos que irão ajudá-lo a vencer este obstáculo.
Saiba o que vai dizer.
A primeira coisa que você deve ter em mente quando for falar em público é:
saiba o que vai dizer. Leia, pesquise, interesse-se, domine o assunto. Isso vale
para qualquer tipo de apresentação. «Seja a pequena introdução de outro orador,
um brinde após um jantar, um discurso formal numa grande convenção ou a proposta
de um orçamento para um conselho de directores», diz Valenti.
É preciso ter intimidade com o assunto. Se o tema é, por exemplo, transporte
de cargas, mais do que decorar quantos camiões são utilizados pela empresa ou
outros números, vá até ao local onde o processo começa, converse com as pessoas
que trabalham com isso, etc. Assim, mesmo que se esqueça de um detalhe técnico
na hora da apresentação, poderá relatar algum facto interessante. Uma boa
história pode ser muito mais eficiente para passar a sua mensagem. Conheça o
máximo que puder. É importante que sobre informação.
Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia mostra que apenas 7% do
impacte provocado no público vem da parte verbal da apresentação. Os maiores
impactes vêm da voz (38%) e da linguagem corporal (55%). O que não quer dizer
que não deva dar a máxima atenção ao conteúdo, que é a razão de ser de qualquer
apresentação. Só não faça dele uma fonte inesgotável de ansiedade. Concentre-se
naquilo que você quer que fique na cabeça das pessoas. Outro dado para ajudar a
diminuir o seu medo: quando esquecemos uma palavra, o branco que parece durar
uma eternidade demora apenas alguns segundos para quem nos escuta.
Lembre-se também que dificilmente você será requisitado para falar de algo
que não entenda. Mas não seja arrogante nem subestime a inteligência de quem
está a ouvi-lo. Seria um grande erro.
Conheça o terreno em que vai pisar.
Nunca faça uma apresentação sem conhecer algumas informações básicas: para
quem vai falar, o que esse público quer ouvir, quanto tempo terá, se você será o
único orador, qual a ordem das apresentações, se haverá um período para
perguntas e respostas, se você vai falar durante uma refeição, o local da
apresentação, que instrumentos estarão à sua disposição (retroprojector,
computador com programa para fazer apresentações, vídeo, etc.).
Prepare-se para todo o tipo de perguntas. É inevitável que o público levante
questões menos exploradas na sua apresentação. Se você realmente dominar o
assunto, tem como prever muitas dúvidas e possíveis objecções. Seja seu próprio
advogado do diabo. Isso diminui o medo do inesperado. E se, mesmo com todas
essas precauções, tiver um momento de embaraço, não desespere. Avalie a
situação. Veja se é possível confessar que não sabe o que responder (em algumas
reuniões essa pode não ser uma boa saída), ou então use outros artifícios.
Devolva a pergunta para a plateia — alguém pode saber a resposta. Ou dê
referências sobre o assunto, mesmo que não saiba a resposta exacta.
Seja breve.
«É muito difícil fazer um mau discurso de um discurso pequeno», diz Valenti
no seu livro. Seja breve. Não canse o seu público. Ele vai ficar inquieto, vai
começar a conversar, a levantar-se, e você vai ficar inseguro. O ex-presidente
americano Lyndon Johnson costumava recomendar: «Saiam sempre no auge da festa.»
Com isso queria dizer que, onde quer que esteja, você deve parar de falar quando
os seus ouvintes esperam e desejam que você continue.
A duração também deve variar, dependendo do horário e local da apresentação.
Se for depois de um almoço ou de um jantar, seja económico. O mesmo vale para os
casos em que você seja um entre vários oradores. Se estiver a falar para pessoas
que se reuniram só para ouvi-lo, pode estender-se um pouco mais. Há ainda mais
um motivo para que não faça apresentações intermináveis: ninguém vai guardar
tudo o que você disser. Segundo uma especialista americana em psicologia para
executivos, Jean Hollands, numa hora de discurso, só 50% serão realmente
ouvidos. São 30 minutos. Desses, só 50% serão entendidos. São 15 minutos.
Desses, as pessoas só irão acreditar em 50%. São 7,5 minutos. E, desses, só 50%
serão lembrados. São 3,75 minutos. Portanto, a maior parte do que você disser
não será compreendido. A concisão é uma grande virtude numa apresentação.
