A Viagem Perigosa: LSD
Fernando Falabella Tavares de Lima
Neste texto pretendo abordar, de maneira lúcida e objetiva, uma questão que aflige demais aos pais e educadores de crianças e adolescentes, do nosso País. A situação que abordarei, diz respeito à forma de educação dos nossos filhos e à sua direta relação ao uso de drogas psicotrópicas.
Recentemente, tive acesso a um boletim informativo que apontava para os perigos relacionados à presença de “drogas e venenos em tatuagens infantis”, ou seja, naqueles pequenos selos que são molhados em água e colocados na pele, imitando uma tatuagem. São imagens coloridas, que apresentam vários desenhos, como super-heróis, personagens de desenhos animados, etc… O boletim em questão, apontava para os riscos da presença de Ácido Lisérgico, o popularmente conhecido LSD, nesses selos em questão.
Perguntei-me: será possível que a grande rede de tráfico de drogas internacional utilizar-se-ia deste recurso para causar a dependência em nossas crianças e adolescentes ? Não por duvidar dos métodos cruéis que os traficantes se utilizam, mas, sinceramente, não acredito que seria interessante para a indústria do tráfico utilizar-se desse recurso, simplesmente porque a droga em questão, o LSD, é muito cara! Alguém daria droga sem receber nada por isso, simplesmente com a perspectiva de possuir, na criança, um possível futuro usuário? E se a criança não voltar a comprar essas substâncias “disfarçadas”? Quem arcaria com as primeiras doses necessárias até que se estabeleça um vínculo entre vendedor e compradores de drogas?
Proponho que nos aprofundemos um pouco mais nessa discussão em relação ao efeitos do Ácido Lisérgico, para que possamos tirar as nossas próprias conclusões…
A Dietilamida do Ácido Lisérgico, ou LSD, é um alucinógeno, ou seja, uma droga psicodélica que pode causar fortes alucinações em seu usuário. Os efeitos do uso dessa droga, da chamada “viagem” causada pelo consumo de uma pequena quantidade, podem ser, por exemplo: fantásticas visões de objetos coloridos e sons, vindas de qualquer lugar; para alguns, essa sensação pode ser muito prazerosa, porém, para outros, isso pode ser vivido com muita angústia e medo. Esses efeitos de ilusão e alucinação duram em média de seis a oito horas.
Poucos sabem que o LSD pode levar as pessoas a um estado de permanente confusão mental, isto é: não podemos saber, na sociedade como um todo, quais as pessoas que possuem uma pré-disposição para a “loucura” (Estados esquizofrênicos e outras psicoses). Contudo, ao usar o Ácido, as pessoas têm suas percepções alteradas (delírios e alucinações), características desses estados perturbados, que consideramos vulgarmente como “loucuras”. Porém, caso a pessoa tenha uma pré-disposição para esses quadros, os alucinógenos, dentre eles o LSD, podem apressar o aparecimento dessas alucinações e delírios, fazendo com que, mesmo ao cessar o efeito da droga, a pessoa continue apresentando essas alterações perceptivas.
Quando falamos a respeito do uso de drogas, devemos ser o mais preciso possível, para que tenhamos, assim, confiança do nosso público. Logo, não devemos deixar de abordar o prazer que o uso de psicotrópicos pode propiciar às pessoas. Evidentemente estamos falando de uma “faca de dois gumes”: por um lado as drogas podem causar prazer, por outro, há um custo para isso!!! O LSD não é uma droga que cause dependência física, ou seja, organicamente a pessoa não ficará com necessidade de utilizar a droga após alguns contatos, como pode ocorrer com os derivados do Ópio, a Morfina e a Heroína, por exemplo, ou mesmo com o, legalizado, Álcool.
