Dirigentes sem preparo – Centros sem estrutura
(trabalho apresentado no 12.º Congresso Estadual de Espiritismo, realizado
pela USE – União das Sociedades Espíritas, em Campinas-SP, no período de 17 a 20
de abril de 2003, no módulo UNIFICAÇÃO)
A ausência do conhecimento doutrinário, a falta de vivência ou preparo nas áreas
de administração e relacionamento humano, têm sido causa dos equívocos dos dirigentes
e que repercutem nos Centros Espíritas. Alçados à gestão de uma instituição, causam
enorme prejuízo na correta expansão do pensamento espírita e na preparação de trabalhadores
e continuadores, muitas vezes causando decepções e afastamentos de valorosos tarefeiros
em potencial. Os prejuízos estendem-se também nos benefícios morais e intelectuais
que podem ser espalhados em favor da coletividade.
Como conseqüência direta de lideranças despreparadas, os grupos desestruturam-se
ou já são formados sem o mínimo de estrutura, improvisados, com evidentes desvios
da finalidade principal dos centros espíritas.
Dirigentes devem preparar-se para uma administração eficiente, com visão de futuro,
planejamento de atividades, motivação ao grupo e total embasamento doutrinário.
Esta consciência formará adeptos conscientes e esclarecidos e adequará os grupos
espíritas para bem cumprirem seus objetivos, pois que com integração interna bem
estruturada e motivada, teremos instituições bem preparadas. Vale lembrar que as
instituições refletem o conhecimento de seus dirigentes e integrantes.
A qualidade dos serviços oferecidos devem primar pela clareza, ética, objetividade
e fidelidade aos princípios espíritas. Isto solicita permanente reciclagem dos tarefeiros
e constante reavaliação, acompanhamento das atividades.
Há um quesito fundamental para se alcançar tudo isso: participação. Somente os
que participam, não se isolam, é que alcançam o referencial de auto-análise. Na
verdade, percebe-se com clareza as vantagens da unificação, com dirigentes preparados
e centros bem estruturados, pois o intercâmbio de idéias também qualifica, ainda
que não completamente.
A situação de despreparo e desestrutura sugerem que há dificuldades para a vivência
do espiritismo prático1 (não restrito à prática mediúnica, mas
englobando também a própria vivência da Doutrina Espírita).
O que fazer?
Naturalmente que um caminho imediato para as dificuldades apresentadas é o diálogo
entre os integrantes do grupo, buscando-se soluções. Para tanto, pode-se pensar
na implantação de uma Oficina de Idéias, que organiza com adequação à própria
realidade. Trata-se de recurso onde todos os participantes apresentam sugestões
para superar um problema específico, por exemplo. Apresenta-se uma dificuldade e
colhe-se as sugestões de superação.
Outro caminho é integrar o grupo ao movimento dos demais grupos. O intercâmbio
entre grupos constitui poderosa ferramenta de superação de dificuldades, de vez
que a troca de experiências fortalece os relacionamentos e cria referenciais de
auto-análise e observação mútua para todos os envolvidos. E tudo isto sem qualquer
imposição ou posturas fiscalizadoras.
Neste ponto já podemos analisar a questão da qualidade, que é resultante da soma
de pessoas, percepções e processos, considerando-se as diferenças individuais
das pessoas (particularidades, personalidade, caráter, temperamento, antecedentes,
etc), a experiência viva de cada um que altera as percepções (maneira de enxergar
e entender) e os processos (meios) pelas quais as coisas se desenvolvem,
tendo por base a ação humana. Ora, o foco da qualidade é o ser humano. As atividades
humanas, inclusive aquelas inspiradas pelo ideal espírita, devem primar pelo bom
atendimento das aspirações éticas da sociedade. E isto inclui o preparo do dirigente
espírita, tanto quanto o preparo e estrutura das instituições espíritas que dirigem.
E como a Doutrina Espírita baseia-se na lógica, no bom senso e no amor, o afeto
é a base que deve nortear a organização e o relacionamento numa instituição inspiradas
pelas bases do Espiritismo.
A proposta que se busca, pois, para vencer as dificuldades existentes, pode ser
resumida em três itens:
a) Humanização do Centro Espírita;
b) Participação (interna e externa), que produz vivência e experiência;
c) Permanente atualização de conhecimentos e vivência
Os itens são claros. Humanizar significa trazer para o cotidiano das atividades
o sentido do afeto, da amizade entre os integrantes. Participar torna-se meio indispensável
para formação de um referencial que se torna o norteamento para condução planejada,
produzindo experiência. O motivo principal, no entanto, da presente matéria, está
no último item. A permanente atualização de conhecimentos e vivência é questão vital
para que sejamos ou tenhamos dirigentes preparados em instituições estruturadas,
ao contrário da realidade muitas vezes apresentadas de despreparo ou desestrutura.
Esta atualização é sinônimo de reciclagem, de capacitação. O assunto é tão importante
que o próprio Conselho Federativo Nacional, da Federação Espírita Brasileira, está
promovendo treinamento de multiplicadores para atuarem no projeto “Capacitação
Administrativa de Dirigentes de Casas Espíritas”.
O projeto, com cronograma para todo o País, inclui treinamentos e cursos e o
objetivo é orientar sobre questões quanto à sobrevivência das instituições (recursos
financeiros), acompanhamento efetivo das tarefas desenvolvidas (considerando as
alterações da vida social e o próprio progresso humano) e atendimento às exigências
legais e fiscais (inclusive em face do novo Código Civil e ainda considerando a
independência e autonomia das instituições).
1- Vide matéria publicada em Reformador de junho de 2003 com o título Das dificuldades
do Espiritismo prático, páginas 22 a 24.
Matéria publicada originariamente no jornal Verdade e Luz, de Rib. Preto, edição
de julho/04.