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As Aptidões de Nossos Filhos

Jornal Mundo Espírita – Fevereiro de 1999

Chegando ao limiar da idade adulta, frente ao nosso principal ritual de passagem (o vestibular, por enquanto; daqui a pouco, o “provão” do ensino médio), os jovens se angustiam, indecisos ante qual carreira iniciar, e recorrem, muitas vezes, à orientação dos pais. Estes, por sua vez, tentam orientá-los servindo-se dos recursos fornecidos pela educação que receberam, contaminada, quase sempre, por preconceitos diversos.

Nessa hora da verdade, nesse momento prático da vida, o que o Espiritismo teria para nos oferecer como subsídio para a formulação de uma opinião segura e a tomada de uma decisão correta?

Na questão 812 de O Livro dos Espíritos, estes nos dizem que “o verdadeiro bem-estar consiste em cada um empregar o seu tempo como lhe apraza e não na execução de trabalhos pelos quais nenhum gosto sente”. E completam: “Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. Em tudo existe o equilíbrio; o homem é quem o perturba”.

Mais adiante, na questão 928 do mesmo livro, quando Kardec trata da felicidade, volta ao assunto como que buscando uma reiteração, perguntando se as aptidões naturais seriam uma indicação de Deus quanto à nossa vocação neste mundo, e se o nosso mal-estar adviria de não seguirmos essa vocação. Os Espíritos são taxativos, e vão além: “Assim é, de fato, e muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, desviam seus filhos da senda que a natureza lhes traçou, comprometendo-lhes a felicidade, por efeito desse desvio. Serão responsabilizados”.

Ora, o que mais desejamos para nossos filhos é que eles encontrem o bem-estar e cheguem o mais perto possível do que julgamos ser a felicidade. Pois bem, parece que é nesse julgamento que nos perdemos. Costumamos, talvez pelos preconceitos de nossa própria educação, associar bem-estar com possibilidade de ganhos financeiros que nos permitam não só satisfazer necessidades básicas, como realizar desejos obscuros. Assim pensando, geralmente tentamos induzi-los a seguirem uma profissão rendosa.

Vamos tentar estabelecer uma gradação entre a maior e a menor felicidade (aliás, esta última, seria uma infelicidade). Qual seria o maior grau de felicidade neste mundo? Tudo indica que é fazer o que se gosta, e ainda por cima, ganhar dinheiro fazendo isso. Em segundo lugar, como uma felicidade um pouco menor, seria fazer o que se gosta, mesmo que isso não fosse lá muito rendoso, pois teríamos ao menos a satisfação pessoal ou a realização profissional. Numa terceira hipótese, se por qualquer razão seguimos a carreira errada, ou seja, exercemos uma profissão que não nos dá prazer, mas é rendosa, é possível que o dinheiro ganho nos permita uma vida tão agradável que atenue ou esconda o sofrimento causado pelo fato de não estarmos fazendo o que gostamos. Mas, o que a experiência da maioria das pessoas demonstra, e os espíritos diagnosticaram, é que o mal-estar, a infelicidade, o menor grau de felicidade, está em exercermos uma profissão na qual não sentimos prazer e, além disso, ou por causa disso, não ganhamos dinheiro.

Pelo exposto, a melhor forma de atuação dos pais e orientadores, segundo o Espiritismo, seria auxiliar o jovem a descobrir suas aptidões, e conseqüentemente seguir sua vocação, sem se deixar levar por preconceitos. Podemos assim, no futuro, ter um filho feliz e rico, ou, na pior das hipóteses, apenas feliz. Caso contrário, o risco de ter um filho infeliz e pobre, o que é a situação menos desejada, claro.

Porém, é possível que um jovem, mesmo bem orientado, e tentando identificar sinceramente suas aptidões, erre na escolha da profissão, principalmente levando-se em consideração a natural imaturidade no momento da escolha. Nesse caso, dois remédios se fazem necessários. Um, de ordem pessoal, é a coragem de recomeçar as coisas. Outro, de responsabilidade social, seria uma organização jurídica mais moderna e menos corporativista, menos subordinada ao medo e às reservas de mercados, que facilitasse a mudança de profissão, não exigindo adaptações além das necessárias.

Pois o desvio das vocações é um fator de prejuízo à economia social. E, para afirmar isso recorremos novamente a Kardec, em seu comentário no final da mesma questão 928:

“No afastarem-se os homens da sua esfera intelectual reside indubitavelmente uma das mais freqüentes causas de decepção. A inaptidão para a carreira abraçada constitui fonte inesgotável de reveses. Depois, o amor-próprio, sobrevindo a tudo isso, impede que o que fracassou recorra a uma profissão mais humilde e lhe mostra o suicídio como remédio para escapar ao que se lhe afigura humilhação. Se uma educação moral o houvesse colocado acima dos tolos preconceitos do orgulho, jamais se teria deixado apanhar desprevenido.”

(Jornal Mundo Espírita de Fevereiro de 1999)

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