Chico Xavier – O Homem Senciente
Jesus, com sua vivência, toda ela convidando o homem à mudança comportamental
(não é dente por dente, mas responder o mal com o bem; não é amar somente aos
que nos amam, mas também aos inimigos) não seria aceito hoje, apesar do
Cristianismo encontrar-se conosco há dois milênios.
Nos dias atuais vige, nos corações de tantos a lei de Moisés, ouvindo-se que
o criminoso deve morrer, e a pena de morte, bandeira desfraldada por mentes
ignorantes, tremula nas mãos de quem deseja usufruir proveitos pessoais,
tentando a sua legalização em nossos tribunais. Não cremos nessa possibilidade,
o Brasil saberá repudiar essa aberração mascarada de justiçamento.
O Novo Homem que surge, delineado por Jesus, encontrou em Chico Xavier sua
expressão. Chico é a veste desse Novo Homem, ele (Chico) que é todo Psi, todo
Senciente. O Novo Homem não se pertence, está de tal forma “coletivizado” à
sociedade humana, sem perder a sua individualidade, que marcha em nosso meio
consumindo suas melhores energias em prol da felicidade dela (sociedade),
energias que lhes serão restituídas, pelos naturais mecanismos da Lei de Deus,
em formas de bênçãos e paz no Mundo Espiritual.
Quanto mais o Chico se aproxima de seu final terreno glorioso, mais a sua
imagem cresce nos corações dos que dele se aproximaram, direta ou
indiretamente.
Apesar de ter vivido cercado pela multidão, Chico é um solitário, porque
todos que AMAM sentem-se sozinhos nesse nosso mundo, pelo fato de se mostrarem
diferentes, verdadeiros alienígenas morais/espirituais, levando vidas felizes,
mesmo enfrentando dores, mas sempre distantes dos prazeres, gozos e diversões
preconizados pelo mundo.
Certo dia, ao se despedir de um amigo que lhe havia visitado, disse, no
portão: “Vai meu filho, e fecha a porta do meu cárcere…” Bastar-nos-ia
analisar essas palavras, emitidas na névoa do desabafo, para compreendermos a
sua solidão. Jesus, aliás, manifestou-se bem próximos de um autêntico desabafo,
ao se referir a pouca fé de seus discípulos: “Oh geração incrédula e perversa!
Até quando estarei convosco, e vos sofrerei?” (Lucas 9:41). Dr. Elias Barbosa
submeteu o Chico a um eletroencefalograma, tendo acusado seu estado de transe,
singulares alterações, as quais nada tinham de patológicas, apenas comprovaram
as experiências de Ernesto Bozzano, célebre pesquisador italiano; “as alterações
de ordem cerebral eram reações naturais, oriundas da influência de uma mente
desencarnada sobre a mente de um encarnado”.
A sensibilidade psíquica de vidência do Chico foi tão acionada, fazia-o ver
tantos espíritos tantas vezes, que ele terminou por se acostumar, cônscio de
ser-lhe impossível subtrair-se àquelas visões. “Elas fazem parte de minha vida,
tenho que acostumar-me com elas”, pensou e assim vai vivendo.
Diz a sensibilidade afetiva do Chico: “Quem ama tem sempre calor humano para
distribuir”.
Um quadro de pintura mediúnica intitulado “Flores”, autoria de Van Gogh
espírito, era tão formoso e delicado, que recebeu do Chico esta confissão:
“Sempre que vejo certas flores espirituais, o miosótis por exemplo, sinto as
vibrações que emitem e não posso conter as lágrimas”.
Dr. Nadir era seu oftalmologista, residente em S. Paulo. Informalmente Chico
o visita quando de passagem por S. Paulo. Indagado se realmente via espíritos,
ainda mais com aquela deficiência visual, respondeu o Chico que sim. Além do
mais sua visão era espiritual. Então – indagou o Dr. Nadir -, diga-me se vê
algum espírito agora no consultório”. Chico já havia percebido um espírito no
ambiente. Inclusive dera-lhe seu nome, mais o Chico recalcitrou pela
singularidade da denominação. Podia ser algum espírito querendo zombar dele. Por
fim resolveu revelar: – “Ele está aqui e diz chamar Senobelino Serra, natural de
S. José do Rio Preto. “É Dr. Senobelino Serra” – enfatizou o Chico. O Dr. Nadir,
entre surpreso e admirado exclamou: “Ah, Chico! Dr. Senobelino Serra foi meu
professor e amigo”. O Chico então completou: – “Ele afirma que lhe auxilia,
junto a outros espíritos médicos, nas suas atividades, porque você ajuda muita
gente aqui no consultório”. Visivelmente emocionado Dr. Nadir não conseguiu
dizer mais nada.
Uns amigos levaram o Chico, mesmo a contragosto deste, a uma pescaria. Depois
de horas acocorado no barranco do rio, não conseguira fisgar nenhum peixe,
enquanto os demais enchiam suas cestas. Ante a curiosidade dos companheiros,
Chico explicou que não tinha colocado isca no anzol, “porque não queria
incomodar os peixinhos”.
As evidências são muitas de estarmos convivendo contemporaneamente com um
espírito que venceu o mundo, que não é desse mundo, porque pertence ao
verdadeiro, o Espiritual. Apenas os seus pés têm contato com a Terra, porque ele
Espírito vive na Realidade Espiritual. Que Deus o abençoe!
(Jornal Correio Fraterno – Maio/1999)