SUMÁRIO:1. Introdução. 2. Endereço Bíblico. 3. O Significado dos
Termos. 4. Contexto Histórico dos Evangelhos: 4.1. O Evangelho de Jesus; 4.2. O
Judaísmo e o Império Romano. 5. O Problema do Conhecimento: 5.1. Conceito de
Conhecimento; 5.2. Tipos de Conhecimento; 5.3. A Linguagem Simbólica. 6. A
Pedagogia de Jesus; 6.1. Educação; 6.2. As Parábolas; 6.3. O Mistério do Reino
dos Céus. 7. A Candeia, o Alqueire e o Espiritismo. 8. Conclusão. 9.
Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo desta exposição é mostrar que a transmissão do conhecimento deve
ser proporcional à compreensão do ouvinte. Nesse sentido esta peça oratória
analisará, sob a ótica espírita, o significado e o endereço bíblico das palavras
candeia e alqueire, o contexto histórico dos Evangelhos, o problema do
conhecimento e a pedagogia de Jesus.
2. ENDEREÇO BÍBLICO
- “Não se acende uma candeia para colocá-la sob o alqueire; mas se a coloca
sobre um candeeiro, a fim de que ela clareie todos aqueles que estão na casa”.
(São Mateus, cap. V., v. 15) - “Não há ninguém que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um
vaso ou a coloque sob uma cama; mas a põe sobre o candeeiro a fim de que
aqueles que entrem veja a luz; porque não há nada de secreto que não deva ser
descoberto, nem nada de oculto que não deva ser conhecido e manifestar-se
publicamente”. (São Lucas, cap. VIII, v. 16 e 17) - “Seus discípulos, se aproximando, disseram-lhe: por que lhes falais por
parábolas? E, lhes respondendo, disse: porque, para vós outros, vos foi dado
conhecer os mistérios do reino dos céus; mas, para eles, não foi dado. Eu lhes
falo por parábolas, porque vendo não vêem, e escutando não ouvem nem
compreendem. E a profecia de Isaías se cumprirá neles quando disse: vós
escutareis com vossos ouvidos e não ouvireis; olhareis com vossos olhos e não
vereis. Porque o coração deste povo está entorpecido e seus ouvidos
tornaram-se surdos, e eles fecharam seus olhos de medo que seus olhos não
vejam, que seus ouvidos não ouçam, que seu coração não compreenda, e que,
estando convertidos, eu não os curasse”. (São Mateus, cap. XIII, v. de 10 a
15) (Kardec, 1984, p.283)
3. O SIGNIFICADO DOS TERMOS
Candeia – do lat. candela, “vela de sebo ou de cera” –
significa pequeno aparelho de iluminação, que se suspende por um prego, com
recipiente de folha-de-flandres, barro ou outro material, abastecido com óleo,
no qual se embebe uma torcida, e de emprego em casas pobres.
Alqueire – do ár. al-kail -, antiga medida de capacidade para
secos e líquidos, variável de terra para terra. Na Europa correspondia, pouco
mais ou menos a 13 litros; na China, entre 10 e 31 litros. No Brasil, medida
agrária que varia de acordo com a região: 48.400m2 (Rj, Go e Mg) e 24.400m2 (SP)
O uso simbólico do alqueire deve-se essencialmente a seu emprego pelas
sociedades secretas: a idéia básica é tirar o que está oculto debaixo,
mais propriamente, o que está no interior. Para isso, colocavam arroz
vermelho, alimento da imortalidade, dentro do alqueire. E, se o alqueire contém
esse alimento, é por causa da potência da luz, ou do conhecimento. Refere-se,
também, à mitologia, em que o deus irlandês, Diancecht mata o seu filho Miach
(alqueire). A filha de Diancecht, chamada Airmed, classificou as trezentas e
sessenta e cinco plantas que cresceram sobre o túmulo de seu irmão, Miach.
Diancecht, entretanto, colocou-os novamente em desordem, a fim de que ninguém
pudesse utilizá-las. Miach (alqueire) simboliza a medida de equilíbrio
cósmico, e Diancecht mata o próprio filho porque o conhecimento das plantas
não deve ser divulgado. Ele põe esse conhecimento “debaixo do alqueire”.
(Chevalier, 1992)
4. CONTEXTO HISTÓRICO DOS EVANGELHOS
4.1. O EVANGELHO DE JESUS
A palavra evangelho, do grego euangélion, quer dizer
“boa-notícia”. O sentido mais antigo está relacionado com a gorjeta que se dava
aos que traziam “boas-notícias”. Nas cidades gregas, falava-se do Evangelho
quando ecoava a notícia de uma vitória militar ou do nascimento do filho de um
rei, de um imperador. Unia-se aos cânticos e às cerimônias festivas, dando uma
conotação de alegria.
