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A ação educativa da casa espírita

Sandra Maria Borba Pereira

A Casa Espírita representa a base sobre a qual o Movimento Espírita se ergue como resultado do esforço humano no estudo, prática e divulgação da Doutrina dos Espíritos.

Representando o braço operacional do Movimento organizado, a Instituição Espírita devidamente inspirada nos postulados doutrinários da Codificação Kardequiana organizará suas atividades tendo em vista o objetivo primordial da formação do Homem de Bem. Nessa organização, ressalvadas as atividades-meios exigidas pelas leis humanas, destacam-se as atividades-fins que podem ser sintetizadas nas seguintes direções:

  • Estudo ou formação doutrinária
  • Prática ou vivência da Doutrina e seus postulados
  • Divulgação, englobando todas as ações específicas levadas a efeito pelas instituições no cumprimento às orientações contidas na Doutrina Espírita.

A primeira instituição espírita, a SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS fundada por Allan Kardec, define o seu caráter educativo quando estabelece no Art. 1º do seu Regulamento:

“A Sociedade tem por objeto o estudo de todos os fen ômenos relativos às manifestações espíritas e suas aplicações às ciências morais, físicas, históricas e psicológicas.”1

Preocupados com o cunho educativo que deve caracterizar a instituição espírita, Espíritos Amigos nos têm alertado sempre sobre o compromisso pedagógico que os núcleos possuem e precisam operacionalizar através da sistematização e planejamento de suas ações.

O instrutor espiritual EMMANUEL, pela mediunidade de F. C. Xavier esclarece:

“… o Centro espírita é um templo de trabalho educativo..”2

“Escola benemérita, o templo espírita é um lar de luz aberto à instrução geral para o entendimento das leis que regem os fenômenos da evolução e do destino”.3

“Um Centro Espírita é uma escola onde podemos aprender e ensinar, plantar o bem e recolher-lhe as graças, aprimorar-nos e aperfeiçoar os outros, na senda eterna.”4

O antigo dirigente do Movimento Espírita Pernambucano, Djalma Montenegro de Farias, pela mediunidade de Divaldo P. Franco5 indica em duas ricas mensagens específicas sobre o assunto, o caráter da Casa Espírita:

  • Escola de almas na Terra
  • Oficina de socorro a aflições
  • Oásis no deserto das idéias materialistas
  • Hospital – atende a todos os doentes
  • Templo – atende ao pranto
  • Escola – ensina as diretrizes da vida feliz
  • Núcleo de assistência
  • Escola de Espiritismo
  • Escola de Aprendizagem e Renovação

Refletindo de modo mais profundo sobre as afirmativas acima, identificamos na Casa Espírita a função eminentemente pedagógica que atende encarnados e desencarnados através de suas ações educativas, a saber:

Evangelização de crianças e jovens – sistematizada graças ao esforço da Federação Espírita Brasileira, objetivando(…):

  • “A integração do evangelizando consigo próprio, com o próximo e com Deus
  • O estudo das leis naturais que regem o Universo e da natureza, origem e destino dos Espíritos bem como de suas relações com o mundo corporal.
  • A oportunidade do evangelizando perceber-se como homem integral, crítico, participativo, herdeiro de si mesmo, cidadão do universo, agente de transformação de seu meio, rumo a toda perfeição de que é suscetível.”
  • A evangelização das novas gerações é a ação educativa por excelência por representar o investimento máximo para a criação de uma nova ordem social baseada na fraternidade e na solidariedade humanas.

Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – que pode ser visto tanto como evangelização de adultos como educação “continuada” para aqueles que já vieram da evangelização infanto-juvenil. A atividade do ESDE é uma das maiores responsáveis pela formação de trabalhadores de sólida base doutrinária e sua criação deve ser estimulada em todas as Instituições Espíritas.

Seus objetivos se voltam para a apropriação, por parte do integrante, do conhecimento doutrinário no seu tríplice aspecto como referência ou base para sua reforma íntima. Aí está seu caráter educativo e regenerador.