Aprenda a relacionar-se com o público.
Tire da cabeça a ideia de que o público está lá para o criticar. Ele está ali
porque quer ou porque precisa de o ouvir.
Quase todos os executivos e professores de oratória dão uma sugestão: olhe para
o público. Escolha algumas pessoas e foque o seu olhar nelas. Tente criar uma
certa intimidade.
Adeqúe a linguagem ao seu público. Numa reunião com os seus superiores, deve
ter um certo tipo de preocupação. Se a apresentação for para leigos, o
tratamento deve ser completamente diferente. A profundidade do tema e até a
escolha adequada dos termos ajudam a criar intimidade. Nem sempre falar para um
grande público é pior do que fazê-lo para poucas pessoas. Quando você fala para
pouca gente, as reacções são mais visíveis. Da mesma forma, fazer uma
apresentação para o público interno da empresa nem sempre é mais fácil. É normal
que a audiência seja mais exigente.
Relaxe também em relação ao comportamento de quem está a ouvi-lo. O facto de
alguém bocejar pode significar apenas que ele (ou ela) passou a noite a
adormecer o filho.
E se o público for hostil? A melhor forma de lidar com ele é amortecer as
perguntas agressivas. Continue a ser simpático. Não responda em cima da
pergunta, agradeça, respire fundo, ganhe alguns segundos.
Seja você mesmo.
Crie o seu estilo. Não diga piadas se não é naturalmente engraçado. Uma das
piores sensações do mundo é o silêncio que paira no ar depois de se fazer uma
gracinha. Não ande pelo palco, ou onde quer que esteja, se isso não for
confortável para si. Você até pode e deve incorporar no seu estilo aquilo que
mais lhe agrada em oradores que vê como modelos. Desde que não desrespeite a sua
maneira de ser.
Há outros pontos importantes para conquistar a audiência. Sorrir é um deles.
Ser humilde e não ficar excessivamente preocupado com o que os outros estão a
pensar pode também garantir uma certa tranquilidade.
Treine, treine, treine e treine.
Agora, só a prática lhe vai dar mais segurança. «O mais eficaz antídoto para
o medo do palco é uma preparação total», diz Valenti. «A qualidade do seu
discurso será proporcional à quantidade de tempo que gastou a preparar-se.»
Converse com a sua plateia. Decorar o texto é uma boa solução? É controverso. O
estadista inglês Winston Churchill, um dos maiores oradores da história, não
tinha o costume de decorar. Ele escrevia sempre o que queria dizer e depois
transformava o texto escrito em observações. Independentemente do lugar ou da
ocasião, não tinha o menor pudor em mostrar as suas anotações. Numa das melhores
passagens do seu livro, Valenti descreve as lições que Churchill deu ao
ex-presidente americano Dwight Eisenhower. «Jamais confie na sua memória»,
disse. Segundo Churchill, as pessoas percebem se você está a repetir exactamente
um texto decorado.
Concentre-se um pouco mais no começo da apresentação. É a fase de maior
nervosismo e o momento fundamental para criar empatia com o público. Saiba muito
bem como vai começar e respire fundo.
Vá em frente, mesmo com um friozinho na barriga.
A inexperiência também gera insegurança. E a melhor forma de superá-la é
enfrentar as situações que aparecerem. Quem costumava fazer perguntas na sala de
aula e apresentar os trabalhos em grupo na época da escola provavelmente não
fica tão intimidado na hora de se expor. Não recuse convites, não fuja de
reuniões nem tente adiar alguma apresentação. Seja persistente. Há ainda mais um
motivo para encarar as dificuldades de frente: você só estará a somar pontos no
requisito da empregabilidade.
Mesmo com todo o treino do mundo, é bom saber que mãos suadas e um pouco de
ansiedade são comuns — e praticamente inevitáveis — nos minutos que antecedem
uma apresentação. Esses «sintomas» acompanham os executivos mais experientes, os
oradores mais hábeis e até actores de muito sucesso. É preciso aprender a
conviver com isso.
Como melhorar a sua | ||||||||||
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Condensado de Você, S. A. (Maio de 1999). © by Editora Abril
(São Paulo, Brasil). Adaptado por Cíntia Sakellarides.
executivedigest
– Abril 2000