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As Igrejas Reformadas no Brasil

As Igrejas Reformadas no Brasil

Atualmente no Brasil e no mundo, há uma grande variedade de Igrejas derivadas
do Cristianismo. Nesse artigo procuro mostrar como os principais grupos se desenvolveram
e porque seguem essa ou aquela doutrina. Possuindo esse conhecimento fica mais fácil
de entendermos o significado da conjuntura atual, e como nos posicionarmos perante
a diversidade de crenças. É interessante, dessa forma, iniciarmos o nosso estudo
buscando a fonte inicial, ou seja, os ensinamentos de Jesus, que apesar de nada
ter escrito, chegaram até nós os fragmentos das anotações de alguns de seus primeiros
seguidores contidos nos Evangelhos.

A Doutrina de Jesus

Todo o conteúdo do Novo Testamento, ou Evangelho, pode ser resumido em uma palavra:
Jesus. Jesus é o ser humano histórico que viveu na Palestina no tempo do imperador
Tibério e que morreu crucificado sob Pontius Pilatus; como “Salvador” expressa a
transcendência divina dessa pessoa que segundo a tradição, foi ressuscitada por
Deus, e elevada por seus seguidores à dignidade de Senhor do mundo e da história.
Embora o Novo Testamento tenha suas raízes na vida e morte de Jesus, ele foi em
grande parte criado pelas primitivas comunidades cristãs, que nele colocaram suas
próprias concepções e a idealização de seus interesses, projetando-os no passado,
na vida de seu protagonista.

A moral cristã está centrada em um núcleo de amor, ao redor do qual gravitam
virtudes essenciais que, se conseguidas, levam inevitavelmente à fraternidade e
à paz de espírito: ser humilde, perdoar as ofensas, e ser caridosos. Toda a moral
de Jesus, assim, se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes
contrárias ao egoísmo e ao orgulho. E não se limita a recomendar caridade; põe-na
claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura.

Àqueles que o ouviam, Jesus trouxe a mensagem de que o Reino de Deus estava próximo
e de que Ele próprio era o seu arauto. Ensinou que este mundo de pecado e aflições
em breve chegaria ao fim e que os filhos de Deus entrariam num novo reino de justiça
e paz, onde estariam na própria presença de Deus. A morte e a ressurreição de Jesus
pareceram a seus seguidores simbolizar a salvação dos homens e a transição para
a nova era de bem-aventurança.

O Catolicismo

A mensagem cristã surgiu entre os judeus, considerados bárbaros pela civilização
romana. E, apesar de choques e hostilidades, conseguiu firmar-se no Império. No
século III d.C. o Império Romano encontrava-se à beira da derrocada; suas fronteiras
estavam ameaçadas e os imperadores, sucedendo-se ininterruptamente, eram impotentes
para garantir a segurança das províncias. A aristocracia, ameaçada, começou a constituir
Estados independentes. A população sofria privações de todo tipo e praticava atos
de banditismo.

Assim é que, no ano 313, Constantino concede a liberdade religiosa aos cidadãos
do Império através do Edito de Milão. Segundo os relatos de Lactâncio e Eusébio,
esta atitude foi em conseqüência de uma visão. Já outros afirmam que o ato de Constantino
foi realizado por motivos predominantemente políticos. Em todo caso teve um significado
transcendental, pois, posteriormente, o cristianismo tornar-se-ia a religião oficial
do império no reinado do Imperador Teodósio.

A organização institucional da Igreja foi o resultado de uma evolução gradativa.
Os bispos eram considerados descendentes diretos dos Apóstolos. Várias vezes, durante
os conflitos disciplinares e doutrinários do fim do século II e no século III, os
bispos de Roma reivindicaram uma autoridade de arbítrio e quase toda a cristandade
ocidental se dispunha a aceitá-la. Continuamente a igreja de cristã de Roma (Igreja
Católica Apostólica Romana), foi se fortalecendo e dominando o poder
religioso até o século XVI de uma forma absoluta no mundo ocidental.

