“Só quem desceu ao vale mais profundo, sabe o quão é magnífico subir a montanha mais alta”. Roosevelt
Esta frase tem um significado singular em minha vida, como para muitas outras pessoas que se firmam no Caminho e na Graça com unhas e dentes!, diz uma internauta, trazendo para nosso Universo sua voz plena de musicalidade e poesia. E eu cá me vejo a ouvir este fado, que toca as cordas da minha alma.
“Eu continuo a subir a montanha, contudo, quando penso que já passei de uma mínima elevação, olho para trás e vejo que mal saí do sopé – chega a ser desesperante e desolador… aí, choro mesmo!!!”.
É comum acontecer isso por aqui. Com determinação a pessoa faz o Projeto Mutação, realiza transformações, obtêm êxitos, mas de repente, vem uma recaída ou outro obstáculo e o apelo surge novamente: por que eu? E porque não consigo me manter nesse caminho?
É a força do passado e as vozes da fragilidade que ressoam insistentes no fundo de sua alma. E é preciso calar esse monstro que ameaça sua integridade. Nada melhor do que alimentar com mais qualidade e persistência o seu Eu Superior.
Abramo Rangel, com uma perspicácia extraordinária descobriu na história de Chapeuzinho Vermelho, a presença da avó, como sendo o nosso Eu Superior. E configura, numa interpretação belíssima a caminhada da menina, por entre a floresta, ameaçada pelo Lobo Mau, como a atitude divina que a faz alimentar essa criatura que simboliza a sua espiritualidade, o seu Eu Superior.
Esta minha amiga se apresenta como a menina da história. Ela, como tantas outras criaturas, está diante do Lobo Mau, dos pensamentos doentios ou da vontade imensa de voltar para o marido que se foi, sem deixar vestígios, do namorado que a abandonou; do dinheiro que hoje falta na conta bancária, etc e tal.
Luta contra essa insanidade e sabe que nas cercanias da casa da vovó (sua alma), a espreita, estarão sempre os caçadores da floresta, que ouvirão seus gritos e de pronto a socorrerão, libertando-a e também a vovó das garras do Lobo Mau, ou seja dos instintos destruidores que ameaçam a sua integridade.
Minha amiga recobra suas forças e solta seu canto esperançoso, a dizer: “aquilo porque me caíam as lágrimas antigamente, deixou de ter qualquer importância e peso. Hoje choro, por exemplo, quando vejo imagens do Rio de Janeiro – pois não conheço o Brasil – parece saudade nem eu sei do que… – talvez eu retenha na lembrança o mundo que deixei noutra vida… quem sabe?
Ela está transitando da dor própria, de seus medos e ansiedades para abranger com suas novas energias e sonhos a humanidade, uma cidade consumida pela violência, quase ameaçada de perder a maiúscula beleza de suas águas e montanhas. E o povo na ânsia louca de destruir o Lobo Mau, realiza campanhas para eleger o Cristo Redentor, para transformar essa imagem, num anjo vivo que abre suas asas para acolher a comunidade toda, alimentando nela a fé e a esperança em dias melhores.
E este novo jeito de ser, dessa internauta, como de tantas criaturas que vencem o medo da dor e da solidão, acende luzes em sua alma, fazendo com que ela vislumbre, mesmo que num relance, uma vida diferente, guardada nos recessos de sua alma.
As grandes dores, como as graves atitudes transformadoras (conversões) abrem clareiras na floresta de nosso Universo mental, desvendando segredos de nosso ser imortal. E surgem insights, flachs, imagens que se transformam em alavancas poderosas a nos impulsionar para a superação. Tornamo-nos, seres invencíveis.
Ela me confidencia uma atitude muito intrigante. “Escrevo e-mails para Deus, Wilson. E eu fico a pensar o que será que é isso?
Ela responde: “Escrevo qualquer endereço que inventei e por isso mesmo chegam devolvidos…mas eu sei que ELE os lê”. Os incrédulos de plantão dirão, mas que banalidade…
Pois é, essa banalidade se assemelha a alguns processos que realizo com ótimos resultados, quando incentivo as criaturas a escreveram cartas para Deus, contando seus anseios e dores; cartas para alguém que amamos e que não sabemos onde está; cartas para o desconhecido… E essas atitudes reascendem a esperança e criam a coragem de viver.
Na Penitenciária do Estado, quando estive lá, realizando ações de apoio espiritual, como nos Sanatórios que abrigam hansenianos, onde atuei nas atividades da Comunidade Jésus Gonçalves, os doentes e encarcerados escreviam cartas… E a cada dia que passava, as cartas se transformavam. As primeiras, traziam revolta, medo e rancor. Com o passar do tempo, a densidade ia diminuindo, surgiam pequenas palavras de esperança e depois os lápis escreviam poemas de gratidão e apelo, alguns se transformando em livros e em atitudes de renovação que restauravam aquelas almas, para a reinclusão na sociedade ou para o trânsito para a nova vida, a espiritual, sem medo e dor.
Olha, Wilson, numa sexta-feira Santa, nasceram em minha casa amores perfeitos. Eram cinco de cor vermelha ao que exclamei baixinho: Olha que lindos… parecem simbolizar as chagas de Cristo… De imediato, a voz silenciosa dentro de mim, não se fez esperar e repetiu: “cinco amores-perfeitos, de um Amor Mais-Que-Perfeito”! – e repetiu: – “de um AMOR-MAIS-QUE PERFEITO!”
Quem sabe, esta voz que sopra advertências e caminhos no ouvido dela esteja certa. Talvez seja este o caminho, trabalhar em nossas atitudes, o amor-mais-que-perfeito.
Autor: Wilson Francisco