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A Morte do Demônio e a Destruição do Inferno Eterno

Rogério Coelho
“(…) Deus não criou seres tendo por destino permanecerem votados perpetuamente ao mal”.
– S. Luís

Segundo ensina S. Luís , não existem Espíritos que nunca se arrependem da prática do mal: Há os de arrependimento tardio.

Portanto, pretender-se que nunca melhorarão fora negar a Lei do Progresso e dizer que a criança não pode tornar-se homem.

Deus criou os Espíritos simples e ignorantes, tendo todos, no entanto, que progredir em tempo mais ou menos longo, conforme decorrer da vontade de cada um no uso amplo, irrestrito e intocável do próprio livre-arbítrio.

INFERNO E PENAS ETERNAS NUNCA EXISTIRAM

“Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus?”

– Santo Agostinho

Aprendemos com Stº. Agostinho:

“(…) Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem-fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante idéia? Que os antigos tenham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos homens. Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas. Poderia Ele carecer das qualidades, cuja posse prescreve, como um dever, às Suas criaturas? Não haverá contradição em se Lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis que, acima de tudo, Ele é justo e que o homem não Lhe compreende a justiça. Mas, a justiça não exclui a bondade e Ele não seria bom, se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das Suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para seus filhos, se lhes não desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a duração das penas dependa dos esforços do culpado não está toda a sublimidade da Justiça unida à bondade? Aí é que se encontra a verdade desta sentença: “A cada um será dado segundo as suas obras”. (Mt., 16:27.)

Aduz Lammenais:

“(…) Aplicai-vos, por todos os meios ao vosso alcance, em combater, em aniquilar a idéia da eternidade das penas, idéia blasfematória da justiça e da bondade de Deus, gérmen fecundo da incredulidade, do materialismo e da indiferença que invadiram as massas humanas, desde que as inteligências começaram a desenvolver-se. O Espírito, prestes a esclarecer-se, ou mesmo apenas desbastado, logo lhe apreendeu a monstruosa injustiça. Sua razão a repele e, então, raro é que não englobe no mesmo repúdio a pena que o revolta e o Deus a quem a atribui. Daí os males sem conto que hão desabado sobre vós e aos quais vimos trazer remédio.

Muito embora, segundo os Evangelistas e tomadas ao pé da letra as palavras emblemáticas do Cristo, Ele tenha ameaçado os culpados com um fogo que se não extingue, com um fogo eterno, absolutamente nada se encontra nas suas palavras capaz de provar que os haja condenado eternamente”.

Completa Platão:

“(…) Eternidade dos castigos!… Ignorais então que o que hoje entendeis por “eternidade” não é o que os antigos entendiam e designavam por esse termo? Consulte o teólogo as fontes e lá descobrirá, como todos vós, que o texto hebreu não atribuía esta significação ao vocábulo que os gregos, os latinos e os modernos traduziram por penas sem-fim, irremissíveis.

Eternidade dos castigos corresponde à eternidade do mal. Sim, enquanto existir o mal entre os homens, os castigos subsistirão. Importa que os textos sagrados se interpretem no sentido relativo. A eternidade das penas é, pois, relativa e não absoluta. Chegue o dia em que todos os homens, pelo arrependimento, se revistam da túnica da inocência e desde esse dia deixará de haver gemidos e ranger de dentes.

Humanidade! Humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos.

Chora, espera, expia e refugia-te na idéia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo.

Rogério Coelho

(Publicado no Boletim GEAE Número 391 de 16 de maio de 2000)