Duas secessões, ao longo desses vinte séculos, marcaram o desligamento de ramos
importantes, que vieram dividir a cristandade primitiva e constituir formas de civilização
até por vezes antagônicas, mas sem ferir a unidade original do tronco. A primeira
dessas secessões foi a bizantina, provocada pela separação entre Roma e Constantinopla,
devido a discussões irredutíveis em torno de problemas teológicos. Formou-se, assim,
a Igreja Ortodoxa. A segunda secessão foi a Reforma protestante, no século XVI,
que arrastou consigo a separação da Alemanha, da Inglaterra e mais tarde dos Estados
Unidos, na base da exaltação do livre exame individual das Escrituras sagradas contra
a autoridade e a tradição, invariavelmente afirmadas pela Igreja Romana, como cimento
da unidade cristã.

Os Dogmas

Dogma é o termo da religião cristã – especialmente do catolicismo – que designa
a afirmação de caráter doutrinário definida e transmitida pela igreja como revelação
de Deus. O dogma, portanto, representa uma verdade fundamental e imutável, dada
aos cristãos para crerem, como norma imposta por decreto. É vedado crer de outro
modo. Num sentido mais genérico, dogma é um ponto fundamental e indiscutível de
qualquer doutrina ou sistema.

As Igrejas chamadas protestantes e a Anglicana negam igualmente a infalibilidade
tanto do Papa como de todos os concílios, de modo que a formulação dogmática é,
teoricamente, um fenômeno vivo, porque está sempre submetida ao juízo de Cristo.

1 – A divindade de Jesus e a Santíssima Trindade

A divindade de Jesus foi proclamada pelo concílio de Nicéia , em 325,
nestes termos:

“A Igreja de Deus, católica e apostólica, anatematiza os que dizem que houve
um 
tempo em que o Filho não existia, ou que não existia antes de haver sido gerado.”

A conceituação mais recente da Trindade estabelece não que Deus seja uma pessoa,
mas uma natureza em três pessoas, das quais uma delas (Jesus) é uma pessoa divina
em duas naturezas – humana e divina. Dessa forma Deus seria “algo” que se manifesta
à humanidade sob três “formas” diferentes.

2 – O Pecado Original

Apresentado em seu aspecto dogmático, o pecado original, que aplica-se à toda
a posteridade de Adão, isto é, a Humanidade inteira, pela desobediência do primeiro
par, para depois salvá-la por meio de um a imolação de Jesus, apresentado como cordeiro
de Deus.

O pecado original é o dogma fundamental em que repousa todo o edifício dos dogmas
cristãos – idéia verdadeira, no fundo, mas falsa em sua forma e desnaturada pela
Igreja -, verdadeira, no sentido de que o homem sofre com a intuição que conserva
das faltas cometidas em suas vidas anteriores, e pelas conseqüências que acarretam
para ele.

3 – As Penas Eternas

A Igreja estabeleceu então que somente aqueles que seguissem a sua orientação
( “Fora da Igreja não há salvação”) podiam alcançar a vida futura no paraíso. Os
demais, em função do pecado original estariam condenados as penalidades eternas
em um terrível inferno. Em plena contradição com a infinita bondade de Deus, que
manda perdoar até mesmos os inimigos.

4 – A Ressurreição da Carne

Dogma segundo o qual os átomos do nosso corpo carnal, disseminados, dispersos
por mil novos corpos, devem reunir-se um dia, reconstituir nosso invólucro e figurar
no juízo final. Em desacordo com a ciência e o bom senso.

5 – A Infalibilidade Papal

Em 1870, através do Concílio Vaticano I, foi proclamada a infalibilidade do papa,
ou seja, qualquer semente de dúvida a respeito de doutrina cristã o papa daria a
última palavra, como se o papa fosse infalível, o detentor de toda a verdade, o
Senhor da Verdade absoluta.

