As Quatro Nobres Verdades – Parte 9
Os fenômenos mentais têm como precursora a mente,
fundam-se na mente, são feitas da mente;
Se um homem fala ou age com mente corrupta,
Em conseqüência sofrimento o segue, como a roda
nos passos do boi (que puxa a carroça).
Os fenômenos mentais têm como precursora a mente,
fundam-se na mente, são feitas da mente;
Se um homem fala ou age com mente pura,
Em conseqüência felicidade o segue, como a sombra,
que não vai embora.
Os versos gêmeos, Dhammapada (trad. Nissim Cohen, ed. Palas Athena)
O homem é totalmente responsável por seu destino. Tudo o que lhe ocorre é
devido a lei de causa e efeito e ele tem o livre arbítrio relativo (condicionado
por seu carma passado, que o coloca em uma situação mais ou menos difícil no
presente) para agir e mudar seu futuro. Não há graça divina ou intervenção de um
criador no destino individual de cada um.
Grupos sociais – por serem formados de indivíduos com atuação em comum,
portanto com compromissos similares com a lei de causa e efeito – também tem o
seu “karma” coletivo. Da mesma maneira que com o individuo, um grupo social é
totalmente responsável por seu destino, pois o que lhe ocorre é conseqüência dos
atos de seus membros.
Importante notar que o ser – no ciclo de reencarnações – pode nascer como
qualquer criatura sensciente. Não há nada que impeça que um homem renasça em um
animal e vice-versa, se os seus atos o levarem a tal condição.
– Espiritismo
“O nosso estado psíquico é obra nossa. O grau de percepção, de
compreensão, que possuímos, é o fruto de nossos esforços prolongados. Fomos
nós que o fizemos ao percorrer o ciclo imenso de sucessivas existências. O
nosso invólucro fluídico, sutil ou grosseiro, radiante ou obscuro, representa
o nosso valor exato e a soma de nossas aquisições. Os nossos atos e
pensamentos pertinazes, a tensão de nossa vontade em determinado sentido,
todas as volições do nosso ser mental, repercutem no perispírito e, conforme
sua natureza, inferior ou elevada, generosa ou vil, assim dilatam, purificam
ou tornam grosseira a sua substância. Daí resulta que, pela constante
orientação de nossas ideias e aspirações, de nossos apetites e procedimentos
em um sentido ou noutro, pouco a pouco fabricamos um envoltório sutil,
recamado de belas e nobres imagens, acessível às mais delicadas sensações, ou
um sombrio domicílio, uma lôbrega prisão, em que, depois da morte, a alma
restringida em suas percepções, se encontra sepultada como num túmulo. Assim
cria o homem para si mesmo o bem ou o mal, a alegria ou o sofrimento. Dia a
dia, lentamente, edifica ele seu destino. Em si mesmo está gravada sua obra,
visível para todos no Além. É por esse admirável mecanismo das coisas, simples
e grandioso ao mesmo tempo, que se executa, nos seres e no mundo, a lei da
casualidade ou de conseqüência dos atos, que outra não é senão o cumprimento
da justiça ” Léon Denis, O Espírito e sua forma, No Invisível – FEB
O homem é totalmente responsável por seu destino. Além da lei de causa e
efeito, há outras leis morais, entre elas a do progresso. Assim nosso livre
arbítrio é relativo, limitado por nosso carma passado, pelo nosso “estágio” de
desenvolvimento e pelas nossas necessidades educativas.
Durante o período em que o ser necessita do ciclo de reencarnações, para sua
evolução, há uma linha crescente de sofisticação dos corpos físicos utilizados
para sua manifestação no mundo material, através dos renascimentos. O Espírito
sempre evoluiu dos seres mais simples para os mais complexos e, embora possa
estacionar temporariamente em um dos estágios, jamais regride. Assim, ao longo
dos milênios, o vegetal se tornará animal, o animal evoluirá até atingir o
estágio de ser humano, e o ser humano evoluirá até conseguir se tornar espírito
puro, livre da necessidade da reencarnação. A evolução do espírito, significa
também a evolução do seu perispírito, cada vez mais sutil e apto a servir de
intermediário na ligação com corpos físicos mais sofisticados. A reencarnação de
um espírito que já atingiu o estágio da humanidade em um animal seria impossível
devido a própria incompatibilidade do perispírito.
O ser humano compartilha a mesma natureza espiritual dos demais seres
sencientes, é diferente destes apenas por ser “mais velho” na jornada evolutiva.
Seu espírito aprendeu as primeiras lições de vida – desenvolvendo os
automatismos – nos vegetais, depois aprendeu as sensações e os instintos no
mundo animal e, agora, na condição humana, tem como desafio aprender a usar a
inteligência, a emoção e a intuição.
A caminhada evolutiva, apesar de conquista individual de cada ser, pode ser
feita em grupos afins (tal qual nas escolas há grupos de alunos que seguem
juntos por diversas classes), com o amparo mutuo. Famílias, nações e mundos são
grupos de indivíduos afins. Estes grupos sociais estão sujeitos a compromissos
comuns com a lei de causa e efeito. Compromissos que são conseqüência da atuação
coletiva de seus membros ou das necessidades de aprendizado compartilhadas por
eles.
– Análise
Tanto o Budismo como o Espiritismo postulam a responsabilidade do homem,
individualmente ou como membro de um grupo social, perante seu destino.
Deve-se notar que há uma interessante diferença na amplitude aceita para os
efeitos dos atos realizados pelo ser em sua existência. Para o Budismo, em
conseqüência de seus atos, o ser pode renascer entre os reinos inferiores da
natureza, mesmo depois de ter atingido a condição de ser humano. Para o
Espiritismo, por seus atos o espírito pode estacionar, mas nunca regredir na
escala evolutiva.
Para a filosofia espírita, a evolução tem componentes morais e intelectuais.
Nem sempre os dois são desenvolvidos pelo espírito no mesmo ritmo e isso pode
resultar em ações que parecem incompatíveis com a situação aparente em que ele
se encontra, mas que na realidade são manifestações de imperfeições ainda não
superadas.
(Publicado no Boletim GEAE Número 437 de 15 de maio de 2002)