Embora não cause dependência, o LSD é uma substância extremamente forte, como foi dito, causando alterações de percepção. Logo, podemos supor os riscos envolvidos em uma situação onde a pessoa está sob o efeito do Ácido e decide atravessar uma avenida, ou dirigir um automóvel!!! Além disso, há mais um detalhe, pouco conhecido a respeito do uso freqüente do Ácido Lisérgico: é um efeito residual chamado de “Flash-back”. Após alguns meses do último contato com a droga, em geral entre seis e oito meses, a pessoa pode, repentinamente, voltar a ter os efeitos, como se tivesse utilizado o LSD. Assim, o sujeito que mal se lembrava que havia usado a droga há vários meses, pode subitamente começar a ter alucinações, ainda relacionadas ao antigo uso. Nem precisamos alertar para os riscos que estão envolvidos, caso a pessoa esteja em sua rotina cotidiana e comece a alucinar em pleno trânsito ou, operando uma máquina perigosa,… Em geral, ninguém relaciona este efeito ao uso antigo da droga, assim, muitas pessoas vão parar em hospitais psiquiátricos, internados como delirantes, confusos, enfim, como “desequilibrados”, em função do “Flash-back”.
Vale ainda lembrar que o uso e o porte de LSD, no Brasil, é ilegal. Assim, tanto o traficante, como a pessoa que usa a droga estão sujeitos as sanções legais. O LSD pode ser detectado na urina do usuário até três dias após o consumo.
Colocadas todas estas informações, retornemos às nossas questões iniciais. Parece-me pouco provável que drogas caras sejam dadas de graça em porta de escolas e clubes (a lenda do “pipoqueiro traficante”). Há um grande mercado consumidor de drogas no Brasil, assim, acredito que as famílias devam estar muito atentas para estas questões em relação aos filhos. Mas, não entremos em pânico, que não resolve nada. Não crucifiquemos os vendedores de pipoca!!! A atenção dos pais e de toda a sociedade deve estar voltada para a prevenção; o diálogo franco e aberto com os filhos, não fugindo ao essencial papel de educação, não pode ser deixado de lado.
Principalmente durante a adolescência, é comum que as pessoas desejem ter muitas experiências, fato que muitas vezes leva ao consumo de drogas. Contudo, as drogas possuem diferentes efeitos. Não devemos “tapar o sol com a peneira”: a educação, a presença dos pais, o diálogo aberto são as melhores maneiras de evitarmos que os jovens venham a se envolver de forma séria com o consumo de drogas…
É bem verdade, que para facilitar o tráfico, o LSD poderia ser apresentado em forma de “figurinhas ou selos”, pois a quantidade de droga necessária para horas de efeitos é muito pequena, podendo ser concentrada, por exemplo, em um ponto de caneta, numa folha em branco! Assim, as figurinhas são formas “seguras” para os traficantes passarem a droga. Devemos estar atentos e aconselharmos as crianças com as antigas máximas: não aceitarem nada de estranhos na rua; não pegar balas de desconhecidos, etc… Assim, sem pânico, sem grandes preconceitos (já que todos nós possuímos uma boa dose deles), poderemos ampliar as discussões sobre o uso de drogas e seus efeitos, exercendo assim um importante papel nessa luta, que parece infindável, contra o uso indiscriminado de diversas substâncias, na busca de uma satisfação ilimitada, fato que, há pelo menos um século, como disse o fundador da Psicanálise, Dr. Freud, é impossível de ser alcançada…
Gostaria, ainda, de relembrar os direitos das crianças e dos adolescentes assegurados pelo Estatuto da Criança e Adolescente, Lei número: 8069, de 13 de Julho de 1990, que em seu artigo sétimo, garante às crianças e aos adolescentes direito a proteção à vida e à saúde. Já o artigo quarto, da mesma Lei, define os deveres das famílias, da comunidade e da sociedade em relação aos direitos das crianças e adolescentes tanto no tocante à saúde, como à educação, à cultura, à dignidade…
Sendo assim, é nosso papel e nossa obrigação zelar pela vida e pela saúde de jovens, garantindo-lhes segurança, no tangente aos riscos envolvidos ao uso de drogas e todas as suas conseqüências. Não deixemos de desempenhar as nossas obrigações enquanto pais, professores, enfim, enquanto responsáveis!!! Prevenção é necessária e fundamental, porém, sem pânico. O medo excessivo pode paralisar as pessoa, atrasando ações importantes em prol desta missão, que é tão morosa e difícil.
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