No Velho Testamento, Deus comunica os seus anúncios de alegria aos
patriarcas, a Moisés, aos chefes e aos profetas de seu povo.
No Novo Testamento, Deus dá o maior dos “anúncios”, o anúncio de Jesus. O
Evangelho torna-se então “o alegre anúncio” da vinda do Cristo salvador e a
proclamação da sua missão. (Battaglia, 1984, p.19 a 21)
4.2. O JUDAÍSMO E O IMPÉRIO ROMANO
O judaísmo compreende as leis, costumes, práticas religiosas peculiares aos
judeus a partir do cativeiro da Babilônia.
O povo judeu, ao qual Jesus e os apóstolos pertenciam fazia parte do grande
império romano que estendia as asas das suas águias do Atlântico ao Índico. O
jugo romano, porém, pesava de modo especial sobre a Palestina ao contrário dos
outros povos.
“O ambiente histórico, em que o Evangelho nasceu, é o do judaísmo, formado e
alimentado pelos livros sacros do Antigo Testamento, condicionado pelos
acontecimentos históricos, pelas instituições nas quais se encontrou inserido e
pelas correntes religiosas que o especificaram.
Embora o Cristianismo seja uma religião revelada, diferente da judaica, apareceu
historicamente como continuação e aperfeiçoamento da revelação dada por Deus ao
povo de Israel. Jesus era um judeu, que nasceu e viveu na Palestina. Os
apóstolos eram todos da sua gente e da sua religião. Os primeiros ouvintes do
Evangelho e os primeiros convertidos eram adoradores do Deus de Israel e
seguidores da legislação mosaica”. (Battaglia, 1984, p. 118)
5. O PROBLEMA DO CONHECIMENTO
5.1. CONCEITO DE CONHECIMENTO
“No conhecimento encontram-se frente a frente a consciência e o objeto, o
sujeito e o objeto. O conhecimento apresenta-se como uma relação
entre esses dois elementos, que nela permanecem eternamente separados um do
outro. O dualismo sujeito e objeto pertence à essência do conhecimento”.
(Hessen, 1968, p. 26)
Desta forma:
- onhecer é reproduzir em nosso pensamento a realidade.
- amos o nome de conhecimento à posse deste pensamento que concorda com a
realidade. - concordância do pensamento com a realidade, chamamos verdade.
5.2. TIPOS DE CONHECIMENTO
- Conhecimento “folk”, que é o processo pelo qual adquirimos
conhecimento ao longo da vida quotidiana e através dos relacionamentos comuns
na família, entre amigos, no grupo de iguais etc. Seu defeito maior é a
dificuldade de ser acumulado, pois existe apenas nas cabeças dos viventes.
Pode desfazer-se com uma simples epidemia. - Conhecimento literário, processo de conhecimento envolvendo o uso
da escrita ou outras formas de registro de informações. Começou a partir mais
ou menos do ano 3.000 a. C. e dura até os dias atuais. Isso veio tornar o
problema da transmissão do estoque de conhecimentos de uma geração para a
outra muito mais fácil e permitir maior especialização, visto que o estoque de
conhecimentos não ficava confinado ao que uma cabeça individual pode guardar. - O conhecimento científico pode ser apontado como o terceiro
processo de produzir conhecimento, e tem sido o característico dos últimos 300
anos. damo-lhe o nome de ciência. O progresso do conhecimento produzido por
esse movimento praticamente dobrou a duração da vida humana, lançou o homem no
espaço, explorou toda a superfície da Terra, liberou enorme fontes de energia,
criou materiais inteiramente novos e provocou enorme acréscimo de
produtividade e de riqueza. (Boulding, 1974, p. 12 a 15) - Conhecimento filosófico, como processo de autoconhecimento do
homem. A maiêutica socrática encontra-se atualíssima na era moderna. - Conhecimento religioso, como processo de relacionamento entre
criatura e criador, consubstanciando na Revelação, na intuição e outras
formas.
5.3. A LINGUAGEM SIMBÓLICA
No símbolo, a pessoa se expressa. No símbolo a pessoa é conhecida. No símbolo
encontra-se com outra no plano da comunicação e da confidência que une dois
seres pessoais. Foi por isso, que, com razão, já se definiu o homem como um ser
simbólico.
Toda a cultura é uma produção de símbolos dos quais os homens se expressam,
se comunicam e se trocam a riqueza interior. (Idígoras, 1983)
A palavra símbolo presta-se a muitas significações. Confundimo-la com a
metáfora, a alegoria, a parábola, o apólogo etc. Há, até um matéria filosófica,
denominada simbólica, que estuda a gênese, o desenvolvimento, a vida, a
morte e a ressurreição do símbolo.
