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Chamamento ao amor

“(…) E à ciência temperança, e à temperança paciência e à paciência
piedade” – Pedro (II Pedro, 1:6)

Vejamos inicialmente o significado das palavras citadas: “ciência” é
conhecimento; “temperança” significa sobriedade, parcimônia; qualidade ou
virtude de quem é moderado ou de quem modera apetites e paixões; “paciência” é a
qualidade de quem suporta males ou incômodos, sem se queixar. Insistência
tranqüila em trabalho difícil e longo. E “piedade” é o sentimento despertado
pelos sofrimentos alheios e que nos leva a mitigá-los ou a desejar remediá-los.

Temos, então, que é importante a busca da ciência, isto é aprender sempre,
instruir-nos, abrilhantar o pensamento, aprender a nos expressar, saber analisar
situações, buscar a verdade. Não podemos prescindir de usar as faculdades com as
quais o Pai nos dotou, como: razão, inteligência, livre-arbítrio. É
desenvolvendo essas faculdades e amadurecendo o senso moral que evoluímos.

Entretanto, como lembra Emmanuel (lição 121 de “Palavras de Vida Eterna”),
não ficarmos só na cultura em sentido único. Para a evolução espiritual são
necessárias as duas asas: sabedoria e amor; inteligência e sentimento; teoria e
prática. Pedro, sabiamente, já advertia que não bastava ficar na ciência, ou
seja, só no conhecimento. Necessário juntar ao saber a piedade, o amor. Juntar
ao conhecimento a sobriedade, moderar apetites e paixões. Saber suportar as
dificuldades sem se queixar, procurando mitigar, ou remediar, os sofrimentos do
próximo. Hoje diríamos: não basta conhecer, é preciso fazer. Não só desenvolver
a inteligência, mas praticar a caridade, amor em ação em favor do próximo.

Conhecer, não há dúvida, é de capital importância. Alguém já disse que todos
os males vêm da ignorância. Mas o conhecimento sem o amor é incompleto; diríamos
ser um saber pela metade. Aquele que só cultiva a inteligência, desconhece
talvez a parte mais importante da verdadeira sabedoria. A própria diplomacia,
como lembra Emmanuel (lição citada), “sempre venerável, embora resida nos cimos
da suavidade e da tolerância, pelos gestos de sobriedade e cortesia com que se
manifesta, em muitos casos não é senão a arte de contemporizar com o rancor
existente entre as nações, segurando, calma, o estopim do ódio e da belicosidade
para a respectiva explosão, na época que julga oportuna a calamitosas
conflagrações”.

E assim como ocorre entre nações, há também a diplomacia das pessoas. Aqueles
que são de trato agradável, gentis, porém por conveniência. Apenas para obter
melhores resultados em suas relações. Seja com interesse comercial, ou
interesses outros, às vezes, se faz uso da gentileza, da “diplomacia” para se
conseguir melhores resultados. Nesses casos não há piedade, nem amor. O que há é
interesse; não se respeita o outro, mas se usa o outro para obter vantagens.

No setor do conhecimento, da ciência, temos realizado grande progresso, mas,
no que tange ao amor, à fraternidade, à solidariedade, não temos logrado o mesmo
resultado. Não temos dado à asa do amor a mesma atenção que damos à do
conhecimento. E aquela é tão importante quanto esta, pois só com uma asa não se
realiza o vôo para o mais alto.

Para agir corretamente é preciso saber; quando sabemos, com firmeza, o
caminho; quando temos convicção, temos mais forças para buscar o objetivo
desejado. Porém não devemos ficar só na teoria, buscando sempre saber mais, sem
experimentar, sem praticar o que se aprendeu. Por comodismo, por egoísmo, devido
ao nosso pequeno grau evolutivo, temos permanecido mais na teoria. Ensinamos
para os outros, o que julgamos bom, mas pouco praticamos. Esquecemo-nos de que o
melhor fator de convencimento é o exemplo. Se sabemos o caminho é imprescindível
nos dispormos a realizar o trajeto, mesmo porque, há detalhes da estrada, que só
vão clareando quando nos aproximamos deles, à medida que avançamos. Em Doutrina
Espírita que revive e restaura o Cristianismo, a ação é fundamental. Ouvimos um
expositor tratar do assunto, citando como exemplo, um banho de rio. Se não
sabemos o que seja um banho de rio, podemos obter informações, fazer pesquisas,
sobre os mais variados aspectos do que seja um banho de rio. Mas não temos a
experiência; na verdade não sabemos exatamente o que seja tal banho. Quando
entramos no rio, tomamos ali o banho, aí sem, sabemos por experiência própria o
que seja um banho de rio. Assim a experiência religiosa, a vivência do amor. Só
sabe verdadeiramente o que ela seja, aquele que a vivencia. O referido expositor
foi mais além, afirmando: Às vezes uma parada cardíaca, a morte iminente, vale
mais para o reposicionamento da pessoa, para mudar o modo de proceder, do que
dezenas de anos de estudos, teoria sem prática. Necessário sair do discurso, da
simples teoria, e partir para a aplicação, para a experiência. Aí é que se
constata se, realmente, o ideal funciona. “Não vale a ciência sem temperança e
toda temperança pede paciência para ser proveitosa, mas para que esse trio de
forças se levante no campo da alma, descerrando-lhe o suspirado acesso aos
mundos superiores, é necessário que o amor esteja presente, a enobrecer-lhes o
impulso, de vez que só amor dispõe de luz bastante para clarear o presente e
santificar o porvir” 1

1 – Emmanuel, em “Palavras de Vida Eterna”, lição n.° 121.

(Jornal Verdade e Luz Nº 173 de Junho de 2000)

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