Estudo e Educação da Mediunidade – Essa atividade pode ser considerada mais específica tendo em vista suas características peculiares, voltadas para um aprofundamento em torno dos pressupostos da faculdade mediúnica bem como seu exercício, à luz dos esclarecimentos evangélico-doutrinários. Possui caráter educativo na medida em que busca a formação do médium em bases que favoreçam a auto- disciplina e o processo de auto-conhecimento e de transformação moral no exercício da mediunidade com Jesus.

Palestras Públicas – São práticas baseadas na oralidade mas que objetivam esclarecer e consolar, sensibilizar e estimular os ouvintes ao estudo, ao engajamento em programas de assistência fraternal ao próximo, à reflexão sobre suas vidas, a vida em sociedade e as leis divinas que regem a existência humana na sua trajetória em busca da perfectibilidade. É tarefa educativa pelos elevados objetivos de suscitar no ouvinte o desejo de mudança consoante os paradigmas evangélico- doutrinários, corporificados no ideal do HOMEM DE BEM.

Podemos indicar, ainda, inúmeras outras atividades desenvolvidas pelas Casas Espíritas que se revestem de caráter educativo pelos efeitos que buscam provocar nos seus participantes; estudo, reflexão, auto-conhecimento, vivência. Seriam elas, para citar algumas:

  • Encontros, Semanas, Jornadas, Fóruns, Simpósios ou outra forma similar preocupada com o estudo e a divulgação da Doutrina Espírita;
  • Serviço Assistencial em suas múltiplas ações(visitas assistenciais, programas de apoio ao idoso, lares de crianças, hospitais psiquiátricos, dentre outras, na vasta e rica experiência do Movimento Espírita Brasileiro).(…)

Além das atividades acima (cuja lista pode ser ampliada em muito pelas peculiaridades de cada região) nos deparamos com todo um “clima pedagógico” no Movimento Espírita favorecedor do estudo e do estímulo à vivência evangélica:

  • Livros, feira de livros, clube de livros
  • Vídeos e videotecas
  • CDs, discos em vinil
  • Revistas, jornais
  • Programas de rádio e TV
  • Sites especializados para os internautas
  • Cursos, treinamentos para formação de recursos humanos, oficinas, ciclos de estudo, etc.

Como podemos observar, é tarefa da Casa e do Movimento Espírita “mergulhar” seus integrantes numa “atmosfera” de auto-educação permanente através da conquista de um novo olhar sobre a Vida e seu sentido que deve auxiliar a cada um de nós na construção de um Novo Homem cujo modelo nos foi oferecido pelo Mestre dos Mestres quando afirmou: “Sede perfeitos…” (Mt. 5:48)

Conscientes da grave responsabilidade que assumimos ao fundarmos ou participarmos como dirigentes ou trabalhadores de núcleos espíritas, meditemos quanto à própria disposição íntima que apresentamos face o programa de luz e libertação que a Doutrina Espírita nos descerra. Encerrando essa rápida incursão na dimensão educativa do Centro Espírita, recordemos esse trecho de rica mensagem do Espírito Emmanuel ditada por ocasião da posse da diretoria do Centro Espírita Luz, Amor e Caridade em Pedro Leopoldo, numa noite de agosto de 1939, ou seja, há sessenta anos, pelo então jovem médium Chico Xavier.

“Os núcleos doutrinários devem florescer por toda parte, de modo a efetivarmos os mais belos movimentos de assistência ao espírito coletivo, contudo, temos de imprimir ao nosso labor o mais alto sentido educativo, na realização da verdadeira fraternidade e da solidariedade real, à luz sacrossanta do Evangelho”.6

É, pois, tarefa inadiável disseminar entre nós, espíritas, o sentido educativo e regenerador que deve caracterizar as nossas intenções e ações na busca do homem novo proposto pelo Evangelho do Cristo.

Sem essa diretriz a nossa Casa Espírita pode resvalar para o desvio e a distorção por “… converter-se num instituto de nossa preocupação academicista…”7 descaracterizando-se da condição de “…educandário da alma, em função do nosso próprio burilamento para a imortalidade vitoriosa”,8 como nos alerta ainda o querido Emmanuel.

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Médius,. 61ª Ed. Rio de Janeiro: FEB. Cap. 30, p 445.
  2. XAVIER, F.C. Educandário de Luz. São Paulo: Editora Ieal, p 49.