Tamanho
do Texto

A Carne de Porco

A Carne de Porco

Há algum tempo, não me recordo exatamente quando, tive que ir à casa de um
pastor protestante à procura de um pedreiro que à época trabalhava para mim.
Batendo à porta, fui recebido e convidado a entrar. Conduziram-me a uma área aos
fundos da casa, onde o meu amigo pedreiro estava trabalhando, não em seu ofício,
mas acabara de matar um porco e naquele momento estava abrindo-o para separação
das suas partes.

Bom, achei aquilo muito estranho, já que, normalmente, os pastores exigem
categoricamente que nós espíritas não devemos evocar os mortos. Argumentam ser
uma proibição bíblica. Mas, que eu saiba existe também a proibição de não comer
carne de porco, que segundo penso, não foi revogada, isso era o que iria fazer
depois, não é mesmo? Muito embora, acho que ela, como algumas outras passagens
que proíbem comer várias coisas, não são de origem divina, mas produto da
cultura do povo hebreu.

Mais recentemente estava na zona rural, num Sítio próximo à cidade, cheguei
no exato momento em que a pessoa que zelava por ele, que é um protestante
convicto, acabara de matar um porco. Não perdi tempo em lhe fazer uma gozação
dizendo: Ora, o Livro Sagrado não proíbe comer carne de porco? A resposta, em
coro, zelador e sua mulher: – O que entra pela boca não torna o homem impuro.
Não lhes respondi, pois estávamos apenas fazendo uma brincadeira, não queria
partir para uma discussão, muitas vezes inútil, já que, como regra geral, não
queremos abandonar as nossas convicções.

Mas, não deixarei de fazer algumas considerações sobre isso.

Vamos encontrar no capítulo 11 de Levítico (Antigo Testamento), o seguinte:

v. 1 Falou o Senhor a Moisés e a Arão, dizendo-lhes: (…) v. 7 Também o
porco, porque tem unhas fendidas, e o casco dividido, mas não rumina; este vos
será imundo; v. 8 da sua carne não comereis, nem tocareis no seu cadáver.

Assim, ali entre várias outras proibições sobre a comida, se encontra a de
não comer carne de porco como ordem direta de Deus. É importante ressaltar que
os espíritas não pensam assim, já que as vêem, como já disse, apenas como
produto cultural de uma época, portanto não provenientes da Divindade.

Agora vamos ver a passagem citada como resposta à questão de não se comer a
carne de porco. A narrativa é de Mateus (cap. 15) que fala sobre os fariseus e
escribas questionando a Jesus sobre o porquê dos discípulos não seguirem a
tradição dos antigos, já que não lavavam as mãos, quando comiam. É a isso que
Jesus diz: “Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que
sai da boca, isto, sim, contamina o homem (v.7)”.

Como os discípulos ficaram em dúvida quanto ao significado do que dissera, e
ante o pedido de Pedro, explica: “Não compreendeis que tudo o que entra pela
boca desce para o ventre, e depois é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da
boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem
os maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos, blasfêmias. São estas cousas que contaminam o homem; mas o comer
sem lavar as mãos não o contamina
”.

Veja que, pelo contexto, a frase que usaram, nada tem a ver com carne de
porco.

Por outro lado, se aceitarmos que, por essa passagem, Jesus esteja revogando
a questão das comidas proibidas, estabelecidas anteriormente por Deus,
estaríamos admitindo que Deus tenha mudado de atitude, pois para muitos, Jesus
também é Deus. Assim, Ele estaria revogando o que fez anteriormente,
significando que houve mudança de atitude. Ora, se Deus mudar algo que tenha
feito, Ele já não mais seria Deus, pois estaria contrariando uma de Suas
atribuições que é a imutabilidade. Em outras palavras, pode-se dizer que se Deus
mudou algo que tenha feito é porque não o fez perfeito, o que é um absurdo, já
que, por Ele ser perfeito, não muda nunca.

Mas a grande contradição que vejo é que sempre buscam passagens bíblicas para
justificarem o que pensam, não aceitando nada que pessoas de outras correntes
religiosas possam argumentar a favor de suas próprias idéias.

Veja, por exemplo, a questão da comunicação com os mortos. Posso dizer, sem
nenhuma dúvida, que Jesus se comunicou com os mortos, e já que Ele fez todos nós
podemos fazer. Quando Jesus se comunicou com os mortos? Respondo, quando subiu
ao Monte Tabor, e na presença de Pedro, Tiago e João, se transfigurou e aparecem
Moisés e Elias a conversar com Ele. Bem sabe quem estuda a Bíblia que, e os
contraditores do Espiritismo se esquecem, àquela época Moisés e Elias já haviam
morrido. Por isso, afirmo: que os que ali se apresentaram eram os espíritos
Moisés e Elias.

Mas como nós os Espíritas não admitimos que Deus possa mudar de idéia,
dizemos que a proibição sobre a comunicação com os mortos é uma lei Mosaica.
Era, mesmo necessária à época, pois Moisés precisava difundir o pensamento de um
Deus único, e como os hebreus tinham como deuses os espíritos dos mortos, e até
mesmo os adoravam, houve, pois a necessidade de se combater tal prática, uma vez
que, se fosse mantida iria dificultar a divulgação de que existia apenas um
Deus.

Concluindo, vejo que muitas das interpretações bíblicas, principalmente dos
que contradizem o Espiritismo, são apenas de conveniência, feitas para
justificar atitudes ou dogmas de suas correntes religiosas bibliólatras.

Agosto/2002.

Unidades Feal

FUNDAÇÃO ESPÍRITA ANDRÉ LUIZ |||

Feal

Você gostou deste conteúdo?

Há décadas a FEAL - Fundação Espírita André Luiz assumiu o compromisso de divulgar conteúdos edificantes voltados ao bem estar dos seres humanos gratuitamente e, com a sua ajuda, sempre será.

Podemos contar com você?
logo_feal radio boa nova logo_mundo_maior_editora tv logo_mundo_maior_filmes logo_amigos logo mundo maior logo Mercalivros logo_maior