Os Sacramentos

a) Batismo, o rito de iniciação do cristianismo, pelo qual a parte que
o indivíduo tinha no pecado original de Adão era lavada, tornando-o passível de
salvação. Esse rito era normalmente administrado à criança recém-nascida, enquanto
seus fiadores, chamados padrinhos, prometiam em seu nome que ela seria criada na
religião cristã.

b) A Confirmação era administrada à entrada na adolescência. Não era encarada
como essencial à salvação, mas considerada como dando ao indivíduo maior força moral
para encarar as vicissitudes morais da vida adulta.

c) A Penitência era o rito (habitualmente abrangendo confissão a um padre)
pelo qual o crente obtinha perdão dos sérios pecados que ele próprio cometera desde
que o batismo removera o pecado que herdara pelo nascimento.

d) A Eucaristia, ou Sagrada Comunhão, formava a parte central do maior
ritual público da Igreja, que era a celebração da Missa. Nesse sacramento, o pão
e o vinho consagrados transformavam-se miraculosamente no corpo e no sangue de Jesus
Cristo. Esse milagre chamava-se transubstanciação e a ação do padre ao realizá-lo
era encarada como uma reprodução da Última Ceia de Jesus e seus discípulos. Após
a transubstanciação, o padre consumia uma parte de seus elementos e distribuía parte
aos adoradores que quisessem participar da ceia. Não se exigia que o crente cristão
participasse dessa comunhão como pré-requisito necessário à sua salvação, mas esse
sacramento era considerado como dando-lhe forças à alma para salvar-se. Ele devia
assistir à Missa freqüentemente.

e) A Extrema Unção era o rito realizado para os que se achavam à beira
da morte, a fim de preparar sua alma para o outro mundo. No curso normal dos acontecimentos,
todos os cristãos passariam por esses cinco ritos, pelo menos uma vez na vida.

As Reformas Protestantes

No séc. XV no apogeu de domínio político-religioso, a “Igreja Católica”
tornara-se um governo civil como os outros, com secretarias, um corpo de funcionários,
diplomatas e técnicos de muitos ofícios. É uma época caracterizada pela mistura
de um misticismo doentio com os maiores desregramentos morais. Há um comércio desenfreado
de ossos de santos. Há pedaços de pão que sobraram da Ceia final de Jesus com seus
apóstolos, etc.

A Igreja Católica define e implanta as indulgências. Que são a “remissão de Deus
a uma punição temporal que ainda se deve, depois que a culpa foi perdoada”. Ou seja,
o culpado pleiteia o perdão e o consegue, mas não se livra da punição ou, como diríamos
em linguagem espírita, da reparação. Na prática o uso da indulgência degenerou completamente,
pois virou fonte de renda e fator de corrupção incontrolável

A Reforma protestante do séc. XVI originou-se no desejo de recuperar a vida e
a vitalidade da Igreja e do Novo Testamento, deformada, segundo os reformadores,
pelo poder temporal do papado, a imoralidade do clero e por desvios doutrinários.
Ao tempo de Martinho Lutero, monge agostiniano de origem humilde, o comércio das
indulgências era amplo, aberto, feito às claras e sem nenhum escrúpulo tornando-se
uma indigna mercantilização.

Lutero não tinha a intenção de fundar uma nova Igreja. Ele acreditava que, ao
retornar ao Evangelho, a Igreja (Católica) se reformaria por si própria. Mas as
divergências e interpretação das Escrituras e os movimentos extremistas conduzem-no
a algumas posições doutrinárias e a um mínimo de organização, iniciando a partir
daí um movimento independente que ficou conhecido como “protestante”.

Principais reivindicações de Lutero

a) Rejeita tudo aquilo que, na tradição da Igreja, contraria o primado das Escrituras
e da fé;

b) Rejeita aquilo que aparece como um meio, como uma pretensão do homem no sentido
de merecer sua salvação: o culto dos santos, as indulgências, os votos religiosos,
os sacramentos não atestados no Novo Testamento.

c) Tudo o que não é explicitamente afirmado nas Escrituras não possui valor.
A Bíblia era a única autoridade em matéria de religião;

d) Admite o sacerdócio universal dos fiéis, em contrapartida ao sacerdócio organizado
da Igreja Católica;

e) A Igreja, comunidade dos crentes, realidade invisível, não deve ser organizada
de uma maneira exterior nem tampouco possuir bens;

f) Consciente de ser radicalmente pecador, o homem descobre nas Escrituras que
a salvação chega a ele de Deus, em função unicamente da fé. Deus faz tudo, o homem
não faz nada. As boas obras não fazem o homem bom, mas o homem justificado por Deus
faz boas obras.