Em se tratando dos ensinamentos de Jesus, precisamos extrair a essência
daquilo que ele deixou velado, ou seja, a simbologia de sua linguagem.
6. A PEDAGOGIA DE JESUS
6.1. EDUCAÇÃO
A educação é um processo lento. O amadurecimento do ser requer consideração,
reflexão e ponderação constantes. Por sua própria natureza, a educação é um
diálogo. Através desse diálogo, as gerações mais experimentadas transmitem às
mais jovens a riqueza de seus conhecimentos e vivências. Cristo é o grande
educador da humanidade. Para educar o povo, recorreu à pedagogia da época:
parábolas, hipérboles gráficas e alegorias.
6.2. AS PARÁBOLAS
Parábola é um relato que possui sentido próprio, destinado , porém, a
sugerir, além desse sentido imediato, uma lição moral.
No fundo do parabole grego há a idéia de comparação, enigma,
curiosidade.
As parábolas evangélicas contadas por Jesus são imagens tomadas das
realidades terrestres para serem sinais das realidades reveladas por Deus. Elas
precisam de uma explicação mais profunda.
O conhecimento exotérico e o conhecimento esotérico estão implícitos nas
parábolas. O conhecimento exotérico refere-se à exposição que Jesus fazia
publicamente, enquanto o conhecimento esotérico, refere-se às explicações
que Jesus dava aos apóstolos, em particular.
6.3. O MISTÉRIO DO REINO DOS CÉUS
Mistério – do grego mysterion evoca a idéia de coisa secreta. É
um dogma religioso cuja compreensão está acima da razão humana. Pode ser,
também, o ensinamento dado à parte aos iniciados em uma doutrina ou religião.
Temos, assim, o mistério eleusíaco, o mistério órfico, o mistério da encarnação,
o mistério da Santíssima Trindade etc.
Reino dos Céus – é uma realidade misteriosa que só Jesus pode dar a
conhecer. Jesus revela o reino dos céus às crianças, aos humildes e aos pobres
de espírito. Nega-o, porém, aos prudentes. (Leon-Dufour, 1972)
7. A CANDEIA, O ALQUEIRE E O ESPIRITISMO
Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, com o auxílio dos Espíritos
superiores, fornece-nos subsídios valiosos para a interpretação desta e de
outras passagens evangélicas. Analisemos, pois:
- reino dos céus – não é um lugar circunscrito, nem governo
ou Estado; é o governo do cada um pela obediência às leis naturais, inscritas
por Deus em nossa consciência. - o falar por parábolas – Jesus falava, exotericamente, de modo
obscuro, somente com relação aos aspectos mais abstratos de sua doutrina;
quanto à caridade, falava claramente. Com os apóstolos, mais aptos a
compreender o alcance de sua doutrina, falava mais abertamente. E, mesmo com
estes, não disse tudo. - o mistério – é um instrumento valioso para as religiões, pois seus
propagadores não podem fornecer uma luz mais intensa do que aquela que os seus
adeptos possam absorver. Observe que a Ciência, descobrindo novas leis da
natureza, já elucidou mistérios. Por isso, a necessidade da constante
atualização dos conhecimentos.
“O Espiritismo vem hoje lançar luz sobre uma multidão de pontos obscuros;
entretanto, não a lança inconsideravelmente. Os Espíritos procedem nas suas
instruções com uma admirável prudência; não foi senão sucessivamente e
gradualmente que abordaram as diversas partes conhecidas da doutrina e é assim
que as outras partes serão reveladas à medida que o momento tenha chegado para
fazê-la sair da sombra”. (Kardec, 1984, p. 285)
8. CONCLUSÃO
Todos podemos ser os arautos do Senhor. O Espiritismo nada inventou, apenas
facilitou a nossa compreensão das verdades eternas. Cabe-nos, portanto, não só
estudar os princípios fundamentais da doutrina, como também, penetrar no âmago
do psiquismo humano. Tal empreendimento auxiliar-nos-á eficazmente no sentido de
transmitirmos o conhecimento espiritual de acordo com a capacidade de
entendimento daqueles que nos ouvem.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
- BATTAGLIA, 0. Introdução aos Evangelhos – Um Estudo Histórico-crítico.
Rio de Janeiro, Vozes, 1984. - BOULDING, K. E. O Impacto das Ciências Sociais. Rio de Janeiro,
Zahar, 1974. - CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos,
costumes, gestos, formas, figuras, cores, números) . 6. ed., Rio de
Janeiro, José Olympio, 1992. - HESSEN, J. Teoria do Conhecimento. 4. ed., Coimbra, Armênio Amado,
1968. - IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São
Paulo, Edições Paulinas, 1983. - KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo,
IDE, 1984. - LEON-DUFOUR, X. e OUTROS. Vocabulário de Teologia Bíblica. Rio de
Janeiro, Vozes, 1972.