Auta de Souza
Uma figura pouco conhecida, apesar de muito citada no meio Espírita.
Vamos conhecê-la um pouco melhor?
Desde o século II depois da crucifixão de Jesus, a humanidade do Planeta Terra
estava estacionária, prevalecendo toda a sorte de interesses da minoria religiosa
dominante, mantendo-se a ferro e fogo a ignorância: verdadeiro período de trevas.
A partir do final do séc. XVIII (mais ou menos depois de 1790), os prepostos
do Alto decidiram que reencarnariam no Planeta emissários de todos os ramos do conhecimento
humano, a fim de imprimir um surto de desenvolvimento mais rápido e eficaz. Foi
assim que reencarnaram grandes vultos das ciências e das artes: na Biologia, na
Química, na Física, na Matemática, na Medicina, na Farmacopéia, na Arquitetura,
na Engenharia, na Pintura, na Escultura, na Literatura…
Grandes movimentos de liberação dos povos ocorreram pela intervenção do Alto:
em 1787, a Independência americana; em 1789, a Revolução Francesa; no Brasil: em
1789, a Inconfidência Mineira; em 1822, a Independência do Brasil, mais tarde em
1889, a proclamação da República.
Em termos de Filosofia e de Religião, surgiu na Europa (França) um movimento
novo – baseado em informações dos movimentos de Seres extra-corpóreos, denominados
Espíritos – liderado pelo Prof. Hyppolite Léon Denizard Rivail, depois cognominado
ALLAN KARDEC, constituindo verdadeira revolução do conhecimento humano; desse trabalho
derivou a edição de várias obras: Livro dos Espíritos (LE, abril 1857), Livro dos
Médiuns (LM, janeiro 1861), Evangelho Segundo o Espiritismo (ES, abril 1864), Céu
e Inferno (CI, agosto 1865), A Gênese (GEN, janeiro 1868) e Obras Póstumas (OP,
1890), representando as obras básicas da Codificação Espírita.
Esse movimento, no final do séc. XIX, atingiu em cheio o Brasil, onde também
haviam reencarnado vários luminares, em especial na literatura: tais como Castro
Alves, Olavo Bilac, Machado de Assis, Artur Azevedo, Bernardo da Costa Lopes, Guimarães
Passos ,Vicente de Carvalho. Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Gonçalves Dias,
Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire, José de
Alencar, Joaquim Manuel de Macedo e tantos outros.
Nesse contexto de desenvolvimento das letras nacionais, é que nasce em Macaíba,
RN, AUTA DE SOUZA, em 12 de setembro de 1876.
Breve trajetória:
Essa criatura, autora de uma única obra, desde pequena (única menina dentre 5
filhos) passou por uma vida de provações: com 3 anos, desencarna sua mãe; com 5
anos, desencarna seu pai; passa para a guarda dos avós maternos, que se transferem
para o Recife.
Tinha uma precocidade extraordinária: aos 7 (1883) anos já lia estórias para
crianças pobres e para escravos;
Em 1887, seu irmão Irineu morre queimado (daí parece que derivou seu pensamento
constante sobre a morte e sobre a infância em sua poesia);
Em 1888, é matriculada no Colégio S.V. de Paulo (Estância, Recife), onde recebe
educação primorosa, especialmente a religiosa, estudando até 1890 o Evangelho profundamente;
falava o francês fluentemente, daí pôde ter contato com a literatura da época (os
grandes mestres retro citados);
Sempre foi frágil fisicamente, até que em 1890 contrai a doença que a consumirá
até o final da vida; a partir daí, retorna para Macaíba, em razão do clima.
Com 17 anos de idade, em 1893, são publicadas suas primeiras poesias em jornais
locais e revistas.
No final de 1900 (portanto, com 23 anos), vê publicado seu primeiro e único livro,
denominado HORTO (nome da primeira das poesias que o enfeixa), prefaciado – nada
mais, nada menos! – por OLAVO BILAC.
Vale a pena ler esse prefácio.
Como vale a pena ir na abertura do livro do mesmo nome e sentir a ressonância
e leveza do poema HORTO.
Sua fixação pelos assuntos religiosos e pela morte valeram-lhe o designativo
de Maior Poetisa Mística do Brasil. É bom exemplo dessa sua faceta o poema Página
Triste.
Em verdadeira premonição dos seus últimos dias de vida, produz o poema que fecha
o livro: FIO PARTIDO. Sobressai desses versos a exata idéia de que deixaria logo
o corpo físico.
Efetivamente, em 07 de fevereiro de 1901, desencarna (em Natal-RN), aos verdes
24 anos de idade.
Em 1930, Francisco Cândido Xavier recebera uma poesia de uma jovem desencarnada:
N. SRA. DA AMARGURA (que consta na íntegra na pg. 29 do livro Auta de Souza, de
Clóvis Tavares e Stig Roland Ibsen).
Uma curiosidade a propósito do episódio da recepção da poetisa desencarnada pelo
Chico, que o Dr. Elias Barbosa relata na obra No Mundo de Chico Xavier, ao perguntar
ao médium se ele se recordava “de modo particular, alguma produção que ficasse inesquecível
em sua memória”, que respondeu: “Sim, recordo-me de um soneto intitulado “N. Sra.
Da Amargura”, que, se não me engano quanto à data, foi publicado pelo Almanaque
de Lembranças, de Lisboa, na sua edição de 1932. Eu estava em oração, certa noite,
quando se aproximou de mim o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz. Pediu
papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi. Chorou tanto ao escrevê-lo que
eu também comecei a chorar de emoção, sem saber, naquele momento, se meus olhos
eram os dela ou se os olhos dela eram os meus. Mais tarde, soube, por nosso caro
Emmanuel, que se tratava de Auta de Souza, a admirável poetisa do Rio Grande do
Norte.”
Vale a pena também ler esse poema de indescritível beleza da poetisa já desencarnada.
A partir daí, com a edição do Livro PARNASO DE ALÉM TÚMULO, em 1931, há uma vasta
produção mediúnica passada por AUTA DE SOUZA para o médium: 89 poesias e 27 trovas.
No plano dos homens tarefeiros da Seara Espírita, ela também aparece: Em 1950,
NIMPHO DE PAULA CORRÊA (do C. E. Discípulos de Jesus, de Campo Grande-MS) participava
da Campanha do Quilo; em 1952, transfere-se para São Paulo e freqüenta a FEESP,
ombreando com o Sr. José Gonçalves Pereira na assistência social, sendo criada a
CAMPANHA DA FRATERNIDADE; de Pedro Leopoldo vieram comunicações de apoio da espiritualidade,
em especial de AUTA DE SOUZA – Nesse sentido o poema MIGALHA. E outras poesias de
incentivo: ESCUTA, BENDITA SEJAS, DIVIDE, ORAÇÃO DE HOJE, PENSA, SUBLIME ENCONTRO,
AOS CARAVANEIROS DO BEM.
Decidiu-se, assim, que a campanha passaria a chamar-se CAMPANHA DE FRATERNIDADE
AUTA DE SOUZA, com os seguintes objetivos: Divulgar a Doutrina Espírita, Arrecadar
Donativos e Praticar e oportunizar a Caridade. Eis aí, amigos e estudiosos espíritas,
um ligeiro escorço sobre essa personalidade tão marcante.
(base: Palestra feita no C. E. Irmão X, Ferraz de Vasconcelos)
maio, 2002.