Essa doutrina esposada por Lutero feria o próprio coração do sistema sacerdotal
da Igreja. Se, de fato, a fé sozinha fosse suficiente para a salvação, então os
homens não necessitavam do ministério dos padres nem de tomar parte nos sacramentos.

Com o apoio de muitos líderes políticos e humanistas alemães, Lutero passou a
atacar ainda outros princípios e práticas da Igreja. Lutero organizou seus seguidores
numa nova Igreja, para tomar o lugar da antiga. Nessa organização, introduziu ele
certo número de inovações em matéria de práticas – principalmente, permitiu que
o clero se casasse. Quanto à eucaristia, contudo, entenderam os reformistas que
fora realmente instituída, porém, sob duas espécies, isto é, pão e vinho. Nada de
hóstia, portanto. Negou que a confirmação, o matrimônio, a extrema unção e a ordem
fossem sacramentos. Manteve os outros três dos sete sacramentos tradicionais: batismo,
penitência e eucaristia. Contudo, mudou o sentido de “penitência” para “arrependimento”
e alterou a explicação da miraculosa mudança do pão e do vinho na carne e no sangue
de Cristo, no rito comemorativo da Última ceia.

A teologia de Lutero concentra-se na doutrina paulina da justificação pela fé.
Com isso Lutero ressaltava a obra salvadora de Deus em Cristo sem qualquer reconhecimento
dos méritos das obras humanas. Vê o homem submerso em pecado, distanciado de Deus,
incapacitado de alcançar a salvação. Somente pela graça pode o homem aproximar-se
de Deus e ser salvo, não obstante o seu pecado. O homem se apropria dessa graça
através da fé e passa a viver o Evangelho com absoluta liberdade. A fé é um milagre
e como tal não pode ser entendida por nossos critérios racionais comuns. A justificação
pela fé significa que Deus aceita o pecador e não que o homem, ao ser aceito, deixe
de ser pecador. O que importa, logo se vê, é a atitude de Deus, a iniciativa que
Ele toma em Cristo em favor do homem. De uma forma geral manteve-se os dogmas católicos,
exceto evidentemente a “Infalibilidade papal”, que ainda não havia sido promulgada.

O rompimento de Martinho Lutero com o catolicismo romano não foi um fenômeno
isolado, mas uma de várias rebeliões religiosas que ocorreram mais ou menos ao mesmo
tempo em diversos lugares. O sucesso do luteranismo deu encorajamento às outras
rebeliões, mas estas bem poderiam ter-se verificado sem tal estímulo, pois a crítica
à antiga Igreja estava no ar, em toda a Europa católica. Duas das mais importantes
entre essas rebeliões, aconteceram na Suíça, primeiramente sob a liderança de Ulrico
Zwinglio (1484-1531) e, posteriormente, com João Calvino (1509-1564).

A Catequese Católica no Brasil

A Igreja Católica Romana fora abalada em seus fundamentos pela revolta iniciada
por Lutero, Zwínglio e Calvino. Essa catástrofe, que representava a perda da maior
parte da Europa Ocidental, induziu os líderes do catolicismo a fazerem um tríplice
esforço a fim de restituir à Igreja sua antiga posição de autoridade universal.
Esses esforços foram a realização do Concílio de Trento, onde os principais eclesiásticos
da Cristandade católica empreenderam a reafirmação da doutrina católica; A re-implantação
do tribunal eclesiástico chamado Inquisição, que fora o instrumento tradicional
para assinalar e extirpar a heresia; e finalmente a organização da ordem missionária
militante denominada Companhia de Jesus, os jesuítas.

Para o Brasil, que naquela época era colônia de Portugal, foram enviados os missionários
jesuítas como uma forma de garantir a hegemonia da fé católica nas novas terras
ainda não “contaminadas” pelas idéias protestantes. Dentre os mais importantes nomes
desse período podemos lembrar os nomes dos padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega
que realizaram um reconhecido trabalho de evangelização entre os índios e colonos
em geral. Essa ação, aliada às condições sociais e econômicas do Brasil garantiram
que mesmo após séculos a Igreja Católica Romana, mantivesse o predomínio sobre as
terras do Brasil e similarmente em toda a América latina.

