Caráter Revelador
Espiritismo está didaticamente apresentado, sugerindo estudar
As informações trazidas pela Revelação Espírita abriram caminhos e perspectivas
novas para a longa e difícil evolução humana. Ocorre que a clareza e lógica dessas
informações possibilitaram novo entendimento das razões de nascer, viver e mesmo
dos “porquês” dos desafios enfrentados por todos os seres humanos encarnados no
planeta.
A simples aceitação, através do raciocínio, da imortalidade, da reencarnação
e da comunicabilidade dos espíritos, muda totalmente a visão que se passa a ter
das finalidades e utilidade da presente existência, em cada criatura. Pensar que
a evolução é contínua, um sistema permanente de aprendizado, e sempre visando a
felicidade dos filhos de Deus, convoca-nos a todos a uma postura ativa de trabalho
no bem próprio e para o próximo, considerando que esta única condição (de mesma
origem como filhos do mesmo Pai, como outrora também ensinou Jesus) já indica os
caminhos da solidariedade.
Pois bem, é exatamente este caminho de solidariedade, pelo qual se deixam tocar
os espíritos que já alcançaram estágios mais avançados de evolução, que faz com
que gradativamente despertemos para o auxílio mútuo permanente. E esse despertamento
movimentou os espíritos reveladores (obedecendo a um planejamento divino), situados
em estágios superiores aos vigentes no planeta, a apresentarem a Revelação Espírita.
E como uma disciplina escolar, trouxeram-na didaticamente para ser estudada e compreendida.
Na verdade, eles comparecem como professores experientes, como mestres a ensinar
um caminho a percorrer, para facilitar o processo evolutivo. Isto levou o Codificador
Allan Kardec a elaborar argumentos e reflexões importantes para o entendimento da
proposta espírita.
Na Revista Espírita (1), de setembro de 1867 – ano X, vol. 9 -, ao apresentar
o trabalho Caracteres da Revelação Espírita (também apresentado no capítulo
I da obra A Gênese), o Codificador – usando o método de partir do conhecido para
o desconhecido, como fez em toda sua obra, leva o leitor e estudioso da Doutrina
Espírita a percorrer os caminhos do raciocínio para concluir sobre o caráter revelador
do Espiritismo. Indaga no item 4: “Qual o papel do professor perante os alunos,
senão a de um revelador? Ele lhes ensina o que não sabem, o que nem teriam tempo
nem possibilidade de descobrir por si mesmos (…) e pondera no item seguinte,
de número 5: Mas o professor só ensina o que aprendeu. É um revelador de segunda
ordem. (…)” Já no item 13 declara que “Por sua natureza, a revelação tem
um duplo caráter: participa, ao mesmo tempo, da revelação divina e da revelação
científica (…)”
E esta última frase tem um sentido extraordinário, aliás, como tudo na Codificação
Espírita. Relacionando a correlação entre a revelação divina (vinda em todos os
tempos através dos espíritos) e revelação científica (esta de conquista material,
mas também amparada pelos espíritos), fica patente o papel mútuo que desempenham
os espíritos, estejam encarnados ou na condição de espíritos vivendo no mundo espiritual,
no progresso do planeta. Há uma permanente relação entre os dois planos e os movimentos
de ambos os lados da vida levam a um objetivo só: a evolução.
Por isso os espíritos que trouxeram a Revelação Espírita apresentam-se mesmo
como professores. E nós somos alunos que precisam estudar para aprender e entender.
Por outro lado, os espíritos ainda em dificuldades, que se apresentam em reuniões
mediúnicas, não deixam também de serem professores, ao trazerem as próprias experiências
dos resultados das próprias ações que encontraram após a desencarnação.
Algo para pensar, afinal somos todos espíritos.
(1) Edição da Edicel, tradução de Júlio Abreu Filho
Artigo publicado originariamente no jornal O CLARIM de setembro de 2003.