O Protestantismo no Brasil

O protestantismo chegou ao Brasil trazido por imigrantes Europeus, principalmente
alemães, e se estabeleceram nos estados do sul. onde fundam, em 1824, a Igreja Evangélica
de Confissão Luterana do Brasil, quase 400 anos após o movimento original das reformas.
As igrejas do protestantismo de missão são instituídas no país na segunda metade
do século XIX, por missionários norte-americanos vindos principalmente do sul dos
Estados Unidos e por europeus. Em 1855, o escocês Robert Reid Kelley funda, no Rio
de Janeiro, a Igreja Congregacional do Brasil.

Atualmente as Igrejas Luteranas, Metodistas, Presbiterianos. Adventistas e Batistas
representam as correntes que mais se aproximam dos ideais da reforma. Porém conforme
a livre interpretação das escrituras, apresentam pequenas divergências doutrinarias
e de organização. Nas últimas décadas, com exceção da Batista, as igrejas protestantes
brasileiras ou estão estagnadas, apenas em crescimento vegetativo, ou em declínio.

O Pentecostalismo

Herdeiro do protestantismo, distingue-se dele em alguns pontos. Um dos principais
é a questão da contemporaneidade dos dons do Espírito Santo. Os integrantes do movimento
pentecostal, que nasceu nos Estados Unidos, em 1901, crêem que o Espírito Santo
continua a se manifestar nos dias de hoje, da mesma forma que em Pentecostes, na
narrativa do Novo Testamento (Atos 2). Nessa passagem, o Espírito Santo manifestou-se
aos apóstolos por meio de línguas de fogo e fez com que eles pudessem falar em outros
idiomas para serem entendidos pela multidão heterogênea que os ouvia. Para eles,
sobressaem os dons da glossolalia (o de falar línguas desconhecidas), da cura e
da profecia. Orientam seus seguidores para uma vida regrada evitando as “coisas
do mundo”, e até mesmo a forma de vestir-se.

O pentecostalismo chega ao país em 1910, com a fundação da Congregação Cristã
no Brasil, na cidade de São Paulo. Atualmente, existem centenas de igrejas, e as
principais, além da Congregação Cristã no Brasil, são: Assembléia de Deus; Evangelho
Quadrangular; Deus é Amor, dentre outras. A partir dessa época tanto no Brasil,
quanto na América Latina, passou-se a chamar pelo termo genérico “Evangélicos” todos
os cristãos-não-católicos com origem no protestantismo, apesar de nem sempre seguirem
os princípios originais da reforma.

Neo-Pentecostalismo

As igrejas dessa corrente pregam a Teologia da Prosperidade, pela qual o cristão
está destinado à prosperidade terrena, e rejeitam os tradicionais usos e costumes
pentecostais. A questão da “salvação” foi relegado a um plano secundário. As principais
igrejas são as que se instalam no país na segunda metade da década de 70 foram fundadas
por brasileiros. A Universal do Reino de Deus (Rio de Janeiro, 1977), a Internacional
da Graça de Deus (Rio de Janeiro, 1980), a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra
(Goiás e Distrito Federal, 1976) e a Renascer em Cristo (São Paulo, 1986) estão
entre as principais. Encabeçado pela Igreja Universal, o neo-pentecostalismo constitui
a vertente cristã que mais cresce.

A Teologia da Prosperidade ou Confissão Positiva teve sua origem na década
de 40 nos Estados Unidos, sendo reconhecida como doutrina na década de 70, quando
se difundiu pelo meio evangélico. Possuía um forte cunho de auto-ajuda e valorização
do indivíduo, agregando crenças sobre cura, prosperidade e poder da fé através da
confissão da “Palavra” em voz alta e “No Nome de Jesus” para recebimento das bênçãos
almejadas; por meio da Confissão Positiva, o cristão compreende que tem direito
a tudo de bom e de melhor que a vida pode oferecer: saúde perfeita, riqueza material,
poder para subjugar Satanás, uma vida plena de felicidade e sem problemas. Em contrapartida,
dele é esperado que não duvide minimamente do recebimento da bênção, pois isto acarretaria
em sua perda, bem como o triunfo do Diabo. A relação entre o fiel e Deus ocorre
pela reciprocidade, o cristão semeando através de dízimos e ofertas e Deus cumprindo
suas promessas.

Atualmente, segundo o sociólogo Ricardo Mariano, autor do livro Neopentecostais,
Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil (Editora Loyola), o neopentecostalismo
expande-se principalmente entre os mais pobres e os menos escolarizados da população.
No Brasil, o crescimento vertiginoso dos cristãos independentes está associado ao
uso intensivo da mídia eletrônica e ao método empresarial de funcionamento.

O Espiritismo

Os cristãos na sua esmagadora maioria não aceitam o espiritismo como sendo uma
vertente do Cristianismo. Argumentam que pouco o espiritismo tem a ver com o cristianismo
e segundo eles em alguns pontos são mesmo inconciliáveis, como no caso do
intercambio mediúnico e da reencarnação. Para muitos a convergência no aspecto moral
não é levada em conta.

Como vimos no presente estudo, o que conhecemos hoje como Cristianismo é a doutrina
da Igreja Católica e das suas derivadas que ao longo desses 2.000 anos acrescentaram
muitos pontos doutrinários aos ensinamentos de Jesus. Desse cristianismo “incrementado”
realmente o espiritismo diverge significantemente. O espiritismo rejeita de forma
clara e lógica todos os dogmas estabelecidos durante esse largo período de tempo,
procurando retornar ao ponto inicial dos ensinamentos de Jesus, e a partir daí introduzir
novos conceitos, de acordo com o nível de conhecimento humano dos tempos modernos
e esclarecendo pontos obscuros no evangelho que careciam de maiores entendimentos
devido a falta da chave filosófica apropriada.

De acordo com os seus princípios doutrinários, não faz sentido a discussão sobre
o tema da “salvação unicamente pela fé em Cristo” das Igrejas reformadas e muito
menos da teologia da prosperidade dos neo-petencostais. Introduz o novo conceito
de evolução espiritual, onde cada um é o responsável direto pelo seu próprio
crescimento, e ao mesmo tempo há uma co-responsabilidade pelo crescimento de todos,
a fraternidade universal.

CONCLUSÃO

A instituição Igreja Católica de uma forma Hegemônica cumpriu o seu papel na
condução da humanidade durante séculos. Podemos sem muito esforço reconhecer os
pontos positivos dessa condução, assim como os pontos negativos. Atualmente temos
uma diversificação até certo ponto exagerada de igrejas cristãs, mas convém observarmos
que aí também temos pontos positivos e negativos. Parece-me que a liberdade de cada
um escolher de acordo com o seu livre-arbítrio a qual corrente religiosa se afiliar
no presente momento, cobre qualquer ponto negativo que se apresente. Além do mais
nunca é demais lembrar que a providência divina, dirige a tudo e a todos, não permitindo
que injustiças sejam cometidas e providenciando para que cada um tenha o condutor
que merece, e principalmente que precisa.

Apontando alguns erros dessas agremiações ou desses sistemas estamos tão somente
mostrando os nossos próprios erros, uma vez que nós mesmos fomos no passado os seus
construtores. É fácil perceber que foi o espírito humano, conscientemente ou não,
o causador de todos os abusos, de todos os males que corromperam o pensamento cristalino
de Jesus. Através dessa exemplificação poderá o adepto espírita, conscientizar-se
do quão difícil e árdua foi a caminhada até aqui, e o quanto é importante que o
espiritismo mantenha a unidade de ação, mesmo que hajam pequenas discordâncias doutrinárias
e principalmente devido a divergências “políticas” ou pessoais.

Por outro lado não podemos incorrer no erro de em nome da unidade doutrinária
anatematizar aqueles que pensam diferente da maioria, lembrando que Allan Kardec
definiu o espiritismo como uma ciência, e portanto sujeito a correções e incorporação
de novos conhecimentos desde que devidamente comprovados. Isso certamente é o que
irá garantir a unidade da doutrina no longo prazo. O que atrapalha nossa caminhada
é a dificuldade em mantermos sob controle as nossas feras do orgulho e do egoísmo
demonstrando assim o quão pequenos ainda somos pequenos perante esse gigante que
chamamos Jesus.

07/05/2004